Desde o início esse filme estava fadado a ser, de alguma forma, bom. Um urso que cheirou cocaína?! Impossível errarem (podem entrar, fãs de um bom trash engraçado). Porém, estávamos todos errados: O Urso do Pó Branco é muito melhor do qualquer coisa que tenhamos imaginado. Com uma direção segura, um elenco bom e um roteiro bem estruturado, o longa diverte e choca ao mesmo tempo, nos fazendo engolir a trama de bom grado, naquele tom de comédia absurda que é tão difícil conseguirem manter do começo ao fim. Elizabeth Banks acertou aqui, e acertou bonito demais!
A história é bem simples, mas difícil de explicar, pois possui diversos núcleos que vão se afunilando à medida que a trama progride. Temos as crianças que só queriam ir ver uma cachoeira, mas acabam esbarrando no urso, temos os traficantes que precisam recuperar desesperadamente a cocaína, o detetive que está investigando o causo, entre outros, sejam efêmeros ou não. A princípio achei que o filme iria se perder rapidamente por apresentar tantos personagens, mas o roteiro consegue, desde o começo, trabalhar esses vários núcleos de forma muito boa, mostrando aos poucos quem é cada um: suas personalidades são mostradas e não faladas, não há excesso de exposição, e todas as explicações que aparecem tem uma função narrativa, não são jogadas.
A trama principal acontece toda dentro de um parque florestal, onde o urso mora no local que teve o azar de receber acidentalmente bolsas de cocaína vindas do céu. O bicho não é nem besta e acaba usando doses cavalares do pó, o que o transforma em uma besta primitiva que só pensa em matar – talvez para extravasar a hiperatividade causada pelo produto (não sei como cocaína funciona de verdade gente, desculpa). Em momento algum a história se leva a sério, sabendo perfeitamente o absurdo que é, com várias reviravoltas muito engraçadas. Há um certo tom de suspense no ar em algumas ocasiões que só complementam ainda mais o fator diversão.
Em O Urso do Pó Branco a violência é um pouco suavizada – no sentido de esconder as piores partes -, ao mesmo tempo em que é gráfica o suficiente para nos pôr, em algumas cenas, em alerta, temendo pela vida de algum personagem. Aliás, o filme faz questão de nos deixar desconfortáveis em um sentido de não sabermos quem está realmente seguro ou não, pois o direcionamento das mortes parece independer de quem está em cena. O único protagonista desse filme é o urso, e nem mesmo ele sabemos se vai ficar vivo até o final. Falando nisso, achei que o ponto de vista desse longa não cria um medo absurdo das pessoas por ursos, incluindo um guarda-florestal que diz com todas as letras que o comportamento da criatura é completamente fora da curva e parece advir exclusivamente do efeito da droga, pois ursos não simplesmente atacam as pessoas. Não é história de monstro, como fizeram com Tubarão, por exemplo, e é algo que faz com que a graça fique ali no fato do urso estar agindo feito doido por estar sob o efeito de cocaína – caso contrário, nada daquilo aconteceria (saiba mais sobre o subgênero eco-horror aqui). No máximo uma propaganda anti-drogas, do tipo “não consuma drogas, você pode ser morto por um urso drogado” ou algo do gênero (e eu descarto a possibilidade). É uma história que preza pela diversão, e atende bem às expectativas.
O Urso do Pó Branco: baseado em fatos reais
Incrivelmente, O urso do pó branco é baseado em uma história real – por mais que o seu desenvolvimento no nosso mundo seja completamente diferente. Acontece que, em 1985, nos EUA, um traficante chamado Andrew Thornton estava sobrevoando uma região do país quando achou que estava sendo seguido pela polícia e decidiu se livrar da carga – o coitado nem imaginava o que viria disso. Além disso, resolveu se jogar junto com a mercadoria, mas acabou dando B.O. com o paraquedas e acabou indo para o beleléu, muito parecido com o que acontece no filme.
O pobre urso acabou encontrando parte dessa droga jogada, mas antes que causasse qualquer estrago como o urso do filme, o coitado morreu de overdose. Em seu corpo foram encontrados doses absurdas da droga, sendo inevitável o seu passamento para o reino de Hades. Batizado pela imprensa como “Pablo Eskobear” (alusão a Pablo Escobar), o animal foi empalhado e serve como atração turística na Geórgia, EUA.
Elizabeth Banks e seu roteirista teriam tido acesso ao laudo original, que dizia que os órgãos internos do pobre animal praticamente explodiram dentro de si. A diretora resolveu contar a história dele pois teve pena. Para Jimmy Warden (roteirista), decidiu adaptar a história do urso para o cinema, mas com todo o exagero e o absurdo do que ele acha que deveria ter acontecido quando o urso ingeriu toda aquela droga.