Encadernado da Mithos traz o jovem Conan para velhos e novos leitores
“Eu me lembro…
Da floresta negra recobrindo as colinas sombrias;
Das nuvens cinzentas eternamente no céu;
Dos riachos escuros que fluíam em silêncio,
E da brisa lúgubre, sussurrando nos desfiladeiros.
Assim era minha terra.”
Publicado em 2011 aqui no Brasil pela Editora Mithos, Conan – Ciméria é um encadernado que mostra um novo vislumbre e maior entendimento da agitada vida do Cimério de Bronze. Na história acompanhamos um ainda jovem Conan voltando à sua terra natal, cheio de grandes feitos para contar e com grande fama apesar da pouca idade.
Trazer à tona esse novo encontro de Conan com sua terra é uma excelente forma de novos leitores conhecerem melhor as dores e se aprofundarem na psiquê do personagem, pois o mesmo sempre sofreu com o fato do grande público achar que ele não tem nenhum conteúdo, sendo apenas um bárbaro monossilábico como mostrado nos filmes protagonizados por Arnold Schwarzenegger. Apesar de gostar muito dos filmes, eles não representam Conan e todas as suas particularidades.
Na verdade, Conan (criado por Robert E. Howard, pai do gênero “Espada e feitiçaria) sempre se mostrou um personagem muito mais abrangente seja em seus contos ou nos quadrinhos, representando o olhar estranho sobre esse mundo e seus povos, podendo se maravilhar com as belezas de sua tribo ao mesmo tempo que percebe o quão bárbaros e mentirosos esses povos civilizados podem ser.
Na história, o futuro Rei da Aquilônia entenderá melhor desta fria terra cheia de misticismos, onde o passado fará parte da sua vida novamente ao encontrar uma antiga amante, sua primeira paixão. Há também um violento confronto tribal ocorrendo e a edição já começa introduzindo o leitor na terra de nosso herói, iniciando a narrativa com um conto de Robert E. Howard chamado “Ciméria”. O roteirista Tim Truman escolheu por trazer para a história o passado de alguém muito importante para a vida do Cimério, seu avô Connacht. Foi ele quem despertou a curiosidade em Conan para que o jovem tivesse esse desejo em conhecer e desbravar os segredos da era Hiboriana, e cada capítulo é intercalado com o presente de um e o passado do outro.
A arte fica por conta do argentino Tomás Giorello, que faz trabalho belíssimo de acordo com o visual proposto nos roteiros de Truman. Um artista que fincou seu nome nessa nova fase do cimério, lembrando bastante a arte de outro companheiro de profissão que trabalhou nas páginas de Conan, Cary Nord. Um dos pontos altos do encadernado fica por conta do artista escolhido para desenhar as aventuras de Connacht: o lendário Richard Corben, que entrega uma arte forte e marcante, trazendo o balanço ideal para o desenvolvimento dos capítulos.
A edição ainda é recheada de extras, como um de posfácio escrito por Timothy Truman acompanhado com os esboços dos cadernos de Corben e Giorello. E cada separação de capítulo contém as capas originais das 7 edições de Conan The Cimmerian, ilustradas pelo talentosíssimo e polêmico Frank Cho. Há também as pequenas histórias da vida de Robert E. Howard, as aventuras de Bob Cano-Duplo produzidas em cimas de suas cartas, além de cartas endereçadas a grandes e famosos amigos de pena de Howard, como H.P. Lovecraft.
Conan – Ciméria, é uma excelente história para novos leitores conhecerem a verdadeira essência e entender como funciona a mente do personagem, que de bárbaro não tem nada. Pelo contrário, essa história mostra muito de sua sagacidade nessa viagem ao passado. Mesmo sendo de rápida leitura, ela em nada pode ser chamada de rasa. E o leitor mais antigo vai se deliciar com momentos cheios de referências do passado do futuro rei e como sua terra moldou todo o seu espírito e caráter.