A busca pelo par perfeito. Uma corrida incessante que assumiu várias formas durante a história da humanidade. Chegando ao ápice da praticidade com o surgimento dos sites e aplicativos de relacionamento como eHarmony, Tinder, Badoo e afins. Encurtando boa parte do processo de paquera, esses atalhos tornaram-se essenciais para quem já não estava disposto a passar pelo ritual desgastante de deslocar-se de balada em balada na procura por alguém interessante e que compartilha-se dos mesmos gostos. Por isso, não surpreende que Charlie Brooker tenha escolhido abordar esse tema em Hang the DJ.
No quarto episódio da nova temporada, as pessoas vivem em um mundo comandado por um sistema de relacionamentos que analisa o nível de compatibilidade entre elas e define um parceiro (a) ideal. É nesse cenário que Amy (Georgina Campbell) e Frank (Joe Cole) vivem os encontros e desencontros na luta para ficarem juntos. Como esse quarto ano claramente recicla abordagens de episódios passados, não é loucura comparar Hang the DJ com o excelente San Junipero. Pelo menos no tom da abordagem.
A premissa de misturar sentimentos e tecnologia é, novamente, bem utilizada. Ainda que as ideias sejam menos mirabolantes que o habitual, o resultado é um episódio sucinto na hora de apresentar a problemática da vez. É impossível definir o amor através de linhas de códigos que geram ‘matchs’. A perfeição idealizada pelo sistema não abre espaço para os sentimentos dos usuários. É uma visão evolucionária do que fazemos diariamente ao analisar dezenas de perfis em busca de alguém para beijar ao final do dia.

Em determinado momento do episódio, Amy e Frank conversam sobre o quanto era complicado gerenciar um relacionamento no “passado”. Especialmente na fatídica hora do término, que sempre gera arrepios em quem precisa passar por isso. Curiosamente, até mesmo essa etapa fica por conta do aplicativo. Sempre que saem para um encontro, os usuários descobrem quanto tempo o relacionamento irá durar. 12 horas, 9 meses, 5 anos. Através da tentativa e erro, a IA define padrões de comportamento para encontrar o tal par perfeito. Imagine viver 5 anos com alguém que você odeia, apenas pela promessa de encontrar o verdadeiro amor logo em seguida.
O diretor Timothy Van Patten, marcado por trabalhos em séries mais “sujas” como Boardwalk Empire, Sopranos e Game of Thrones, consegue entregar um episódio surpreendentemente delicado. E que não trava na hora de resolver sua história. A química entre os protagonistas é essencial para que o espectador compre a ideia. E o final embalado por Panic, um dos grandes hits do The Smiths, é um dos mais lúdicos de toda Black Mirror. Além de ter sido do refrão dessa canção que Charlie Brooker tirou o título do episódio.
Em tempos de amores digitais, Hang the DJ mostra que a emoção é tão importante quanto a razão na hora de procurar um relacionamento. E que não importa as facilidades dos aplicativos, o jeito antigo ainda possui seu charme.