No fim de Sobrenatural: Capítulo Dois, Josh Lambert (Patrick Wilson) e seu filho têm as memórias reprimidas sobre os acontecimentos dos dois filmes, para que pudessem viver em paz. Dez anos depois, tanto na história quanto no nosso mundo, temos a sua continuação com Sobrenatural: A Porta Vermelha, que se inicia a partir dos eventos do segundo longa da franquia.
Na trama, a família Lambert se encontra dividida. Josh e Renai (Rose Byrne) estão divorciados, e ele se tornou um pai ausente, presente em poucos momentos na vida dos filhos, fazendo com que o seu primogênito, Dalton (Ty Simpkins), sinta-se ressentido e ocorra uma ruptura na relação entre eles. Algo que dói nos nossos corações, pois sabemos o pai incrível que Josh é e o tanto que ele fez para salvar a família nos outros filmes. A narrativa de Sobrenatural: A Porta Vermelha já nos joga em um momento pesadíssimo, estabelecendo o suposto tom da trama, no funeral de Loraine (Barbara Hershey) – mãe de Josh e peça fundamental nos dois longas anteriores.
Com bastante precisão, a câmera consegue capturar toda a essência da cena, toda feita em tons cinzas e mórbidos, com criaturas que não são focadas, mas estão ali ao fundo, evitando os conhecidos jump scares. Josh, ao contrário dos outros, após ter a mente apagada, sofre muito, ficando lento e confuso o tempo todo, sem entender o que está acontecendo. O filme aborda essas questões dele, inicialmente de forma precisa, nos entregando cenas claustrofóbicas, melancólicas e que aprofundam mais o personagem. Sabemos que Josh quer se aproximar do filho, mas há ali uma barreira entre eles que parece difícil de ultrapassar.
Dalton é levado à universidade pelo pai, numa tentativa do homem de encontrar algo que o conecte com o filho, culminando em uma briga entre eles, que leva Josh a repensar suas atitudes. Logo vemos o passado os assombrando, com criaturas sobrenaturais os rondando, querendo voltar a encontrar os dois, que sempre foram suscetíveis aos espíritos e às entidades. A direção estreante de Patrick Wilson consegue segurar bem a tensão, a ponto de conseguir jump scares eficientes e bons momentos de tensão.
A construção do drama é o foco da trama, ao invés da parte de terror, puxando a história para uma narrativa mais sólida, que tenta explorar mais seus personagens, adentrando nos seus medos, suas ânsias e aprofundando aspectos que ficaram aquém nos outros longas da franquia. Sem falar que temos a melhor personagem de todas, Chris (Sinclair Daniel), que é um dos melhores alívios cômicos de filmes que eu já vi.
Por meio da arte, Dalton vai se reconectando ao passado esquecido, ao mesmo tempo em que seu pai busca pistas sobre o seu próprio passado, tentando entender o que há de errado com ele. E aí o filme degringola em um roteiro frágil e solto, que quis muito e acertou em nada.
Sobrenatural: A Porta Vermelha abre muitas portas dentro da trama, inserindo diversos tópicos que seriam interessantíssimos, mas que simplesmente ficam largados ao longo da narrativa, sem se conectar a nada, sem aprofundar algo, perdendo muito do peso dramático que o filme tenta alcançar, ou mesmo o terror. As ideias são boas, mas a execução deixou muitíssimo a desejar. Em determinado ponto, eu sentia que a história estava correndo por querer apresentar uma gama de assuntos, tornando as cenas desencontradas, sem ligação entre elas, como se não houvesse uma narrativa linear.
A direção tenta ao máximo sugar o que pode das cenas e consegue dentro de uma certa limitação, pois o problema aqui não está em numa atuação fraca ou numa direção frouxa, mas sim no roteiro de Scott Teems, que parece se perder depois de um tempo, sem saber para onde ir. O primeiro ato é ótimo, a construção é firme, mas o segundo vai derrubando a peteca, tornando o desenvolvimento confuso, e o terceiro ato é uma bagunça. Ele revisita muito as marcas registradas da franquia, como o Mundo do Além, mas não parece saber o que fazer com isso.
O foco, ao que dá a entender, seria a reconstrução da relação de Josh e Dalton e a aceitação de suas habilidades (finalmente), ao invés de se manter rejeitando-as. Mas isso faz com que os outros personagens sejam relegados ao nada, mal vemos Renai – figura importante nos filmes anteriores – ou os outros dois filhos, que são todos levados a serem apenas um pontinho esquecido na história.
Sobrenatural: A Porta Vermelha tenta, mas não consegue. Inicia belamente, mas termina sem saber o que exatamente está finalizando. Quis demais, não deu em nada. Uma pena, pois é uma das minhas franquias favoritas – mesmo com os dois spin offs da Elize (Lin Shaye). No entanto, um filme derivado, com Mandy Moore e Kumail Nanjiani, está em desenvolvimento. No mais, acho que pode valer uma ida ao cinema, a ambientação e o som ambiente ajudam a melhorar a experiência e a sair menos frustrado.