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Skinamarink: Canção de Ninar

Após se tornar um fenômeno na internet, Skinamarink chega ao circuito comercial brasileiro carregando o desafio de corresponder às expectativas (um tanto exageradas) por ser um dos filmes mais aterrorizantes dos últimos anos. A verdade é que, dependendo do seu gosto por filmes, o longa de estreia do promissor Kyle Edward Ball pode ser altamente recomendado ou definitivamente não indicado. Vai do gosto do freguês.

Por exemplo, se você encara filmes de terror com a sofisticação de um A Bruxa (2015, de Robert Eggers), O Bebê de Rosemary (1968, de Roman Polanski) ou O Iluminado (1980, de Stanley Kubrick), pra ficar em exemplos atemporais de terror com qualidade, e possui um apreço por produções experimentais, Canção de Ninar (subtítulo cunhado para a corrida nos cinemas brasileiros) pode ser uma boa. Acrescente na equação a virtuosidade de um found footage de baixo orçamento como A Bruxa de Blair (eu sei, Skinamarink não é um found footage, mas possui algumas similaridades com o subgênero) e temos um filme.

Na história do filme, temos apenas quatro personagens, que são o pai, a mãe e seus filhos Kevin (um menino de quatro anos) e Kaylee (uma menina de seis). Em dado momento, as crianças se veem enclausuradas, em que as portas e janelas dentro de sua casa desapareceram, assim como seus pais. Para amenizar a situação assustadora, as crianças se acomodam na sala, assistindo desenhos antigos na TV. Porém, uma série de acontecimentos inexplicáveis dão conta de que há algo ou alguém cuidando deles.

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Independente do que eu, você ou o rei da Inglaterra acha desse filme, é um fato afirmarmos que trata-se de um sucesso comercial, afinal, foram cerca de quinze mil dólares canadenses para essa produção, que faturou cerca de dois milhões de dólares estadunidenses na bilheteria mundial.

O que diabos significa a palavra Skinamarink?

Geralmente, os subtítulos colocados nos filmes que o cinema brasileiro importa são alvo de críticas por tratar o espectador como bebês que precisam saber mais além de um título enigmático para se interessar em comprar o ingresso, e essa é a provável explicação para o Canção de Ninar. No entanto, vale dizer que a palavra Skinamarink vem de uma canção chamada Skidamarink, popular na América do Norte e escrita em 1910 para uma produção da Broadway chamada The Echo. A palavra em si não possui significado algum.

É nessa atmosfera de terror infantil que o filme mostra a que veio. A ambientação na década de 1990 aliada a uma casa escura cheia de acontecimentos bizarros alimenta diversas teorias sobre o que pode estar acontecendo ali: trata-se de um pesadelo de uma das crianças? Uma dimensão paralela? Há alguma entidade causando de fato todo esse rebuliço? Há mais perguntas do que respostas aqui.

Pensar nelas, mesmo que sem conclusão, não deixa de ser um exercício interessante. Trazendo essas questões para a nossa realidade, há campo para refletir sobre abandono parental, violência doméstica ou simplesmente em como de vez em quando era de borrar as calças acordar no meio da noite quando criança.

O que embala toda a confusão no espectador é o bom trabalho de Kyle Edward Ball e sua equipe. Ângulos que entregam parcialmente o cenário é o feijão com arroz da produção, isso quando não nos deparamos com distorções dentro destes cenários, que vão tomando outras formas enquanto ainda tentamos interpretar o que está em tela. Em dado momento, na perspectiva de uma das crianças, até de cabeça para baixo passa a ser a nossa visão. Movimentações vagarosas, objetos que aparecem e desaparecem e até uma certa sintonia entre os acontecimentos e o desenho na TV são instrumentos para despertar em nós um pico de tensão inquietante, desses em que a expectativa apavora muito mais do que o susto.

E aí, Canção de Ninar vale à pena?

Vale, mas se você não se envolver com o filme, serão cem minutos de puro tédio. Pelo caráter experimental, talvez esse trabalho se encaixasse muito melhor nos moldes de um curta-metragem, mas o saldo é positivo, no final das contas. Desse modo, indico a você paciência e nada de celular enquanto curte a sessão.