Disponível atualmente em serviços de streaming (à data desta publicação, no Prime Video da Amazon), O Telefone Preto (The Black Phone) foi um ótimo suspense lançado nos cinemas em 2021 com direção de Scott Derrickson, o mesmo do filmaço de terror A Entidade (2012) e do razoável Doutor Estranho (2016). Em sua corrida nos cinemas, o longa faturou cerca de US$ 161 milhões para um orçamento estimado em apenas US$ 18 milhões, algo inacreditável se levarmos em conta que 2021 foi um ano complicada, com os cinemas ainda afetados pela pandemia da COVID-19 (leia a nossa crítica). Confira o final explicado e outras ligações da trama logo a seguir (cuidado com spoilers):
Afinal, quem é o Sequestrador? Qual a sua origem?
Para quem não sabe, The Grabber (ou Sequestrador) tem origem no conto O Telefone Preto, lançado na coleção 20th Century Ghosts em outubro de 2005 (lançado no Brasil com o título Fantasmas do Século XX, pela editora Arqueiro) pelo autor Joe Hill, filho do renomado Stephen King. No final do filme, acabamos descobrindo que o Sequestrador é o irmão do personagem Max, um morador do bairro onde se passa a história e que anda abusando no uso de cocaína, estando empolgado para além da conta tentando auxiliar na investigações na busca pelo maníaco.
A ironia acaba se tornando no terror do próprio Max quando ele tenta, no final do filme, ajudar Finney, quando o homem acaba sendo morto pelo próprio irmão sequestrador.
O Telefone Preto é uma história real?
Mesmo se tratando de uma obra totalmente fictícia, o vilão e a atmosfera da história remete bastante às ondas de sequestros ocorridas décadas atrás, na qual figuras como John Wayne Gacy, o Palhaço Assassino, deixaram um traumático rastro de sangue. Isso é reforçado pelo modo ao qual The Grabber utiliza o recurso lúdico dos balões para se aproximar das vítimas, que são sempre crianças. O próprio pai de Joe Hill, Stephen King, bebeu bastante dessa fonte tendo produzido obras inesquecíveis para os fãs do terror como It e O Iluminado.
Qual é a explicação plausível para a comunicação de Finney com os outros garotos, já mortos?
O Telefone Preto apresenta uma ambientação muito violenta em sua realidade, na qual temos uma sociedade sempre em disputa e de pessoas negligentes como comunidade. Os pais não entendem os filhos, que não entendem os pais, e o resultado disso é uma cadeia de acontecimentos ruins que irão gerar traumas fortíssimos. O protagonista, Finney (Mason Thames) não escapa disso e passa tanto pela violência com seu pai viúvo quanto na escola, com colegas praticando bullying. À medida que seu melhor amigo (que o defendia e afugentava os garotos maldosos) é pego pelo Sequestrador, as coisas pioram ainda mais para o garoto.
Desse modo, é mais fácil entendermos que o maior propósito de The Black Phone é valorizar a luta pela própria sobrevivência num mundo que não é o ideal, mas é o que temos. Finney ouve isso do próprio amigo antes de cair nas garras o vilão, mas é só a partir do momento em que se vê no macabro porão é que ele passa a entender essa necessidade.
Porém, entender que precisamos lutar pela nossa vida não significa se isolar nessa batalha, então a manifestação dos outros garotos, mortos pelo serial killer, manifesta uma cumplicidade inerente às crianças, que estão desenvolvendo suas noções de valores como honra, ética e amizade.
O final explicado de O Telefone Preto: tem cena pós-créditos? Teremos continuação?
Com uma continuação já anunciada e agendada para 2025, pode ser que o espectador ache que o filme tenha alguma pista ou cena pós-créditos, mas pode ficar tranquilo pois o longa não possui nenhum conteúdo do tipo. Mas a grande questão nesse caso é: se Ethan Hawke está na anunciada continuação, como seu personagem, o Sequestrador, pode estar morto? No final do filme, Finney consegue superar suas travas e enfrenta o antagonista com sangue nos olhos, até o momento em que o estrangula brutalmente. Então a explicação para a presença de Hawke na sequência passa por algumas possibilidades:
- Criatura do além: como trata-se de um personagem pra lá de obscuro e com poucas informações disponíveis, há a chance de que O Sequestrador possa ser uma criatura do além, ou algo nessa ordem;
- talvez uma abordagem do passado sobre The Grabber seja algo interessante de ser explorado, através de flashbacks em O Telefone Preto 2 ou mesmo se a nova produção se tratar de um prelúdio; ou
- o vilão de Ethan Hawke pode participar numa forma espiritual, tal qual os amigos de Finney no primeiro filme.
Quais as diferenças entre o conto The Black Phone de Joe Hill e o filme dirigido por Scott Derrickson?
Para finalizar, vale mencionar aqui que a experiência de assistir O Telefone Preto talvez seja mais completa do que ler o próprio conto, o que é algo raro quanto tratamos de adaptações literárias. No entanto, já que todos os spoilers foram dados e já temos um final explicado, vale apontar as principais diferenças entre o conto e sua adaptação:
- Desenvolvimento dos personagens: no conto, a caracterização é mais sucinta e centrada em Finney, enquanto o filme expande a história de outros personagens como sua irmã, Gwen (Madeleine McGraw), que ganha um papel mais central e ativo na trama.
- Diferença no antagonista: no conto, o “Grabber” é uma figura ameaçadora, mas com detalhes ainda mais limitados. O filme aprofunda sua psicologia e suas motivações, apesar de não vermos muito a face de Ethan Hawke ao longo da sessão, adicionando camadas de complexidade que o tornam mais assustador e multifacetado.
- Exploração do sobrenatural: enquanto o conto The Black Phone de Hill aborda o aspecto sobrenatural de forma mais sutil, o filme amplia esse elemento, com o telefone preto servindo como um canal mais explícito para as comunicações do além.
Confira também nosso último final explicado, abordando as questões do filme Sangue Frio. Leia aqui.