Harry Potter e a maldição de J.K. Rowling

Não foi apenas o anúncio do novo streaming que reunirá Warner e Discovery que movimentou a internet essa semana. Entre as novidades apresentadas, uma série que irá adaptar os livros de Harry Potter chamou a atenção. E certamente não foi pelos motivos imaginados pelos executivos. Fato é que tratar da famosa franquia literária e cinematográfica tornou-se um fardo para os fãs e qualquer um que tenha algum tipo de envolvimento em projetos oficiais. Tudo por conta do preconceito e da falta de caráter da mente por trás das aventuras de Harry: J.K. Rowling. Uma maldição que supera qualquer Avada Kedavra.

O argumento de “separar a obra do artista” cada vez mais se parece com uma tentativa desesperada de justificar o apego do fã em relação ao que ele tanto ama. Ora, se Rowling não faz nenhum esforço para se retratar por seus comentários sobre a comunidade trans, então por qual motivo o público precisa gastar energia para defender o universo de Harry Potter? Cada dia que passa torna essa relação ainda mais sem sentido. Tudo isso piora a cada novo anúncio de projetos que carregam o selo do mundo bruxo. O malabarismo ético feito por executivos para justificar o envolvimento com a autora beira o risível.

Óbvio que a vindoura série de Harry Potter não poderia existir sem um acordo com J.K, que ainda detém uma considerável fatia de sua principal criação. Casey Bloys, chefe de conteúdo da HBO e Max, tentou aliviar a tensão ao alegar que a autora servirá apenas como produtora executiva do projeto. Porém, mesmo sem uma função criativa, seu nome nos créditos será uma mancha e um lembrete constante da vista grossa que visa o lucro atrelado ao apelo popular da franquia.

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É inegável que o nome Harry Potter é extremamente lucrativo. Livros, filmes, parques temáticos, jogos eletrônicos, ovos de páscoa, roupas, restaurantes. Uma infinidade de produtos licenciados que carregam a marca, atraindo fãs e enchendo os cofres das empresas. As cifras mostram que nem os erros da autora conseguem gerar algum prejuízo considerável. Os filmes de Animais Fantásticos fracassaram por seus próprios deméritos, mas nunca atrelados ao nome de J.K. Rowling. O recente jogo Hogwarts Legacy também apresentou um desempenho satisfatório nas vendas. Todos querem um pouco dessa magia, e parecem não se importar com as polêmicas dos bastidores.

Contudo, reações ao anúncio da vindoura série parecem indicar que esses ventos estão mudando. Mídia especializada e o público em geral cobram com mais veemência as mentes por trás dessa ideia e como irão lidar com a questão envolvendo Rowling. E nem entrei na questão de recontar uma história que ainda está tão fresca na mente do público, tornando o projeto desnecessário antes mesmo de estrear. Derrotar Voldemort não foi o desafio final de Harry Potter, já que terá que enfrentar para sempre o espectro de sua criadora.