Game of Thrones S08E06 – The Iron Throne | Crítica

Game of Thrones mostra que a pressa é inimiga da perfeição

Game of Thrones, uma das maiores séries de todos os tempos e um fenômeno mundial, chegou ao fim. Depois de 9 anos, tivemos o encerramento dessa história amada por tantos. É uma pena que, logo na sua temporada final, a série tenha apressado as coisas e entregado um fim apressado e mal desenvolvido. Confira nossa crítica com spoilers.

Iniciamos o episódio com uma ótima cena do aftermath  da destruição de Daenerys com Drogon. A escolha de mostrar a surpresa dos personagens sem uma trilha sonora de fundo conseguiu passar bem a solidão e tristeza da cena. Continuamos a cena acompanhando Tyrion que encontra os irmãos mortos. Peter Dinklage consegue passar bem a tristeza do personagem e se mantém no episódio final como um dos melhores atores da série. Tyrion foi um dos personagens que mais mudaram na série, ele começa como uma pessoa mais egoísta mas termina aqui se sacrificando por não acreditar na sua rainha.

Após isso, temos uma ótima cena com Daenerys mostrando mais sinais de tirania e megalomania com suas tropas. Nessa cena, claramente inspirada em discursos de grandes ditadores como Hitler, vemos um lado de Emilia Clarke que eu gostaria de ter visto mais durante a série. É uma pena que ela foi dar essa virada somente no final e teve muito pouco tempo para demonstrar o que seria capaz.

Na conversa com Tyrion, continuamos vendo o Jon bananão que vem sendo apresentado na temporada final, passando pano para “sua rainha”. Mas felizmente logo depois já vemos que o personagem está dividido com sua honra. Por um lado, ele jurou ficar do lado de sua rainha e amante, mas por outro, ele percebe que ela será uma tirana pior do que todas.

Uma das cenas mais esperadas de toda a série foi a Daenerys chegando no trono. A cena toda foi bonita, com a neve (ou seriam cinzas?) caindo do céu e a sutileza dela ao tocar um dos cabos das espadas somente com a mão. Quando ela parecia que ia sentar, chega Jon e aí o episódio desanda. Eu estava gostando de ver a Danny tirana, queria ver mais disso. Mas, de supetão, matam a personagem com 15 minutos de episódio. Eu acredito que a ação do Jon seja coerente, mas é totalmente anti-climático e desesperado fazer isso agora. Foi uma das ações apressadas que colocaram a qualidade do episódio para baixo.

Ainda na cena da morte da Daenerys, o mais absurdo foi a reação de Drogon. A impressão que ficou foi que ele entendeu que o trono foi o responsável pela morte de sua mãe, e não Jon. É como se a criatura tivesse um poder mágico de interpretação de texto e símbolos humanos. Sem falar que para aquele fogo derreter metal, era pra ter matado Jon que estava ali perto. Outra decisão preguiçosa é fazer ele ir embora, pois era uma criatura quase invencível que não teria como morrer.

Depois de uma ação tão drástica, o roteiro pula semanas para frente com mais uma decisão apressada e preguiçosa de mover a história. Temos então alguns dos principais líderes de Westeros e alguns personagens que estão ali só pelo Fan Service, como Davos, Brienne, Sam e Arya. Apesar de achar o discurso de Tyrion bom e coerente para a escolha de Bran como rei, tudo nessa cena é esquisito. Os líderes de Westeros ficarem numa boa, ninguém discordar das ações, todo mundo aceitar a opinião de um prisioneiro, entre outros. Também é esquisito todos aceitarem o Norte livre numa boa. Seria muito mais coerente todo mundo ali sair no pau e já formar alianças para uma próxima guerra. Verme Cinzento é um personagem que perdeu todo o propósito, me parece que ele queria uma vingança contra Tyrion e Jon, mas nada fez. Acabou indo embora sem fazer nada e totalmente sem moral.

Outra decisão esquisita foi mandar Jon para a muralha. Ao que deu a entender, os principais críticos à liberdade de Jon eram os Imaculados. Se todos os líderes de Westeros que estava ali eram a favor de Bran ser o rei, é claro que eles estariam do lado da pessoa que matou a tirana e salvou o reino. Eu acho uma escolha narrativa legal mandar o Jon para a muralha, pois foi ali onde ele nasceu como personagem. Também acho legal ele ir viver com os selvagens, pois além da muralha foi o único lugar onde ele teve um pouco de paz e tranquilidade. Apesar de achar estranho o pessoal da muralha deixar ele ir de boa.

Outra cena esquisita é do conselho do rei no final. Aqui o  fan service  gritou alto, com um grupo de personagens da série que agora manda nos 6 reinos (pois o Norte agora é livre). O que diabos o Bronn está fazendo ali?

Ao final da série temos uma linda montagem com uma bela trilha sonora mostrando onde cada personagem terminou. Arya vai viajar pelo mundo, Sansa virou a rainha do Norte, Brienne dá um fim digno para a memória de Jaime e Jon vai viver além da muralha. Como eu disse antes, são finais dignos e coerentes com os personagens. O problema aqui é como eles chegaram nesses finais, de forma apressada e mal desenvolvida.

É claro que, no final, o que importa é a jornada. E que jornada tivemos com Game of Thrones! Uma série com um valor de produção incrível que adaptou uma obra que muitos achavam impossível de adaptar, principalmente para TV. Game of Thrones vai ficar no hall de grandes séries de todos os tempos e mudou a TV para sempre. É uma pena que ela também vai ser lembrada por outro motivo: a série fantástica que teve um final ruim. Eu não vou dizer que odiei, achei o episódio bem dirigido, a trilha sonora de Ramin Djawadi como sempre foi fenomenal e não teve nada que odiei no roteiro. Mas foi um final preguiçoso, apressado e mal desenvolvido, que decidiu por tomar soluções fáceis e quis apressar a conclusão dessa história. Para os fãs desse universo, nos resta aguardar os livros e torcer para que seja diferente, ou seja pelo menos melhor desenvolvido.