A Mãe de Sangue - Annecy 2020 A Mãe de Sangue - Annecy 2020

Destaques entre os Curtas na mostra competitiva de Annecy

As mostras competitivas de curtas de animação do Festival de Annecy trazem alguns ingredientes interessantes. Para quem ama animação, assistir aos 37 filmes é um banquete que ao mesmo tempo mostra uma variedade de técnicas incrível e também um panorama mundial de como se pensa a narrativa. São nos curtas que animadores, roteiristas e realizadores colocam em prática as possibilidades de inovar ao máximo. O risco é menor, é mais curto.

Neste cenário, trago alguns destaques desta mostra. O filmes A Mãe de Sangue, produção de Portugal, dirigida, ilustrada e animada por Vier Nev é uma viagem visual hipnótica. Com imagens Gestálticas e a música instigante de Yanis El-Masri, Vier faz um trabalho técnico que impressiona ao contar os momentos de uma mãe antes de dar a luz a seu filho. Algo fascinante.

“A Mãe de Sangue” curta de Portugal.

Ainda mais minimalista está o filme Average Happiness, da suiça Maja Gehrig. Ela utilizou dados estatísticos típicos de uma apresentação de power point. Esses dados começam a ter vida, os gráficos começam a quebrar as linhas coordenadas e criam um mundo onde podemos ver muito mais do que números. Maja utiliza algumas locuções em off como se fosse um palestrante falando sobre os dados alarmantes e as idades onde as pessoas dizem que estão plenamente felizes. Cores sólidas e alguns poucos degradês em uma movimentação que vai ficando frenética a medida que os dados mostram essa busca pela felicidade. Uma construção muito interessante.

Indo para uma linha de animação mais dramatúrgica do que sensorial, o filme belga De Passant, dirigido por Pieter Coudyzer conta a história de dois jovens que se cruzam em uma mesma rua num dia de verão. Os dois não se encontram pessoalmente, um dramático acidente interrompe qualquer possibilidade. A beleza gráfica e a beleza da utilidade da profundidade de campo são muito bem utilizadas. Uma estética típica de Pieter de quem já tinha visto outro filme Beast! (2016).

Para não dizer que não falei de 3D, não posso deixar de destacar Já-Fólkið, traduzindo do bom islandês Pessoas Sim. Isso tem um motivo claro, os personagens do filme só dizem sim, mesmo quando claramente estão dizendo ‘não’ ou qualquer outra coisa. Uma inteligente ideia que dá comicidade aos moradores de um mesmo condomínio que vivem situações bem diferentes. O filme do islandês de Gísli Darri Halldórdrsson tem uma beleza plástica bonita e personagens em 3D modelados de maneira caricata que encaixa muito bem com a proposta. Uma leve diversão!

Continuo assistindo tudo, acho que vou ter que madrugar para ver tudo. Uma maravilhosa missão.

Já-Fólkið
Inslandês “Já-Fólkið” ou traduzindo “Pessoas Sim”