Depois de quatro anos de publicação pela Shonen Jump, o mangá de Kimetsu no Yaiba chegou ao fim. Foram ao todo 205 capítulos para contar a história da família Kamado e a caça aos demônios japoneses. Mas o que aprendemos com esse capítulo final? O que ele diz sobre a série como um todo? E o que podemos esperar do futuro?
Bem, a história de Tanjiro foi contada. A obra de Koyoharu Gotoge conseguiu cumprir o seu propósito: fazer com que Nezuko voltasse a ser humana. Essa era a meta principal de Tanjiro.
Neste último capítulo, a autora decidiu nos apresentar uma abordagem costumeira em mangás, o timeskip. Só que não é qualquer salto, pois a trama principal de Kimetsu se passa em período conturbado no Japão, o Taisho – entre os anos 1912 a 1926, mas ela nos apresenta os descendentes de Tanjiro nos dias atuais. O que indica um pulo de, no mínimo, 90 anos. Essa foi a maneira que Koyoharu encontrou para terminar seu mangá de forma feliz, dizendo: eles foram felizes? Talvez, sim.
O último arco de Kimetsu no Yaiba foi o que menos me agradou. Foi épico, trouxe várias respostas, utilizou todos os personagens que poderiam serem utilizados, mas, mesmo assim, sinto que faltou algo. Após o lançamento do anime, o mangá já estava se preparando para entrar na saga final. E com o sucesso dele, me parece que o mundo da Koyoharu e da Jump viraram de cabeça pra baixo com as crescentes vendas do mangá meses a meses.
Certeza que isso contribuiu para que o último arco saísse como saiu. Não é que seja ruim, mas ele demora mais que o habitual, não avança tanto quanto antes com os personagens, na narrativa. E sinto isso como uma pressão da Jump para que a autora prolongasse, enquanto era pensando como se pode tirar mais “leite” disso tudo.
Não é à toa que já temos, não somente um filme animado – que foi adiado (micróbio do c******) e vai retratar o arco seguinte ao que temos no final do anime, mas como novelizações, adaptações para video jogos e até peça teatral. Estão errados? Não mesmo. Mas me parece que o anime não somente ajudou nas vendas do mangá, como, de certa forma, “prejudicou” o andamento dos capítulos. Fazendo com que algo que poderia ter sido mais simples e direto fosse alongado. A pressão em cima de toda a produção deve ter sido maçante. Mas isso é especulação minha.
Desenvolvimento de personagem é algo que me atrai em mangás. E Koyoharu é sincera no que promete. Os personagens, como estes vão evoluindo, construindo laços afetivos e demonstrando seus sentimentos é uma das características básicas que a autora constrói ao longo da obra. Nada de tão profundo, mas está ali. Basta perceber. Depois disso, temos as lutas. Que é o que atrai grande parte dos leitores desse estilo – o shonen. Os combates são bons, as respirações que vão desde animais até elementos naturais me instigaram a continuar em saber: como vão se moldar aos inimigos futuros? As habilidades de sangue demonstradas pelos Luas Demoníacas dão um ar de perigo e urgência ainda maior.
Mas falando especificamente do encerramento, esperava que víssemos mais sobre o que eles fariam depois da derrota de Muzan. Talvez, uma narração sobre como tudo estaria acontecendo, e não um timeskip de decênios – só não foi mais frustrante que o primeiro final de Shaman King, mas isso é outra história. Se foi o melhor final? Isso fica ao seu critério. Mas não deixa de ser um acerto da autora.
Foi legal ver os personagens descendentes de Tanjiro, Zenitsu, Inosuke, Kanao, Sanemi, Tomioka e muitos outros, a paixão de Yushiro por Tamayo após tanto tempo – e vê-lo se transformar em um pintos de renome. Muito bom ver Koyoharu terminar a história em um ponto ápice, com todo esse sucesso.
Sei que muitos podem e vão se decepcionar com o mangá – e principalmente o final. Com toda a expectativa gerada e colocada em cima dele, é comum ver comentários como: “superestimado”, “não é tudo isso que falaram” e “esperava mais”. Ainda mais, depois de uma adaptação primorosa que o estúdio Ufotable realizou, não é um espanto que se tenha toda essa euforia. Ano passado, eu comentei sobre o impacto que o anime teria nas vendas do mangá, e não teve outra. Pois Kimetsu no Yaiba atingiu e ainda vai atingir grande proporções em relação aos números de vendas.
No mais, eu sempre recomendo ler o mangá, independente da animação que se tenha. É alí que, muitas vezes, o desenvolvimento, os diálogos e os personagens são mais trabalhados. E, também temos a forma de pensamento que o autor quer repassar mais explicita nos argumentos.
Kimetsu no Yaiba vai terminar com 23º volumes lançados no Japão, sendo que o último volume está previsto para agosto deste ano. Lembrando que a Panini está publicando o mangá no Brasil.