Besouro Azul Besouro Azul

Besouro Azul: esqueçam Flash, pois esse é muito melhor

Besouro Azul é um super-herói B dentro da DC Comics, do qual, admito, sei pouquíssimo. Então todo o texto será baseado exclusivamente no filme, sem levar em consideração o personagem nos quadrinhos.

O filme já inicia dando o spoiler do seu tema central – para além da origem do personagem – que é família. Quase um Velozes e Furiosos, mas melhor e mais fofo. Filho de imigrantes mexicanos, Jaime Reyes (Xolo Maridueña) possui a típica família latina que está prestes a perder tudo devido à ganância dos mais ricos e poderosos – no caso, as empresas Kord -, que pouco ou nada se importam com a parte pobre da cidade, visando exclusivamente os próprios interesses. Nada de novo sob o sol, sabemos bem. Para tentar ajudar, ele consegue um emprego em uma espécie de resort, onde acaba esbarrando com Jenny Kord (Bruna Marquezine) e Victoria Kord (Susan Sarandon). É a partir do contato com Jenny que o rapaz acaba se envolvendo com o escaravelho e sendo escolhido como hospedeiro da criatura alienígena, tornando-se o Besouro Azul – embora ele não receba esse nome inicialmente.

A trama de origem desse jovem Besouro Azul tem uma pegada inicial de mais do mesmo, porém, todavia, entretanto, possui um diferencial único: o protagonismo é praticamente da família Reyes, e não de Jaime sozinho. Claro, ele ainda é o herói central, mas a narrativa não funciona somente ao redor dele, com seus parentes tendo bastante destaque. A família é basicamente o núcleo de tudo, funcionando como uma unidade que não tá ali gratuitamente para ser simplesmente alívio cômico, ou ser vítima e motivadora do herói.

Sua família é composta por seus pais, a avó Nana, tio Rudy e sua irmã mais nova, Milagro, e nenhum fica sobrando na história – o que aponta um roteiro bem construído, e, principalmente, que se importa em fazer uma narrativa latina. Sua família é amorosa, dedicada, unida, e não hesita em ajudar os seus. É o típico tropo de “unidos somos mais”, e funciona muitíssimo bem. A “origem latina” (por falta de um termo melhor) do Besouro Azul é um grande diferencial, e o roteiro e a direção aproveitam bastante isso para incluir referências, piadas e coisas do gênero que países para lá do continente provavelmente não vão entender.

Aliás, um destaque para o fato de que, como família bilíngue, eles passam o tempo todo misturando inglês e espanhol e isso é MUITO real!

A história acerta muito em focar em relações familiares, pois a química da família Reyes é bem gostosa, eles parecem genuinamente se importar uns com os outros, e até mesmo a adição de Jenny em seu próprio drama com a sua poderosa família traz um peso considerável à narrativa, principalmente pelo talento da própria Bruna Marquezine, que ao lado de nomes como Susan Sarandon, se destaca. O drama acaba sendo um ponto muito forte do filme, o que é surpreendente, visto que não é forçado e não está ali para uma cena apenas, para depois ser descartado.

O roteiro costura muito bem as cenas, entrelaçando de forma homogênea os seus temas com a proposta de super-herói, tornando Besouro Azul um dos melhores filmes da DC (muito melhor que The Flash). Não que a competição seja acirrada, mas ele realmente é bom. Um ponto que eu considero sendo alto é o fato de lembrar os filmes do cabeça de teia, pois os personagens têm várias coisas em comum, e se aproximam ainda mais quando comparamos com o Homem-Aranha da Marvel e a dinâmica Peter Parker-Tony Stark, que lembra muito a de Jaime com seu tio Rudy, só que melhor.

As cenas de lutas em Besouro Azul são boas e usam da criatividade, mas nem tanto, pois é visível as referências a outras produções pop, como animes e até mesmo os filmes da Marvel.

Xolo faz um trabalho ótimo como Besouro Azul, sendo muito carismático e entregando também as cenas de maior peso, além de ter uma química maravilhosa com a Bruna, fazendo os momentos de ambos serem críveis, principalmente no quesito atração. Gostei que a produção não trouxe uma brasileira estereotipada e nem caricata, muito menos sexualizada, e nem transformaram a sua etnia.

A trilha sonora é basicamente composta por músicas em espanhol, e coloca referências, como dito antes, que países não latinos terão dificuldade de pegar, como, por exemplo, novelas mexicanas que tanto vimos na década de 1990 no Brasil. Besouro Azul acerta muito nisso, e sinceramente eu vibrei muito ao assistir por me identificar com muitos detalhes da história. É bom demais estar presente de algo que não é puro suco de Estados Unidos.

Besouro Azul não termina de forma surpreendente, afinal, filme de origem, né, mas traz um final agradável e com um cliffhanger na primeira cena pós-créditos que pode empolgar os fãs do personagem.