Minha história com Yu Yu Hakusho começou nos anos de 1990, na finada rede Manchete. Sempre foi meu anime favorito na infância no lugar de Cavaleiros do Zodíaco e o revisitei algumas vezes durante minha vida. Apesar de entender suas limitações com a idade, esse ano fiz uma tatuagem em homenagem ao desenho porque ele marcou minha vida e tenho uma lembrança muito nostálgica com a obra. Quando soube da adaptação em live-action pela Netflix, fiquei com o pé atrás, pois não acreditava que podia ser bom. Mesmo esperando o pior, decidir assistir e fui surpreendido.
Para quem não conhece, Yu Yu Hakusho conta a história de Yusuke Urameshi, um delinquente juvenil que é ressuscitado após salvar uma criança de um atropelamento. No entanto, sua segunda chance vem com uma condição: tornar-se um detetive espiritual encarregado de proteger o mundo dos humanos dos yokais (criaturas sobrenaturais do folclore japonês) que escapam do mundo dos demônios.
Inicialmente, fico curioso se a série vai agradar aqueles que não conhecem a obra original. O que mais me interessou durante os episódios foi ter esse sentimento nostálgico e a curiosidade de ver como algumas coisas seriam adaptadas. Yu Yu Hakusho é uma obra cheia de ação com personagens carismáticos, mas, como muitas obras do gênero, acaba não tendo um peso dramático tão forte. A série da Netflix, por ser condensada em apenas 5 episódios, falha ainda mais em desenvolver os personagens. Para mim, que já conhecia todos eles, foi muito legal ver algumas cenas e frases famosas com atores reais, muitos deles bem caracterizados. Existe, por exemplo, uma morte que possui um impacto muito maior no anime, pois é um personagem que acompanhamos por mais tempo. Apesar disso, boa parte do carisma dos personagens conseguiu ser transmitida em tela por conta dos atores escolhidos e por um detalhe muito especial que foi um presente para os brasileiros: a dublagem.
Yu Yu Hakusho sempre foi famoso por sua dublagem escrachada, que metia várias gírias e expressões brasileiras no meio da trama, mesmo que isso até alterasse a lógica de algumas cenas. Felizmente, a Netflix brasileira entendeu que isso era uma parte fundamental da nostalgia para os brasileiros e trouxe de volta os dubladores clássicos ainda vivos para dar vida a esses personagens. Isso elevou a memória afetiva e melhorou em 200% a experiência de assistir o live-action. Apesar da série adotar a abordagem um pouco mais séria que o original, os dubladores ainda conseguiram encaixar algumas frases clássicas divertidas no meio da história.
Claro que somente a dublagem sozinha não funcionaria. Felizmente, Takumi Kitamura, que interpreta Yusuke, conseguiu personificar bem a vibe do protagonista, desempenhando bem o papel. Outro destaque vai para Kotone Furukawa como Botan, principalmente nas suas interações iniciais bem divertidas com Yusuke. Talvez tenha sido por causa da dublagem maravilhosa de Marco Ribeiro e Miriam Fischer, mas adorei a dinâmica dos dois. Outro personagem com um pouco mais de desenvolvimento foi Kuwabara (Uesugi Shuhei); apesar do infeliz falecimento de seu dublador original, o famoso rival da espada espiritual tem um arco simples, mas bem desenvolvido na medida do possível.
Outro ponto fortíssimo que me surpreendeu foi a direção de Shô Tsukikawa e a coreografia das lutas. Em meio a algumas perucas e roupas de qualidade questionável, e até mesmo o CGI mediano, a série consegue apresentar lutas criativas, que pegam emprestado algumas coisas do anime, ao mesmo tempo em que trazem novas e empolgantes soluções. Como uma obra shonen, era essencial que a série possuísse cenas de luta bem-feitas e, para nossa alegria, conseguiu entregá-las com qualidade.
Yu Yu Hakusho da Netflix é um presente para os fãs, mas ao mesmo tempo, uma obra bastante apressada que condensa uns 50 episódios do anime em 5. Houve cortes e algumas misturas de enredos aceitáveis, mas também tivemos pouco desenvolvimento de personagens, resultando em algumas cenas que poderiam ter mais impacto dramático. Apesar disso, acredito que é uma adaptação que consegue fazer muito com o pouco que tem, trazendo bastante do sentimento da obra original, principalmente para os brasileiros que podem acompanhar a dublagem com quase 100% do elenco original. A temporada termina de uma forma que não necessariamente precisaria de continuação, mas torço para que tenhamos um pouco mais desses personagens, pois temos algumas sagas que podem ser adaptadas. Deu para perceber que os atores e dubladores se divertiram fazendo, e eu também me diverti assistindo.