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Parasita | Final explicado e outras interpretações

Parasita, o novo filme do coreano Bong Joon-ho (Okja), está na boca do povo e é um dos favoritos para o Oscar 2019. O longa conta a história de uma família pobre da Coreia do Sul que passa a trabalhar para uma família rica e se aproveitar da sua ingenuidade. Caso você já tenha visto o longo, segue adiante que vamos discutir o final e interpretações do filme com spoilers.

O Significado da pedra

Um dos elementos mais estranhos e enigmáticos do filme Parasita é a pedra dada de presente para a família. Em uma entrevista para a Polygon, o diretor Bong Joon-ho explica que colecionar essas pedras achadas em montanhas é um costume de gerações antigas da Coreia. Hoje em dia, mesmo na sua geração, é difícil encontrar elas por aí. Para o jovem do filme, a rocha é esse objeto estranho que ele não entende direito. Para nós, espectadores (principalmente ocidentais) a sensação de estranheza criada pela rocha é a mesma. O diretor fala sobre essa estranheza e como a rocha traz esse lado simbólico para o filme.

Para mim, a rocha representa essa inocência e ingenuidade do jovem da família pobre. Mesmo sendo uma pessoa muito inteligente, é mostrado que ele ainda têm sonhos muito impossíveis, como casar com a garota rica ou ficar rico o suficiente para comprar a casa onde seu pai está no final. Ele vê a rocha como um objeto mágico, ou amaldiçoado. O que acaba se concretizando no final do longa quando ela é usada na sua cabeça.

Por que o motorista mata o chefe?

Uma das cenas mais mind blowing  do filme é quando Kim mata o Sr. Park, seu chefe. Essa cena é construída principalmente ao longo do final do filme quando Kim percebe que existe uma ojeriza da família rica com a pobre. No começo do longa, a família rica é colocada como ingênua e não necessariamente ruim. Mas, perto do final, percebemos que eles têm um preconceito com pobres, principalmente comentando sobre o “cheiro” que eles têm.

Durante a festa, quando a filha de Kim é esfaqueada, percebemos que todos os ricos fogem e ninguém presta socorro à “professora de artes”. Ao ver isso, Kim percebe que eles não são nada para aquelas pessoas ricas que se acham superiores e só se importam com elas mesmas. É muito comum que os pobres na sociedade capitalista enalteçam os ricos, achem que os ricos se importam com eles ou até mesmo que eles fazem parte da mesma classe social. Ninguém gosta de se ver como pobre, sempre achamos que estamos um pouco acima da nossa classe social. Outro fato comum são empregados que acham que são amigos dos seus patrões, que existe ali alguma relação de amizade ou respeito onde na verdade existe uma grande relação de poder e opressão.

A gota d’água para Kim foi quando ele viu seu chefe tentando pegar a chave do carro debaixo do homem do porão e tampando o nariz por causa do “mal cheiro” do homem. Isso lhe fez lembrar que o Sr. Park também tinha reclamado do seu cheiro e isso fez com que ele entrasse em um frenesi. Naquele momento, Kim estava descontando todo o ódio que ele tinha dos ricos no Sr. Park. O seu chefe não é culpado pela desigualdade social e pelas diferenças de classes, mas ele estava representando tudo aquilo para Kim naquele momento. Por isso, no final do filme ele lamenta ter matado o chefe.

O final de Parasita aconteceu de verdade?

Parasita acaba de uma forma genial. Da-Hye, o jovem da família pobre, descobre que seu pai está escondido no bunker da casa. Então o longa mostra que ele estudou, ficou rico e acabou comprando a casa para se reencontrar com seu pai. Mas isso aconteceu mesmo?

A resposta é não. Aquilo nada mais é do que mais um plano na cabeça de Da-Hye que nunca aconteceu e provavelmente nunca vai acontecer. Uma das principais críticas do filme é sobre essa “meritocracia” que muitas pessoas acreditam. Durante todo o longa vemos que a família pobre era capaz e inteligente, mas mesmo assim ficava brigando pelas migalhas dos ricos e com dificuldade de conseguir um emprego. Da-Hye é colocado como um personagem inteligente mas ingênuo, que acredita em superstição e que tudo pode ser resolvido com um plano.

Mas, infelizmente, a verdade é que a sociedade capitalista em que vivemos não oferece as mesmas oportunidades para todos. Mesmo que alguém se esforce, ela tem grandes chances de não mudar de classe social. Essa meritocracia é uma falácia criada para que a classe trabalhadora acredite que exista um futuro melhor, uma esperança ou um paraíso. Da-Hye entende que existe uma desigualdade social mas não percebe que isso é um problema estrutural que não pode ser resolvido somente com “esforço”. No lugar de tentar quebrar essa lógica do capitalismo, ele quer jogar dentro das regas sem perceber que é um jogo de cartas marcadas.

Para ilustrar a decisão dele, finalizo com a famosa frase do educador Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.”

Caso queira ler mais sobre o filme Parasita, confira nossa crítica do filme e uma lista com questões interessantes.