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Yellowstone: O Rei do Gado repaginado de Taylor Sheridan (e eu posso provar)

Boa trama envolvendo “cowboys modernos” faz de Yellowstone uma das ótimas séries da atualidade que provavelmente você não conhece

As teledramaturgias brasileiras (mais conhecidas como “novelas”) – hoje não mais tão em alta – já foram uma das principais atrações da nossa televisão. Por trazerem geralmente enredos mais populares, elas acertavam em cheio o coração da massa, muitas vezes surpreendendo com produções que traziam boas premissas, mas se perdiam pelo excessivo número de episódios e a exigência de um roteiro mais mastigado e repleto de clichês.

Exemplo disso foi a novela O Rei do Gado (exibida originalmente em 1996), escrita por Benedito Ruy Barbosa (O Pantanal; Renascer) e dirigida por Luiz Fernando Carvalho (Lavoura Arcaica; Capitu). Um folhetim de enorme sucesso à sua época. Acontece que, curiosamente, temos hoje no ar (através do serviço de streaming da Paramount) uma série – daquelas que por não estar na grade dos grandes streamings, pouca gente conhece – que faz algumas rimas com a novela produzida pela Rede Globo. Seu nome: Yellowstone. Contudo, vale ressaltar que suas ambições vão um pouco além da criação de Ruy Barbosa.

Um indício disso fica evidente quando descobrimos que é Taylor Sheridan que está por trás da empreitada. Pra quem não o conhece, Sheridan traz em seu currículo temas pesados, tendo roteirizado o aclamado Sicário – Terra de Ninguém, de Denis Villeneuve, e dirigido o ótimo Terra Selvagem (leia a crítica). Em Yellowstone, ele encara o desafio de criar sua primeira série televisiva e o balanço ao final acaba sendo bastante positivo.

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Família Dutton

Confesso que o que me atraiu ao programa (além de Sheridan) foi seu elenco. Como figura central, temos ninguém menos que Kevin Costner. Só isso já desperta atenção. É um deleite poder ver novamente o ator de Dança com Lobos (1990) protagonizando mais um western, esse ambientado nos dias atuais.

Na série, Costner interpreta John Dutton (o Antonio Mezenga da vez), patriarca da família Dutton e dono de milhares de acres de terra no estado de Montana, oeste dos Estados Unidos. Endurecido pelo tempo, conhecemos o personagem em um momento diferente da vida, onde ele luta para assegurar seu legado e, paralelamente, reflete sofre o homem que se tornou e o peso de suas decisões na vida dos filhos.

Troque as disputas entre xerifes, foras da lei e índios do passado por intrigas políticas e tensões territoriais envolvendo “cowboys modernos”, remanescentes de tribos indígenas e grandes empreendedores em busca do “progresso”. Em vez de Mezenga versus Berdinazzi, o que temos é família Dutton contra o mundo. Com as terras do rancho Yellowstone em constante ameaça, John Dutton precisa garantir que a herança de sua família, construída por seis gerações, permaneça inabalada.

De volta ao elenco, além do peso de Costner, contamos com a presença de Kelly Reilly (Sherlock Holmes; True Detective), Wes Bentley (Jogos Vorazes; Interestelar), Danny Huston (Mulher-Maravilha; Succession), Luke Grimes (Sniper Americano; Sete Homens e um Destino) e, em sua terceira e atual temporada, a série ganhou a adição de Josh Holloway (o Sawyer de Lost). Um time desses tem que respeitar.

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Missões paralelas pelo caminho

Yellowstone não é um jogo de videogame, mas se você conhece a franquia Red Dead Redemption (especialmente a obra-prima Red Dead Redemption 2) talvez encare melhor os desvios de roteiro de Sheridan. Isso por que o autor muitas vezes deixa de lado a trama principal para focar em subtramas menores que pouco ou nada acrescentam à saga dos Dutton.

Com isso, temos histórias paralelas envolvendo brigas de bar, vaqueiros valentões, competições de rodeio e por aí vai. Nisso, mais uma vez, podemos dizer que a série rural de Sheridan se aproxima do folhetim, talvez numa tentativa de fazer com que ela chegue a vários tipos de público – o que parece ter dado certo, pois o programa é sucesso de audiência nos Estados Unidos.

Ainda sobre os desvios, é como se o autor não confiasse que o coração de seu roteiro tem trama suficiente para desenvolver. E vou dizer: tem sim! Alguns momentos de Yellowstone são memoráveis, com linhas de diálogo inspiradíssimas. Kelly Reilly, que interpreta a amarga filha de John, Betty Dutton, é uma que se beneficia muito do material que lhe é dado, fuzilando seus desafetos sem precisar triscar em uma arma.

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Histórias do passado

Na contramão da superficialidade, Yellowstone traz diversos flashbacks que contribuem para dar mais camadas aos protagonistas. Através deles, descobrimos a origem de personagens, o motivo de mágoas entre irmãos e conhecemos mais do velho John (interpretado por Josh Lucas no passado), alguém que precisou se adaptar (tornando-se vilão?) em um mundo cada vez mais desalmado.

A consequência disso é traduzida em como esse ou aquele personagem acaba sendo percebido pelo público. Jamie Dutton (Wes Bentley) é um ótimo exemplo. Suas atitudes podem ser justificadas pela omissão e falta de amor recebida pelo pai ou podemos sem dó colocá-lo entre os vilões da história? Cabe ao espectador decidir.

Pra terminar, deixo você com um clipe trazendo Brian Tyler (compositor de vários filmes da Marvel) regendo a inspirada música-tema da série, que oferece um tom épico de arrepiar. O clipe traz ainda algumas cenas do seriado intercaladas, o que oferece um bom aperitivo para quem deseja embarcar nessa jornada com a família Dutton.