Baseado no livro A incendiária, de Stephen King, e remake do filme de mesmo nome de 1984, Chamas da Vingança traz muita história pra pouco tempo de tela. Mas vamos por partes.
A história gira em torno de uma família muito diferente. Durante seus anos de faculdade, Andy (Zac Efron) e Vicky (Sydney Lemmon) participaram de um experimento “farmacêutico” governamental que os levaram a desenvolver ou ampliar (não consegui entender bem, pois o filme passou muito rápido por essa parte) poderes, tendo ambos uma espécie de telepatia e habilidades inerentes a si; ele possui algo que chama de “impulso” – uma espécie de controle mental -, e ela, telecinese. O casal foge da agência, pois sabe que o único interesse dela é usá-los, e constituem uma família. Logo nos primeiros meses de vida da filha deles, Charlie (Ryan Kiera Armstrong)demonstra ter sua própria habilidade, que seria uma espécie de pirocinese. Após um acidente no colégio da menina, eles precisam fugir, mas as coisas saem muito diferente do esperado.
Como dito anteriormente, há muita história para pouco tempo de tela, tendo mais ou menos uma hora e meia de duração. Confesso que ainda não li o livro ou assisti ao filme “original”, então não haverá comparação por aqui. A trama começa simples, com aquele primeiro arco que serve para apresentar os personagens e o plot, porém, deram uma escorregada em aprofundar as relações familiares, de forma que pudéssemos nos “aprochegar” da família. Deixa-se clara a dinâmica dos três (pai, mãe e filha), além de alguns problemas que há entre eles por conta dos poderes da filha. Enquanto a mãe teme o que Charlie pode fazer e deseja ensiná-la a se controlar, o pai tem medo de que o uso das habilidades da menina possam prejudicá-la e insiste que ela os mantenha reprimidos, a lá Frozen – e sabemos como termina esse negócio de reprimir para a Elsa, não é mesmo?! Quanto mais se tenta guardar, mais a coisa tende a correr para a superfície para tentar se libertar. Charlie tenta avisar ao pai, que se mantém em negação.
Somos apresentados ao incidente que faz com que eles tenham que fugir, o que introduz a antagonista, que seria a instituição governamental representada pela Capitã (Gloria Reuben), uma mulher inescrupulosa e manipuladora, que mistura uma voz macia com firmeza e argumentos que parecem sólidos para convencer as pessoas a cederem ao que ela quer, como quando ela contrata um dos seus antigos experimentos, Rainbird (Michael Greyeyes), para capturar Charlie. Porém, tirando esse momento, a personagem não consegue mais trazer ninguém para o lado dela, o que me quebrou um pouco essa ideia de poder que a atriz tanto passa – pois Gloria está excelente no papel.
Falando em atuação, sabemos que Zac Efron não é lá aquele ator todo, mas ele consegue cumprir seu papel dentro do que foi proposto, embora sua postura de pai protetor possa soar forçada em alguns momentos, mas eu culpo mais o roteiro do que a atuação. Já Sydney Lemmon é consistente, como mãe e esposa amorosa, mesmo que seja relegada a apenas esse papel e tenha pouca voz. Já a pequena Ryan Kiera consegue traduzir o desconforto de uma criança que SABE que é diferente das outras, mas quer ser igual a todo mundo, ou trazer expressões de ódio que, combinadas a um bom jogo de câmera, as tornam supimpas. Em minha mente, eu pensava “olha a psicopatinha mais fofa”, e é sobre isso, sabe?
Antes de prosseguir, queria apontar uma ligeira curiosidade. Quando Rainbird aparece pela primeira vez, ele está de costas e sem camisa, onde podemos ver claramente uma enorme tatuagem que, para os que não estão familiarizados com um baralho de Tarô, não vai pegar: o Enforcado, um dos 22 Arcanos Maiores. Em uma explicação grosseira, a carta representaria que a pessoa está em uma situação com as mãos e os pés atados, ou mesmo indica arrependimento e que a pessoa precisa repensar planos ou caminhos, enfim. Tentando analisar sob a perspectiva que me foi apresentada no filme sobre o personagem. Ele é bem espiritualizado, e também possui runas (eu acho) tatuadas – mas não sei algo a respeito para falar sobre. Quem souber e quiser compartilhar, aceitamos.
O segundo ato da história enrola um pouco demais, na minha humilde opinião, mas, dentro do que foi proposto para a trama e seguindo a lógica do roteiro, faz sentido. O problema é que isso torna o terceiro ato mais corrido. É como se seguisse o padrão: apresentação, um pouco de enrolação com pouco desenvolvimento, e queima quengaral.
Chamas da Vingança passa um pouco por cima de temas profundos de maneira rasa, como moralidade. Além disso, nos dá uma leve empurrada na direção da ideia de filme de super-herói, não sei se tentando surfar na onda MCU, o que não cabe muito bem dentro da narrativa e fica bem aleatório.
Chamas da Vingança, na verdade, nada tem de aterrorizante, operando mais numa vibe de violência explícita, mas não muito, para não aumentar ainda mais a classificação indicativa, que já é 16 anos. Também não indico esperar muita coisa dos efeitos especiais, embora não atrapalhe em nada pra mim, tem gente que se incomoda bastante. A trilha sonora, para mim, foi ótima, mas muito mais porque me lembrou Halloween, tendo sido assinada pelo próprio John Carpenter e filhos – o que soa estranho, pois normalmente ele não é tão pouco inspirado.
No geral, você não vai ficar entediado assistindo Chamas da Vingança. E se for sem expectativa de que seja o terror da sua vida ou um filme desesperador, ou o que quer que espere de uma narrativa criada em cima de uma história do homem considerado o rei do terror, você pode se divertir e passar um bom tempo com alguém.