O título brasileiro das Tartarugas Ninja esconde duas palavras importantes presentes no original Teenage Mutant Ninja Turtles. E são justamente as palavras “adolescente” e “mutante” as mais importantes do novo filme animado dos heróis quelônios mascarados, produzido por Seth Rogen e Ewan Goldberg (que já trabalharam juntos em The Boys e Superbad).
O filme animado As Tartarugas Ninja: Caos Mutante reconta a história dos clássicos personagens que já foram representados várias vezes em tantas mídias. Aqui algumas mudanças foram feitas, deixando o famoso vilão Destruidor e o Clã do Pé de lado da origem das tartarugas e do Mestre Splinter. Em vez disso, os personagens mutantes como Superfly, Bebop, Rocksteady e vários outros vão dividir a tela com os protagonistas.
É impossível começar a falar dessa animação sem destacar seu visual ousado e claramente inspirado na franquia Aranhaverso. Logo de cara percebemos um visual bem quadrinhos e um design de personagem bem único, realizado pelo ilustrador Woodrow White. Eu já conhecia o artista e fiquei bem feliz de o ver encabeçando a direção de arte do filme. Acho a escolha artística audaciosa, pois diversos personagens possuem um visual bem deformado e bizarro, fugindo do padrão de várias animações infantis atuais.
Apesar disso, o visual das tartarugas não poderia ser melhor. Eu costumo dizer que as Tartarugas Ninja tem um dos melhores character designs já feitos e muitas das suas reimaginações mexem demais com a ideia original. Aqui, cada um dos irmãos tem detalhes para os diferenciar ao mesmo tempo em que mantêm sua essência original. Apesar de ser muito fã do estilo artístico do longa, acho que às vezes ele é “sujo” ou escuro demais, dificultando o entendimento em algumas cenas de ação.
Falando dos nossos protagonistas, eles são, de longe, a melhor coisa do filme. A escolha de os colocar como, literalmente, adolescentes faz total sentido narrativo pelos seus anseios, suas falhas, suas personalidades e seus modo de agir. Eles têm uma ótima química e o roteiro consegue diferenciar bem os quatro, dado a duração do longa. Além disso, a animação desenvolve bem os personagens de Splinter (com a voz de Jackie Chan) e April (Ayo Edebiri), lhes dando um próprio arco narrativo bem fechado. Como um produto infantil, o longa vai mais para o lado da comédia com ação, funcionando muito bem com diversos momentos divertidos. O roteiro traz uma história simples, mas com mensagens bem bonitas sobre família e aceitação.
As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é um novo recomeço de uma franquia tão famosa em várias mídias. Com um estilo artístico ousado e uma história cheia de coração, será um deleite tanto para adultos nostálgicos como para jovens tendo seu primeiro contato com as tartarugas. Mas acho que a escolha bizarra de arte pode assustar algumas crianças, com seus personagens asquerosos. Ele me lembrou bastante a animação Rango, com personagens bem caricatos e interessantes.
“Caos Mutante” consegue misturar bem ação, comédia e drama em uma história que não reinventa a roda, mas cumpre bem seu papel. A cereja do bolo é a trilha sonora lotada de rap de Nova Iorque e até mesmo algumas surpresas que vão trazer um sorriso no rosto dos “véio cringe”.