A franquia Predador é um caso curioso em Hollywood. Com exceção do ótimo longa original, lançado em 1987 e estrelado por Arnold Schwarzenegger, nenhum outro exemplar conseguiu agradar a crítica e o público. Na verdade, a maioria das continuações e dos spin offs parecem se esforçar para destruir o legado do clássico personagem. Ainda assim, a figura do letal caçador extraterrestre cravou seu lugar no imaginário da cultura pop. Por isso, muitos fãs sonhavam com o dia em que um novo filme faria justiça ao impacto cultural da primeira incursão cinematográfica. Celebrando os 35 anos de lançamento do filme original, eis que chega ao catálogo do Star+ O Predador: A Caçada (Prey). E ainda que não seja tão bom quanto seu antecessor, demonstra que existem rumos interessantes para o futuro da saga.
Imaginado como um prelúdio, O Predador: A Caçada é ambientado em 1719, mostrando o primeiro contato do alienígena com a Terra. Na trama, acompanhamos a jovem Comanche Naru (Amber Midthunder), uma habilidosa e inteligente caçadora que luta para provar seu valor diante de seu irmão Taabe (Dakota Beavers) e toda a tribo. A oportunidade surge quando ela descobre que uma nova espécie está destroçando animais e deixando um rastro de morte pelo caminho. O principal acerto do longa é retornar ao básico, longe da megalomania que costuma surgir em produções desse tipo. Tudo gira em torno da dinâmica de caçador e presa estabelecida logo após o primeiro contato entre a protagonista e seu inimigo.
Naru e o Predador são caçadores em sua essência. Interessante notar como a tecnologia do monstro é menos avançada do que estamos acostumados. Pode ser uma questão temporal ou uma forma de tentar emular o nível das armas presentes no período retratado. Uma maneira de tornar a perseguição mais prazerosa. Já a jovem Comanche evolui constantemente ao decorrer da trama, compensando questões físicas com inteligência e engenhosidade. Dentro do roteiro, isso resulta em um combate final mais equilibrado. É possível questionar o desenrolar da batalha, mas ela é condizente com a lógica trabalhada na franquia até hoje.
A direção de Dan Trachtenberg (do ótimo Rua Cloverfield, 10) em Prey consegue captar com precisão as cenas de ação, usando de ângulos abertos para situar o espectador durante os combates. Isso evita a utilização da famigerada câmera tremida, que causa mais desorientação do que imersão nos momentos cruciais. O ambiente também é um componente importante da história, perfeitamente explorado pela fotografia de Jeff Cutter. Toda a brutalidade das lutas e das mortes serve ao propósito estabelecido pela narrativa e não como um mero espetáculo vazio.
O ponto fraco está no roteiro de Patrick Aison, em seu primeiro trabalho com longa-metragem. Num filme com poucos diálogos, não existe necessidade que boa parte deles sejam utilizados para repetir as mesmas informações que vimos algumas cenas antes. A busca de Naru por reconhecimento é abordada constantemente, assim como as funções de um determinado medicamento. Além de constatações óbvias, como os responsáveis pelo massacre de alguns animais no campo. Na realidade, esse é um defeito presente em várias produções atuais. Como se o espectador não fosse capaz de absorver certas situações.
Com uma protagonista forte e ótimas cenas de ação, O Predador: A Caçada (Prey) é um bom retorno de uma franquia que sofreu bastante nos últimos anos. Ampliando a mitologia apresentada em longas anteriores, abre espaço para novos e interessantes projetos no futuro.