Em meio a uma nova onda de greves trabalhistas nos Estados Unidos, os roteiristas de Hollywood entraram em greve neste mês de maio de 2023. A paralisação ocorre após meses de negociações infrutíferas entre os sindicatos dos roteiristas e os estúdios de cinema, que não chegaram a um acordo sobre lucros que plataformas de streaming obtém com assinaturas de séries, publicidades e derivados.
A greve, que afeta os principais estúdios de Hollywood, incluindo as grandes plataformas de streaming como Netflix, HBO, Star+ e Paramount+. No boletim publicado pelo Sindicato dos Roteiristas da América (WGA, na sigla em inglês), cita que o salário médio de um roteirista teve uma queda de 4% ao longo da última década. Quando é ajustado seguindo a inflação americana, esse número sobe para 23%, o que é preocupante, visto que o custo de vida aumentou nas grandes cidades estadunidenses.
A redução salarial dos roteiristas na indústria de séries é explicada pelo novo modelo de produção adotado pelas plataformas de streaming, que geralmente têm de 8 a 12 episódios por temporada, em comparação com os 22 a 24 episódios da TV aberta. Isso significa que os roteiristas recebem menos por trabalho. Além disso, o intervalo entre as temporadas perdeu a obrigatoriedade anual, o que pode causar longos atrasos.
Outra questão que afeta os roteiristas é o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), que pode ser usada para criar roteiros e enredos, reduzindo custos para os estúdios e, consequentemente, diminuindo os salários dos roteiristas.
É importante destacar que, atualmente, muitas séries e muitos filmes são criados unicamente para streamings, mas a maneira como os direitos autorais dessas plataformas são calculados não segue a mesma proposta. A exemplo como isso funciona, séries famosas que passaram (e ainda passam) na TV aberta, como Friends e The Big Bang Theory, são algumas das produções que atraem assinantes para as plataformas, e assim as emissoras repassam determinados valores (altos, diga-se de passagem) aos seus roteiristas.
Entretanto, este tipo de pagamento extra não é garantido para as produções de streaming. Séries como Stranger Things, que atraem assinantes para a Netflix, não garante aos seus roteiristas esse pagamento a mais com os lucros de assinaturas e publicidades. Dessa forma, a WAG busca garantir que qualquer estúdio e/ou plataforma faça um negócio justo com seus roteiristas, além de cumprir com padrões básicos para o bem-estar humano.
Outro ponto que chamou a atenção nessa nova greve dos roteiristas são os cartazes com frases satirizando as “salinhas de roteiristas”, que é uma prática que ganhou espaço nas plataformas em que, em uma sala, são contratados e colocados poucos roteiristas para escreverem um número específico de episódios de uma série antes mesmo do seu lançamento. Dessa forma, para que um roteirista “ganhe nome” no meio, ele precisa ser orientado por um mais experiente, o que não acontece com essa “salinha”.
Ademais, quando não estão trabalhando nessa demanda da “salinha”, os roteiristas são considerados descartáveis para as plataformas, visto que não há plano de carreira, os contratos são ruins e possuem cláusulas desagradáveis, e o ambiente de trabalho também não facilita a vida destes trabalhadores. Segundo o WGA, os roteiristas estão trabalhando para receber um salário mínimo básico, independente da sua experiência.
Vale lembrar que a greve tem impactado fortemente na produção de filmes e programas de TV em Hollywood. Vários projetos tiveram suas filmagens interrompidas, como Cobra Kai e Stranger Things (ambos da Netflix), causando prejuízos financeiros para os estúdios e afetando a vida de milhares de trabalhadores da indústria.
Não se sabe, ainda, sobre o fim da greve e como será firmado o acordo do sindicado com as plataformas. Diferentemente da greve dos roteiristas em 2007, quando os roteiristas fizeram greve em frente aos principais estúdios de Los Angeles, a produção de séries e filmes foi paralisada como está acontecendo agora, essa atual greve poderá contar com os apoios dos Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) e do Sindicato dos Diretores (DGA), que irão passar por novas negociações de contratos. Caso os três sindicatos entrem em greve conjunta, Hollywood vai parar.