Agente Stone: um rascunho descartado de Missão Impossível

Entre as muitas promessas feitas pelos envolvidos em Agente Stone, estava a de que o filme seria como um Missão Impossível com protagonista feminina. Após o término da produção é possível concluir que impossível mesmo é acompanhar toda a duração do longa sem se distrair algumas vezes. Por sorte é possível mexer no celular no conforto de casa sem incomodar alguém ao lado. Na sua busca por emplacar uma nova franquia de ação, a Netflix consegue atrair grandes astros de Hollywood. Porém, encontra dificuldades na hora de colocá-los em um projeto minimamente decente.

Por mais disruptivo que tente soar, Agente Stone bebe dos mais diversos clichês de filmes de espionagem. E vale lembrar que, quando bem aproveitados, clichês são extremamente positivos. O que não é o caso aqui. Está tudo em tela: os apetrechos tecnológicos, as cenas de ação, as reviravoltas, as paisagens bonitas. Mas falta peso, direcionamento e uma trama consciente de suas intenções. Dentre várias opções, o principal pecado do filme está em sua indecisão sobre abraçar a galhofa ou seguir um caminho mais sério. Se a ideia é parecer com Missão Impossível, o roteiro de Greg Rucka e Allison Schroeder não consegue equilibrar a discussão moral sobre a utilização de IA com o tom mais fantasioso das aventuras de Tom Cruise.

Na verdade, Agente Stone está mais próximo de Resgate do que qualquer outra coisa. Os personagens não possuem profundidade, logo suas motivações não importam para o espectador. O que o texto fornece é apenas o básico para que a trama possa avançar. Rachel Stone (Gal Gadot) trabalha para uma misteriosa agência conhecida como A Carta. Em posse da incrível IA batizada de Coração, Stone e seus colegas salvam o mundo das mais diversas ameaças. Quando a tecnologia cai em mãos erradas, ela precisa correr contra o tempo para deter o inimigo. Se a sinopse é genérica, não espere que todo o resto fuja dessa característica. Pelo menos a franquia encabeçada por Chris Hemsworth entrega ótimas cenas de ação, aqui nem isso ocorre.

A direção de Tom Harper também não é inspirada. Tirando uma boa cena de perseguição pelas ruas de Lisboa, o longa não consegue empolgar nas demais cenas de ação. O começo promissor logo vai dando espaço para um uso pouco criativo das câmeras e do ambiente. A direção pobre e o texto raso obviamente afetam o desempenho do elenco. Jamie Dornan está claramente no piloto automático aqui, aceitando que seu personagem não tem muito a oferecer. Já Gal Gadot não convence como a protagonista badass que o longa precisa. Sim, ela sabe lutar. Mas seu carisma é praticamente nulo. Notem como ela sempre tem um sorriso cínico no rosto depois de dar uma resposta inteligente para alguém. Não acredito que essa é forma que o roteiro encontrou para demonstrar a sagacidade da protagonista.

Agente Stone, assim como seus companheiros de casa, mais parece um trailer de duas horas do que a franquia poderá entregar no futuro. Gostou do que viu? Não se preocupe, a Netflix já tem uma sequência engatilhada. E assim o serviço empilha filmes de ação genéricos estrelados por Ryan Gosling e outros mais. Pelo menos Gal Gadot já tem um novo lar agora que a DC não precisa mais de seus serviços como Mulher-Maravilha.