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X – A Marca da Morte mostra que o slasher ainda tem salvação

Imagine a seguinte situação: fim de semana, parte da noite, você está rodando o catálogo de filmes de terror, vê um filme que parece ser legal, dá play e não engole os primeiros 30 minutos. Situações como essa se tornaram muito comuns para os filhos da noite do cinema. Porém, graças aos deuses, X – A Marca da Morte fez questão de ser um albergue fora da curva.

O contexto de X

Ambientado na década de 1970, X – A Marca da Morte é uma grande aposta dos estúdios A24, que vem ascendendo ao longo desses últimos anos. Desde suas primeiras produções, a marca de ser autêntica e de criar uma história rica em todos os aspectos deu fama à produtora. Aqui, em X, ela entrega o que grande parte dos fãs de terror quer: uma merecida final girl, uma história arrepiante e um roteiro coerente.

O filme é dirigido por Ti West (Você é o próximo e O Último Sacramento) e, pasme, não inova em quase nada do que se prepõe. Bom, eu disse quase nada. Apesar de algumas particularidades vistas em X, o diretor usa de fontes diretas do slasher para fazer com que o filme conte a premissa singular da trama. O apelo a O Massacre da Serra Elétrica mais parece uma dádiva do que algo para se incomodar durante o corre corre dos personagens.

Ademais, é preciso notar que esses elementos conversam muito bem entre si e trazem uma autenticidade ao filme. Por conseguinte, todos os ingredientes ficam marcados e criam um universo apenas para si, mas que funciona bem quando sobrepostos no final. Desde personagens significativos a um imediatismo trágico, é notório analisar que quase tudo ali funciona, principalmente se você for apaixonado por terror.

X tem essa necessidade: ele pede que você preste atenção e entenda, mesmo não sendo complexo de entender. Assim, ele vai construindo uma disposição com o espectador para mostrar que tem muito mais por debaixo daquela superficialidade de tricô. O clichê do slasher é muito bem usado e nos leva direto para um conceito. Isto é, o personagem machista é assim por um motivo, a cena explícita é assim por conta de outro, o vilão age assim levando em conta tal fator etc.

Por mais que pareça simples, esse é o caminho que grande parte das franquias de terror tem errado nos últimos tempos. De nada adianta uma complexidade de outro mundo no enredo se ela está além do limite do que precisa ser trabalhado. Dessa forma, filmes como X ganham mais relevância por serem diretos na trama e por saberem trabalhar com limites imaginários dentro do sucesso do gênero.

O melhor de X – A Marca da Morte

Vários pontos fortes fazem com que o filme convença em todas perspectivas. Um deles é Pearl (Mia Goth). A personagem encanta pelas delicadeza e impassibilidade diante dos acontecimentos. Em volta dela, todos os outros centros criam vida, mas mal sabem eles que estão apenas colorindo o caminho dela com sangue.

Apesar de beber de várias fontes, X tem algo singular em como cria a monstruosidade. Ela existe, você sabe que existe, mas não te incomoda tanto. Ela te comove, você sabe que comove, mas não a ponto de sensibilizar. Ela te causa repulsa, mas não a ponto de desgrudar o olho da tela. Da mesma forma, você monta todo cenário violento na sua cabeça, mas é surpreendido com elementos que eram óbvios demais desde o começo.

Vilão de X - a marca da morte

Além das linhagens do thriller, a A24 aposta no cult que vai direto na década de 1970 e acaba criando uma série de figuras de linguagens. O filme conversa mesmo nas cenas silenciosas, mexendo com erotismo, asco, dúvida e tédio. O pior de tudo é que ele te abandona no final e te faz perceber que você não viu mais do mesmo. Não vai ter uma adaptação tão boa quanto aquela no catálogo da Netflix com adolescentes do momento.

É por isso que um bom filme de terror chega perto de ser clássico quando se destaca muito dentre os outros. Ele vira referência e cria um certo tipo de limite, mas que talvez só ele saiba fazer. Em seguida, continuações e extensões da franquia vão sendo possíveis e aceitas pelo público quando a receita pede bis.

A fórmula de X deu tão certo que o segundo filme da franquia, Pearl, chega em setembro nos cinemas. O que tem cara de mais um clássico do terror vem carregado de expectativas, não tão cults desta vez.

X vale a pena porque é bem feito. O preciosismo pelas referências faz com que possamos estar em um confort place vivendo uma nova experiência. A paixão pelo antagonismo do vilão vem de outras casas abandonadas e sítios no meio do nada.