Publicado no Japão e circulando pela internet desde 2018, o mangá de Jujutsu Kaisen, escrito e ilustrado por Gege Akutami, conseguiu sua fama no Brasil e no mundo no final de 2019 com o lançamento da primeira temporada do anime.
E o sucesso não foi por nada, pois a produção da primeira temporada está nas mãos do estúdio MAPPA, que tem tido um crescimento fenomenal nos últimos anos, nos presenteando com produções como Yuri on Ice (2016), Banana Fish (2018), To the Abandoned Sacred Beasts (2019), Taiso Samurai (2020), Dorohedoro (2020), The God of High School (2020) e muitas outras, todas com diversos pontos positivos em questões narrativas, escolhas criativas, direção e tudo mais.
Com Jujutsu Kaisen, Akutami apresenta Itadori Yuji, um personagem principal clichê, inspirado em diversos outros protagonistas do shonen como Uzumaki Naruto, Gon Freeacs ou Kurosaki Ichigo. Mas isso não é ruim, pois Itadori é cheio de carisma, com uma forma física anormal, bobo, e uma ótima aptidão mental para crescer em combates. Isso é positivo porque o autor pega o necessário para transformar seu protagonista em alguém que segura a narrativa, ao mesmo tempo em que abre caminho para desenvolver outros personagens.

É dessa forma que também conhecemos outros personagens centrais à trama, como Megumi Fushigoro, Kugisaki Nobara e o “apelão” Gojo Satoru – este que chega não apenas como a figura do professor, mas também é quem apresenta toda a complexidade do mundo jujutsu, principalmente nas habilidades especiais.
Nesse ponto, Gege Akutami bebe bastante do que vemos em Hunter x Hunter, de Yoshihiro Togashi, com Nen. O Nen, assim como a “energia amaldiçoada”, possui regras, e são estas possibilidades impostas não somente pelo mundo mas também pelo usuário que fortalecem a técnica utilizada. Com base nisso, o anime traz um leque amplo de possibilidades para toda a trama, além de mostrar que, até mesmo uma habilidade simples estando nas mãos certas, podem fazer um estrago grande.
Além disso, Jujutsu Kaisen mostra também que não precisamos de personagens barulhentos, como temos visto em diversas obras recentes. Cada um possui uma característica própria, mas mostrada sempre com seriedade. Desde o início, o anime trabalha com as probabilidades da morte, da crueldade e angustia do mundo dos feiticeiros – e Itadori carrega o peso de tentar ajudar as pessoas a todo custo. Talvez este seja esse um dos maiores pontos fortes do anime.
O estúdio MAPPA foi uma das melhores escolhas para transformar a obra em anime – E, se tratando de questões técnicas, isso é retratado muito bem nos storyboards, com uma fluidez na animação e a mescla de ambientes e personagens em 2D com animação em 3D, coisa que fizeram bastante na adaptação de Dohoredoro.
Assim, como o pessoal do Sakuga Brasil costuma colocar, a escolha de Sunghoo Park para a direção da primeira temporada do anime não foi à toa. Diretor principal de The God of High School, que teve ótimas composições e cenas (mas o roteiro não ajudou), Park chegou no anime de Jujutsu Kaisen com vários contatos de animadores, como Keiichiro Watanabe, de Mob Psycho 100, que ajudou muito na composição visual do anime.
Ao longo de toda a temporada, que terminou com 24 episódios, o seriado trouxe diversas cenas memoráveis, mesmo com algumas inconsistências, como nas fotografias, influências e estilo de Park, mas o saldo de tudo é muito positivo. São apenas questões técnicas que, por mais que sejam questionáveis, não atrapalham a animação, chamando bastante atenção do público.
Um dos pontos fortes dos shonens são as cenas de combate, e o MAPPA em Jujutsu Kaisen não fica atrás. Desde o primeiro episódio já vemos com clareza que a produção terá boa parte de seu desenvolvimento voltada para a pancadaria restritiva – uma que não seja a luta pela luta, mas com um propósito.
Coroando toda a temporada estão as duas aberturas e encerramentos, que mostram uma combinação de ritmo e animação que há muito tempo não eram vistas em animes mais populares. Sem dúvidas, as músicas e os estilos de animação estarão na cabeça de muitas pessoas por um bom tempo. Não é à toa que 2020 foi o ano do estúdio MAPPA nos animes, e Kaisen teve o seu reconhecimento merecido, pois é um ótimo mangá e o anime termina deixando um gostinho de quero mais.
Além disso, seguindo o exemplo do que foi com Kimetsu no Yaiba, já foi anunciado um filme animado baseado no mangá de Akutami, que vai adaptar o volume zero, que apresenta Yuuta Okkotsu, um dos personagens mais poderosos da trama. Todos os 24 episódios estão disponíveis na plataforma da Crunchyroll, e com dublagem em português brasileiro.