Duna (2021) é formulaico mas bem empolgante Duna (2021) é formulaico mas bem empolgante

Duna: Parte Um é o início de uma aventura épica

Ficção científica é um gênero bem variado em seus temas, ambientes e tons desde sua concepção com Frankenstein, de Mary Shelley. Seja no espaço, em Terra, em ambientes alienígenas ou distopias pós-apocalípticas, o gênero foi aclamado e agraciado com uma variedade incrível. Mesmo assim, não é de surpreender que muitas vezes o enredo dessas obras acabe sendo repetido, algo que já vimos em algum lugar – salvar o mundo, a jornada do herói, a pessoa ‘normal’ que descobre poderes especiais -, e a partir dali cabe à obra usar de algum outro recurso para se destacar. Sua complexidade, ou talvez o tom mais realista, ou até mesmo o próprio ambiente em que se passa seja intrigante: aquilo é o que no fim das contas encabeça o interesse pela obra, e é precisamente nesta situação que Duna se encontra.

UM PLANETA TOMADO PELO DESERTO

Baseado no romance de Frank Herbert lançado em 1965, Duna é uma adaptação de 2021 dirigida por Denis Villeneuve (conhecido por A Chegada e Blade Runner 2049), que se propõe a contar a história do primeiro livro em duas partes: desde o início do filme, os espectadores já são avisados que podem esperar por uma continuação, dito que ele se apresenta como “Parte Um”.

Duna se passa em um futuro distante para a humanidade, em um planeta tomado pelo deserto chamado Arrakis, onde recursos chamados de “especiarias” cobrem o ambiente desértico e são altamente cobiçados como bem comercial. É justamente para minerar tais “ingredientes” que o duque Leto Atreides (Oscar Isaac) – chefe da casa Atreides – resolve fazer a viagem até o deserto, mesmo tendo noção dos perigos que o bioma tomado pela areia representa, incluindo os vermes gigantes que se escondem na areia.

Acompanhado de sua esposa, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), e de seu filho, Paul Atreides (Timothée Chalamet), o duque Leto se transporta até o deserto e começa a estabelecer suas relações comerciais com os locais, chamados de Fremen – povo nativo de Arrakis que vive e é acostumado com o deserto -, mas complicações (com um salgado sabor de traição) com a casa Harkonnen – inimigos diretos da casa Atreides – tornam as relações amistosas e a mineração de “especiarias” um pouco mais complexas do que poderiam ser, o que leva o jovem Paul a uma jornada de revelação e autodescoberta, que podem finalmente fazer com que suas visões – que são constantes desde o começo do filme – façam algum sentido.

A JORNADA DO HERÓI E O PLANETA MISTERIOSO, MAS CONVIDATIVO

O foco do filme está em contar o que acontece com a casa Atreides e sobretudo o que se passa com o protagonista, Paul Atreides. O jovem possui um poder especial que não consegue dominar completamente, chamado de “Visão”, uma história trágica que o força a aprender mais sobre como o mundo funciona, como controlar seus poderes e o espectro quase todo de um herói que, sinceramente, já foi visto em vários outros lugares.

E, infelizmente, isso acaba por minar um pouco da experiência de Duna. Os atores fazem um bom trabalho em representar seus papéis e não é porque a narrativa é algo que beira o clichê que o filme é automaticamente ruim, mas por ter duas horas e meia, muitos dos diálogos e da exposição acabam por perder impacto por serem extremamente previsíveis. Usar o tempo para cautelosamente moldar sua narrativa pode ser bom, mas, no caso de Duna, uma boa parte do tempo utilizado acaba por unicamente transmitir a mensagem de “acreditem, prometemos que o próximo filme vai ser ótimo”.

Dito isso, ainda existe muita coisa para se curtir em Duna – em especial, o universo em que a trama se passa. Cheio de espetáculo visual, o planeta Arrakis e seus desertos marcados pelo sol incandescente são palcos para tecnologias futurísticas, incluindo aeronaves similares a vespas, prédios de arquitetura gigantesca feitos para proteger do calor e ambientes internos dignos de grandes obras faraônicas, unindo a estética oriental a armaduras e apetrechos futurísticos que não estariam tão fora de lugar em Star Wars: O Despertar da Força (especialmente pela presença de Oscar Isaac como Leto Atreides).

Adicionalmente, o filme dá apenas o suficiente para fisgar seus espectadores com demonstrações de como aquele mundo funciona – as relações entre as diferentes casas, o constante perigo do sol e dos vermes gigantescos, a vida subterrânea secreta do povo Fremen e suas criações para combater o calor e os vermes, a origem e utilização das “especiarias”. Tudo é deixado de um modo que não é totalmente explicado, mas é o bastante para envolver quem assiste àquele mundo fantástico. Embora seja perigoso, Arrakis e seus mistérios formam um universo convidativo e empolgante – com certeza a melhor parte do longa-metragem.

A EXPECTATIVA E A EVOLUÇÃO DE UMA POSSÍVEL SAGA

Com todos os diálogos expositivos junto à narrativa um pouco “lugar-comum”, Duna poderia ter sido um filme maçante, mas o espetáculo visual, somado à trilha sonora de Hans Zimmer (compositor conhecido por seu trabalho em A Origem, Sherlock Holmes, e, mais recentemente, 007 – Sem Tempo para Morrer) e uma boa dose de construção de mundo ainda deixam o filme interessante e empolgante para sua sequência (ou sequências, quem sabe?). Apesar de formulaica, a jornada de Paul Atreides ainda é cativante o suficiente para que expectativas sobre a continuação e o que exatamente o destino reserva para os habitantes de Arrakis sejam discutidos.

Em conclusão, Duna é o início de uma aventura épica que traz elementos que já conhecemos de outros filmes, mas ainda faz bastante para se destacar – e definitivamente monta um palco bem animador para o próximo longa. O tempo bastante alongado de filme pode afastar alguns, mas ainda é uma ótima pedida para sua próxima visita ao mundo da sétima arte.