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Duna

Em Duna, a vida do jovem Paul Atreides está prestes a mudar radicalmente. Após a visita de uma mulher misteriosa, ele é obrigado a deixar seu planeta natal para sobreviver ao ambiente árido e severo de Arrakis, o Planeta Deserto. Envolvido numa intrincada teia política e religiosa, Paul divide-se entre as obrigações de herdeiro e seu treinamento nas doutrinas secretas de uma antiga irmandade, que vê nele a esperança de realização de um plano urdido há séculos. Ecos de profecias ancestrais também o cercam entre os nativos de Arrakis. Seria ele o eleito que tornaria viáveis seus sonhos e planos ocultos?

Duna é bom?

O livro me surpreendeu. O autor, Frank Herbert, conseguiu construir não somente um mundo sólido, mas todo um universo, com regras, leis, religiões, de maneira magistral. Com uma narrativa bem amarrada, nos envolvemos na história de Paul e Jéssica junto aos fremen, assim como acompanhamos os Harkonnen, seus inimigos e causadores das maiores desgraças – sem saber que, com isso, estariam criando um adversário muito mais poderoso do que jamais imaginaram.

Publicado em 1965, o primeiro volume da série Duna tornou-se um dos livros de ficção científica e de fantasia mais vendidos do mundo, além de ter se tornado um dos pilares desses gêneros. A história se passa em um futuro distante no meio de um império intergaláctico feudal em expansão, onde feudos planetários são controlados por Casas Nobres que devem aliança à casta imperial da Casa Corrino. O conflito principal que dirige a narrativa de Duna é o duelo político entre três famílias nobres: a Casa Imperial Corrino, a Casa Atreides e a Casa Harkonnen. No meio desse conflito, temos o planeta Arrakis, cuja utilidade é a extração de uma especiaria, melànge, que é crucial para o funcionamento da poderosa Corporação Espacial, que mantém um monopólio sobre as viagens interestelares.

Toda tecnologia existente é analógica ou biológica, os computadores são evitados e os feudos se utilizam dos Mentat, homens que são treinados para substituirem essa tecnologia, e também as Bene Gesserit, uma ordem feminina secreta de guerreiras mortais e intelectos perigosos que vêm, secretamente, movimentando a política e a religião para criarem o seu messias, o chamado Kwisatz Haderach – que terá habilidades de presciência superiores a dos Mentat e a das próprias Bene Gesserit. É aqui que entra Paul. Filho de Leto Atreides e da Bene Gesserit Jéssica, o rapaz acaba se tornando o centro de toda a ação religiosa e política, além de ecológica, de Arrakis. Ele e sua mãe passam a viver junto aos fremen, povo nativo do planeta Arrakis, que são fanáticos religiosos e vêem os gigantescos vermes de areia como deuses. A moeda, para eles, é a água – algo escasso no planeta.

O livro tem uma narrativa gostosa, o que me surpreendeu, pois mesmo rica em neologismos (palavras criadas pelo autor para a obra) e analogias, você compreende inteiramente o plot, se envolve nas questões e acompanha todo o desenrolar da trama – eu temia que fosse difícil de entender, pois o livro é extremamente político e religioso, mas o autor utiliza-se do recurso de expor tudo o que você precisa saber ao longo da história. Às vezes, expositivo demais, a ponto de repetir a mesma questão mais de uma vez, como se Frank tivesse medo que o seu público não conseguisse acompanhar todo o emaranhado que ele criou. Apesar disso, somos jogados a um universo inteiramente novo, mesclado com elementos que conhecemos, o que torna tudo mais fácil.

Os capítulos não são enumerados, sendo abertos com citações de livros ficcionais que teriam sido escritos depois dos acontecimentos em Arrakis e oferecem insights sobre a narrativa. Há também três apêndices, no qual o primeiro apresenta o sistema ecológico de Duna a partir do ponto de vista de um planetólogo, que tem importância nos eventos da história; o segundo é uma historicização das práticas religiosas dos fremen, que combina os aspectos do Budismo Zen, Islã e Cristianismo; o último situa alguns aspectos da ordem das Bene Gesserit e sua teologia, amarrando um outro aspecto religioso que não aparece no apêndice anterior. Por fim, Herbert também inseriu um dicionário com algumas palavras-chave e seu significado – como dito anteriormente, o autor criou palavras para a sua obra.

Agora, uma problemática pertinente é o fato do autor ser extremamente gordofóbico, a ponto do “vilão” ser gordo e ele ser descrito o TEMPO TODO COMO GORDO, como se a gente não já soubesse das outras mil vezes em que esse detalhe foi citado, e o “herói” ser magro e isso ser apontado mais de uma vez. Isso me incomodou muito ao longo da história, com essa demonização extremamente desnecessária de uma pessoa gorda. Por pior que seja uma pessoa, o peso dela não é o que influencia o seu caráter.

Tirando isso, o livro é uma excelente analogia aos tempos que vivemos na década de 1960 e até mesmo atualmente, pois sabemos que a história tem se repetido até demais.