Por Amanda Fontenele
Você já ouviu falar na cor preta mais escura que existe? É a partir dessa lenda que se inicia a viagem entre Japão e o museu mais visitado do mundo em Rohan no Louvre (Rohan au Louvre), de Hirohiko Araki, um dos últimos lançamentos da editora Pipoca e Nanquim.
Rohan Kishibe já é bem conhecido entre os fãs de Jojo’s Bizarre Adventures: um dos personagens secundários de Diamond is Unbreakable, a quarta saga em Jojo’s, ele é um mangaká famoso e possui o poder de ler as pessoas como se elas fossem livros, tendo acesso a várias informações delas. Também é conhecido por ter publicado sua primeira história na Shounen Jump ainda adolescente, aos 17 anos. Rohan no Louvre se inicia um pouco antes desse debut, quando o protagonista vai passar as férias de verão no interior com a avó, que aluga quartos.
Como a casa é regida com muitas restrições e não aceita crianças, casais nem animais de estimação, ela fica praticamente vazia, sem inquilinos. Por isso, Rohan se surpreende com a chegada de Nanase Fujikura, uma mulher que, apesar de ainda estar se divorciando, é aceita pela avó dele e passa a morar por lá.
Rohan e Nanase acabam se aproximando e é ela quem conta a ele a história da cor preta mais escura, um tom que só poderia ser visto na obra do pintor japonês Nizaemon Yamamura. O artista teria descoberto a tinta mais escura do mundo, mas acabou sendo perseguido por usar uma árvore anciã para produzi-la pinturas, foi condenado à morte e todas as telas dele foram queimadas, exceto uma.
Ela pertencia a família de Nanase, que chegou a ver o quadro de relance quando era criança, no momento em que ele foi levado por um comprador estrangeiro para o acervo do Museu do Louvre. Ela também deixa transparecer que há algo maligno nessa história, mas encerra o relato sem dar muitas explicações sobre isso.
Nanase desapareceu dias depois, após destruir alguns rascunhos que ele havia feito se inspirando nela. Rohan nunca soube quais foram os motivos para ela ir embora,ou se a história que contara era verdadeira.
O caso é esquecido até que, após dez anos, em uma conversa boba envolvendo obras de arte, Rohan se lembra de Nizaemon Yamamura e seu misterioso quadro. As perguntas que surgiram na adolescência retornam e, dessa vez, ele decide viajar para Paris ao encontro da única pista que possui: O Museu do Louvre, onde essa tela estaria guardada.
Rohan no Louvre é um dos quadrinhos do Projeto Bande Dessinée do Museu do Louvre (Musée du Louvre Éditions) e o segundo dessa coleção a ser publicado pelo Pipoca e Nanquim (PN), que mais uma vez nos entrega uma edição muito caprichada, sem dever nada à versão encontrada no museu. Muito pelo contrário: a edição da PN, além de bem revisada e ter uma boa qualidade de papel e impressão, também possui verniz localizado na capa e folha de guarda decorada, detalhes que não estão presentes na edição original.
No Brasil, o mangá veio sem as páginas com a descrição dos departamentos e coleções que compõem o museu, mas isso não representa uma perda significativa, principalmente se levarmos em consideração que o atrativo para os leitores que buscam os quadrinhos desse projeto, geralmente, não é o Louvre em si, mas a história e o quadrinista que trabalhou nela. No lugar dessas informações institucionais, a PN inseriu um glossário e uma breve apresentação sobre o Projeto do Louvre e o protagonista – sim, os não leitores de Jojo’s podem ficar tranquilos! Vocês não vão ficar perdidos lendo esse mangá.
Além de possuir uma das artes mais bonitas entre os mangás do Araki, também é possível ver em Rohan no Louvre o trabalho do artista com cores – até o momento, é o único quadrinho do mangaká a ser publicado completamente em páginas coloridas no Brasil (o que é uma pena, porque as artes coloridas do Araki são muito bonitas). A paleta é bem consistente, dividindo a história entre o flashback de Rohan na adolescência no Japão e marcando a transição no momento em que o personagem chega em Paris.
Apesar de possuir um final apressado, com resoluções um pouco abruptas, Rohan no Louvre é muito bom em cumprir sua função como quadrinho institucional e, ao mesmo tempo, ser uma história intrigante, onde a ambientação no museu e as informações sobre ele não parecem deslocadas. Quem já teve contato com a obra de Hirohiko Araki vai perceber que a construção de Rohan no Louvre é bem familiar: referências à arte clássica, viagens para outros continentes (incluindo países europeus) e até mesmo a inserção de dados sobre as locações são elementos que aparecem constantemente em Jojo’s Bizarre Adventures. Não é a toa que Araki foi o primeiro japonês a ser convidado para participar do projeto de Bande Dessinée do Louvre.
Rohan no Louvre é uma leitura rápida que, entre enigmas, suspense e eventos estranhos, nos traz um pouco da sensação de visitar o Museu do Louvre pela primeira vez. Para quem já gosta de Jojo’s e, principalmente, do Rohan (o personagem favorito de muitos fãs e do próprio autor), o mangá é uma indicação certeira, mas Rohan no Louvre também pode agradar aqueles que nunca tiveram contato com a obra de Hirohiko Araki ou não costumam ler quadrinhos japoneses em geral.
Esse post é fruto de uma parceria entre o Molho Shoujo Podcast e o CosmoNerd. Confira os episódios do programa clicando aqui.