It’s a Wrap: luzes, câmera, puzzles e edição!

Edição de vídeo foi algo que sempre fez parte da minha vida desde criança, já que tenho gente na família que trabalha com isso desde que nasci. Uma linha do tempo com clipes é talvez um dos cenários mais comuns pra mim, e ver isso dentro de um videogame realmente me deixou curioso desde que conheci It’s a Wrap!, um puzzle-plataforma que te coloca tanto no papel de diretor de cinema quanto do ator principal que deve realizar todas as cenas de ação. É uma mistura que, conceitualmente, parece funcionar, mas a execução faltou um pouquinho de pós-produção pra ganhar o público.

Ao começar uma fase de It’s a Wrap, logo dá pra perceber que são quase dois jogos que se conectam. As mecânicas de edição permitem que você veja como — e, principalmente, quando — os objetos do nível se movimentam, além de poder alterar o momento em que essas coisas acontecem. Se uma pedra está começando a rolar cedo demais e bloqueia um caminho, você pode fazer com que isso aconteça mais cedo ou mais tarde na cena, abrindo a passagem quando você precisa. Conforme os filmes vão acontecendo, algumas fases não permitem que se altere certos objetos, ou, ainda, faz com que eles se repitam indefinidamente (e você deve apenas decidir quando o ciclo recomeça).

It's a Wrap

Depois que a cena está pronta — ou pelo menos você acha que tá — é hora da ação, literalmente! Ao começar a cena, você assume o papel do ator protagonista que, usando controles simples de plataforma, deve chegar até o objetivo do nível. É aí que abrir os caminhos certos, subir as plataformas corretas e acertar a trilha de edição é essencial para que a cena seja concluída, ou o seu personagem vai provavelmente passar por maus bocados. É bem difícil acertar de primeira, então boa parte do tempo jogando It’s a Wrap é esse vai e vem entre a trilha de edição e os controles de plataforma até que tudo funcione como manda o roteiro.

E, bom, parece tudo certo, né? São mecânicas bem diferentes, mas que, em teoria, devem se encaixar bem e se complementar para uma experiência única. O problema de It’s a Wrap, entretanto, é como essas coisas são executadas. Em resumo, seja no puzzle ou na plataforma, ele pede uma precisão bem maior do que eu esperava para um jogo com tanta liberdade de alterar o que está na tela. Para cada fase, só existe 1 (uma!) única forma de acertar a edição e só 1 (um!) caminho para seguir com o personagem. Qualquer coisa fora do lugar e você vai ouvir o diretor gritando “Corta!” porque algo deu errado — sem nem saber se errou o puzzle, ou não está conseguindo fazer a parte de plataforma, ou os dois. O sistema de dicas ajuda nas edições do vídeo, mas você vai tentar muitas vezes fazer aquele pulo duplo na parede no momento exato até conseguir.

It's a Wrap

Não que isso seja um problema por si só. Muitos jogos demandam soluções únicas para seus quebra-cabeças, ou demandam uma precisão maior do que o normal em desafios de plataforma. Mas todos eles também permitem que os jogadores aprendam suas mecânicas com calma, entendendo a forma como elas se relacionam e se familiarizando com diversos cenários, para só depois testar uma possível maestria. Em It’s a Wrap, entretanto, cada fase é completamente diferente de todas as outras, com novos objetos e relacionamentos que precisam ser aprendidos, muitas vezes, por tentativa e erro. Mais conteúdo, claro, mas com uma curva de dificuldade bem frustrante.

É uma pena que a execução do gameplay tenha sido falha, porque It’s a Wrap faz todo o resto incrivelmente bem. Desde brincar os clichês dos grandes clássicos de ação do cinema até botar como protagonista o ator garanhão que já passou do seu tempo de estrela, o jogo sabe ambientar os jogadores dentro de um estúdio ao invés de só assistir aos filmes. A interface é muito bem-feita, mesmo para os que não conhecem softwares de edição de vídeo, o visual é bem interessante e até as poucas vozes são bem-feitas e engraçadas. Falta polimento nas mecânicas, mas ele tem um carisma sem igual e que é triste ver desperdiçado.

Eu sei que ninguém ganha Oscar com um filme meia boca e que o papel de um diretor é preocupar-se até com os mínimos detalhes… mas não quer dizer que ser tão minucioso e pouco tolerante a falhas seja divertido como um videogame. It’s a Wrap! tem um potencial enorme em fazer um puzzle superdiferente que funciona na teoria, mas essa necessidade de encontrar (e executar) a única solução perfeita — ao invés de dar opções criativas como um diretor de cinema teria — acaba tornando a experiência ainda mais frustrante. Se isso não te incomodar, talvez você tenha achando o seu filme do ano… mas eu acho que não volto no cinema pra esse aqui não.

It’s a Wrap! está disponível para PC na Steam.

*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto.