Boti: Byteland Overclocked não faz jus aos seus megabytes

Não é de hoje que a ficção tenta imaginar um mundo mágico e cheio de coisas dentro dos computadores. Desde 1982, com Tron, até hoje, a tecnologia ainda é uma coisa meio inacreditável e é fácil demais pensar como seria um mundinho cheio de programas vivos lá dentro. Boti: Byteland Overclocked entra nessa lista de obras, contando a história do pequeno Boti, um software de passagem de dados que precisa salvar a sua máquina de um overclock que deu errado, com a ajuda dos escudeiros bots Zero e One e com suas (não tão abrangentes) habilidades de plataforma 3D.

Mesmo sendo um app em forma de robô, o pequeno e fofo Boti tem habilidades bem convencionais, capaz de pular, planar e atacar com um rodopio pelos diferentes e longuíssimos estágios de plataforma que o jogo oferece. Eu entendo que um time independente tem suas limitações, mas é bem complicado entender porque ele tem só 8 fases, que duram quase 50 minutos cada — principalmente quando elas não são muito interessantes por si só. Espere ver corredores grandes com algumas plataformas no ar, dois ou três cópias dos mesmos inimigos e muitas caixas iguais para quebrar.

O jogo tenta compensar com algumas pequenas seções que mudam as mecânicas, como alguns puzzles bem simples empurrando caixas usando magnetismo, ou escorregadores com desafios de tempo, mas não é o suficiente para tornar as partidas menos repetitivas. Há ainda uma série de coletáveis espalhados pelas fases, mas que, no final, são só usados para desbloquear skins para Boti, ou aumentar alguns atributos do personagem, que não fazem muita diferença devida à baixa complexidade do título.

Pelo menos, por mais que sejam longas, o mundinho de Boti e seus amigos é bem mais interessante do que poderia ter sido. Ao invés de focar em uma pegada mais cyberpunk ou cheia de LEDs, ele é bem colorido, com cenários mais cartunescos que lembram ambientes reais, como florestas e praias — em uma pegada semelhante a Astro’s Playroom, exclusivo do PlayStation 5. Eles não conseguem se diferenciar tanto entre si, mas ainda é melhor ver esse mundo meio “cibernético” do que uma fase de planície ou deserto mais tradicional de jogos de plataforma 3D.

É uma pena que uma execução já não tão boa venha junto com uma série de problemas de performance. Carregamentos gigantescos (mesmo em um computador desktop high-end com SSD), diálogos que são cortados antes de terminarem, personagens que começam a piscar durante cutscenes… Meu maior problema foi a câmera, que eu tive que configurar manualmente porque era muito sensível a ponto de me dar dor de cabeça, e os menus que não funcionavam direito usando um controle, só com o mouse. Claro que são coisas que podem ser corrigidas com atualizações futuras, mas não deixaram de ser a cereja do bolo de uma experiência não muito boa com o pequeno Boti.

A impressão final é que Boti: Byteland Overclocked tentou muito mais do que cabia em seu disco rígido. Com personagens carismáticos e uma proposta muito legal e colorida de um mundo dentro do computador, existe muito potencial aqui que não é aproveitado. É uma pena que uma execução fraca mecanicamente, com níveis sem muita inspiração (e até repetitivos) e muitos problemas técnicos acabaram tirando o brilho até mesmo de onde o jogo acerta muito bem. Se você tá procurando um jogo de plataforma 3D mediano, a conexão com o mundo de Boti está aberta, mas não espere muito mais do que isso.

Boti: Byteland Overclocked será lançado para PC na Steam no dia 15 de setembro e está planejado para chegar aos consoles em 2024.

*Uma cópia do jogo foi gentilmente cedida ao CosmoNerd pelos desenvolvedores para a produção deste texto. As imagens usadas nessa crítica também foram disponibilizadas pelos desenvolvedores e não foram produzidas pela equipe.