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A Bruxa | Final explicado e outras interpretações

Lançado em 2015, A Bruxa é um filme que impactou o mundo do cinema de terror usando uma abordagem bastante referenciada de uma forma densa, trazendo diversas questões mundanas como fanatismo e culpa através de personagens intrigantes.

A trama do filme de Robert Eggers é ambientada no século XV e mostra uma família sendo expulsa de uma comunidade radicalmente religiosa. Após uma jornada em busca de um novo lar, eles encontram um espaço aparentemente produtivo próximo a uma floresta. Os problemas começam quando o bebê da família desaparece.

O que aconteceu naquele final de A Bruxa?

No final, temos Thomasin (Anya Taylor-Joy) acordando em volta a duas cabras mortas enquanto seu pai, William (Ralph Ineson) logo é atacado pelo sinistro bode Black Phillip. Gravemente ferido, o homem alcança um machado para tentar dar cabo ao animal, mas ele acaba sendo golpeado novamente e atirado contra a parede, fazendo com que a pilha de lenhas que cortou ao longo do filme caia sobre ele, morto. A mãe da moça, Katherine (Kate Dickie), entra em cena botando toda a culpa em Thomasin e a ataca verbal e fisicamente, que se defende e acaba golpeando a mãe com o machado até a morte. Depois disso, a moça vai ao encontro de Black Phillip, com quem faz um pacto. Desse modo, ela caminha até o interior da floresta, onde encontra outras garotas num ritual bizarro, culminando numa levitação coletiva, o que também ocorre com Thomasin. Fim.

A culpa cristã

Recapitulando, as duas cabras representam que os irmãos menores de Thomasin, Mercy (Ellie Grainger) e Jonas (Lucas Dawson), foram mortos. A morte do patriarca também possui boa carga de simbologia, pois em diversos momentos do filme é mostrado o corte de lenha como uma atividade que ele pratica não apenas por necessidade, mas também para distrair a mente e esquecer dos problemas. Quando ele morre, é o momento em que toda a culpa acumulada pelos seus atos desmorona junto com sua vida, visto que se sente responsável por toda a desgraça que acontece e até coisas menores, como o não batismo do bebê Samuel.

Há algumas linhas de interpretação para A Bruxa, e uma das mais ricas e cheias de referências é a da culpa cristã e ela está diretamente ligada à cena final. A sociedade apresentada no longa possui um viés religioso fortíssimo, e mesmo sendo expulsa de uma comunidade ainda mais radical, esse nível de devoção se aplica à família protagonista. Logo, sabemos o quanto as mulheres sofriam com acusações de bruxaria, sendo obrigadas a limitar suas ações no dia a dia, muito mais que os homens. Por mais que existam bruxas de verdade no universo apresentado no filme, a cena final com as garotas e a própria Thomasin levitando representa a conquista de uma liberdade negada há tempos, passando por cima da culpa por Samuel ter sumido aos seus cuidados, pelo sumiço e morte do seu irmão Caleb (Harvey Scrimshaw) e pela derradeira cena com o pai, quando é acusada pela própria mãe de ter corrompido os dois últimos com a sedução pecadora.

A culpa continua quando olhamos para outros detalhes como Caleb cuspindo a maçã mordida pouco antes de morrer. Sabemos que o garoto estava num período de puberdade aflorando, inclusive com sentimentos incestuosos pela irmã Thomasin, que é intimada a contar sobre o que eles conversaram na floresta. O conteúdo desta conversa permaneceu em segredo, mas a maçã mordida indica que ele pode ter revelado seus sentimentos e suas intenções para a irmã.

Nem mesmo o bebê escapa desse círculo culposo, uma vez que ele não foi batizado. Sabemos disso através do diálogo entre esposa e marido.

Das culpas do marido, a que mais se destaca é a não adequação às regras da comunidade em que eles viviam até serem expulsos. Levando em conta o lugar inóspito onde foram parar, a comunidade (somada à vertente religiosa) é uma representação do que a bíblia coloca como o paraíso.

Considerações finais

Concorda com o que foi dito ou não? São apenas alguns apontamentos depois que vi A Bruxa disponível no catálogo da Netflix. Achei o trabalho de muito rico e recomendo fortemente que você também veja. Claro que, se chegou até o final deste texto, é porque já assistiu ao filme.