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Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Confesso que fui para a sessão de Doutor Estranho no Multiverso Loucura temeroso. O tamanho da expectativa gerada para o filme alcançou níveis altíssimos, visto que a Marvel Studios passou a promover o longa com a mesma dimensão dada a Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. Isso se deu tanto pelo contexto do multiverso quanto pela informação de que Sam Raimi precisou inserir mais cenas e personagens (leia-se: fan service) para atender uma porção de teóricos da internet, doidos para encontrar no meio da história figuras de outrora do cinema Marvel como X-Men, Quarteto Fantástico etc.

Isso poderia significar a repetição do desastre que foi Homem-Aranha 3 (2007), quando o diretor engoliu absolutamente todas as imposições da Sony para entregar um dos piores filmes de super-herói já feitos. Mas o resultado foi o contrário: o novo longa não apenas é divertidíssimo e bem amarrado como tem a legítima assinatura de Raimi, que traz em sua bagagem a vasta experiência como cineasta do terror. Fazendo, inclusive, o que o diretor do primeiro filme (Scott Derrickson, que se destacou inicialmente dentro do mesmo gênero) não conseguiu – e felizmente deu lugar para Raimi na direção desta sequência.

Sendo assim, a nossa crítica (sem spoilers) já adianta que Doutor Estranho 2 é um filmaço.

A trama do filme já começa em sentimento de urgência apresentando America Chavez (Xochitl Gomez), uma garota que possui a habilidade de viajar pelo multiverso mas não consegue controlar esses poderes, que se manifestam nos momentos de maior tensão. Ela escapa da morte quase certa e vai parar na realidade regular do MCU que acompanhamos. Lá, Stephen Strange a encontra e passa a buscar maneiras de protegê-la enquanto busca uma solução para uma ameaça ainda maior ao multiverso.

Feiticeira Escarlate sai melhor do que a encomenda

Dentre as produções ideais para ver antes deste filme, WandaVision é a que mais se faz necessária. Lá, tomamos conhecimento do quão pesado o mundo foi para a personagem de Elizabeth Olsen, que entrega sua melhor atuação depois da série coestrelada com Paul Bettany. Me desculpe se você considera isso um spoiler, mas já estava bastante claro que Wanda seria uma antagonista. Só não tínhamos a noção de que seria tanto, e isso tem muita relação com o livro Darkhold apresentado no seriado. Para quem ainda não viu – e não está com tempo ou saco para ver agora – não se preocupe: o próprio texto coloca as explicações para o espectador não ficar boiando.

Falando em roteiro, vale destacar a bela amarração promovida por Michael Waldron. Além de ter trabalhado na série Loki como produtor e roteirista, se aproximando do universo Marvel e ainda mais do multiverso, ele também tem em seu currículo a colaboração com a estimada animação Rick e Morty. Na prática, Waldron consegue (dentro das previsibilidades do gênero) interessantes viradas na trama mesmo pra quem decifrou os trailers e comerciais diversas vezes.

Doutor Estranho 2 é um filme de terror?

Diferente do primeiro longa, dessa vez podemos encaixar a produção numa espécie de ação com elementos do terror. O manjado, mas potencialmente eficiente, jump scare, personagens tenebrosos (zumbi, monstros e espíritos), cenários assombrados/bizarros e a mitologia própria de livros mágicos são temas que fazem Sam Raimi parecer o nome ideal para o projeto (é só pegar como exemplo seu primeiro trabalho, Evil Dead, que você irá entender), e o diretor não decepciona. Fica-se, inclusive, a surpresa pela Marvel Studios ter permitido uma porção de cenas com mortes chocantes e até desconcertantes para parte dos espectadores. Nesse aspecto, o trabalho do diretor de fotografia John Mathieson precisa ser elogiado.

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Dentre os atores e atrizes, também foi interessante ver Rachel McAdams tendo mais destaque com sua personagem Christine Palmer. Sua importância, no entanto, não vai além de ser uma ferramenta narrativa para explicar os dramas de Stephen Strange, que tem em Benedict Cumberbatch seu intérprete absoluto, tal qual Tony Stark teve com Robert Downey Jr. Mas isso nós já sabíamos, certo?

Esses dilemas de Stephen, junto com suas manias e seus medos, estão presentes em todas as suas versões pelo multiverso, o que torna a missão de diferenciar o do universo 616 (o regular) ainda mais desafiadora. A resposta para essas questões não são claras ou determinantes, no entanto.

Olhando pra trás, a remoção de Xochitl Gomez e sua America Chavez de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa parece ter sido um acerto, por mais que a mudança tenha se dado por uma necessidade de agenda (Multiverso da Loucura era para ter sido lançado antes do filme do teioso). Ela consegue valorizar em muito a trama do filme, apesar do recorte final ficar devendo algumas coisas à personagem. Como referência, fica um divertido diálogo entre ela, Wong e Stephen a respeito de como seria a anatomia de um Homem-Aranha.

O fan service de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Já era esperado e confirmado, para quem assistiu aos materiais de divulgação, a presença do professor Charles Xavier de algum universo, assim como a Capitã Carter (numa realidade onde Peggy tomou o soro do supersoldado) e a Capitã Marvel de Maria Rambeau. Além desses, posso garantir ao menos mais um grande personagem esperado pelos fãs, mas a peleja aqui é sem spoilers, então não vou falar disso.

No entanto, nem é um assunto tão relevante assim frente ao verdadeiro coração do filme. No final das contas, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura bate de frente com a própria máquina publicitária que o vendeu para arrecadar o esperado bilhão que quase todo filme de herói almeja ultimamente. A presença do fan service nada mais é do que a própria palavra indica, sendo muito mais preferível uma obra com assinatura do seu diretor.