Vivemos na mesma era de Succession. Ainda bem

O texto a seguir contém SPOILERS da quarta temporada de Succession.

Pare por um momento e pense na última vez que você assistiu algo histórico, mesmo sem saber que estava prestes a vivenciar tal evento. Difícil, não é mesmo? Afinal, essas coisas surgem sem nenhum aviso prévio. Especialmente quando lidamos com cultura pop. Quem decidiu acompanhar o mais recente episódio da última temporada de Succession no último dia 09, certamente não estava pronto para o que aconteceu. Ninguém está e a ficha demora para cair. Porém, num resumo do que irei escrever nos próximos parágrafos, eu adianto: nós presenciamos uma série de TV entrando para um seleto grupo de produções que marcam uma era.

A morte de Logan Roy (Brian Cox) não é necessariamente uma surpresa. É seu estado de saúde preocupante que dá o pontapé de todos os eventos mostrados em Succession. Uma família em guerra por poder, sugando e destruindo todos ao seu redor. Mas que série, em sã consciência, decide retirar seu principal personagem (ou vilão) de cena antes da metade da última temporada? É preciso coragem ou doses generosas de loucura. E o showrunner Jesse Armstrong mostrou ter as duas coisas. E tudo estava lá, num mero detalhe de um pôster. É uma aula de um pouco mais de uma hora de como escrever um roteiro de série. Do tipo que será obrigatória em cursos futuramente.

Mas não basta apenas apresentar esse ponto de virada de forma gratuita, apenas pelo choque em si. Seria muito mais fácil entregar cenas dramáticas onde Logan luta para sobreviver enquanto passa por algum tipo de epifania pré-morte. Mas não seria histórico. O que o episódio faz é jogar os holofotes para os filhos, pegos de surpresa, assim como os espectadores. Com isso, abre espaço para que o elenco extremamente talentoso brilhe ainda mais. Sarah Snook, Jeremy Strong e Kieran Culkin engolem cada linha de diálogo como o último prato de comida. E isso nos leva para a principal virtude de Succession.

É quase impossível lembrar disso depois de quatro temporadas, mas Succession é uma série sobre amor. Aprendemos a odiar cada um desses personagens por suas atitudes desprezíveis e esquecemos que ainda estamos diante de uma família. E tudo que os filhos buscaram, por maneiras inescrupulosas, era o reconhecimento do pai. Não do dono de um império midiático, mas do homem por trás disso tudo. Não peço aqui que você tenha algum tipo de empatia por bilionários, longe de mim. Porém, é fácil entender as dores de cada um deles após a confirmação da notícia. Acompanhamos os altos e baixos desses personagens e estamos diante deles no momento mais sensível de todos. E quem já perdeu alguém consegue entender esse turbilhão de sentimentos.

A forma natural como tudo acontece serve como um doloroso lembrete para nós de que a vida é assim mesmo. Um dia estamos aqui e depois não estaremos mais. E além de lembranças, dinheiro etc. deixaremos para trás coisas mal resolvidas. Ainda restam sete episódios para o encerramento de Succession e tudo pode acontecer. Mas o que realmente importa já está registrado. E como se já não fosse comum, a HBO colocou outra produção na história da TV. Vivemos na mesmo era de Logan Roy e seus filhos. Ainda bem.