Locke & Key – 1ª Temporada (Netflix) | Crítica

Locke & Key oferece um universo mágico e divertido em sua primeira temporada.

Chega a soar estranho ouvir alguém reclamar que não existe nada de interessante para assistir na Netflix. Com a injeção de milhões de dólares a cada ano, o catálogo do serviço de streaming está cada vez mais diversificado. Uma das provas dessa variedade de conteúdo é Locke & Key, adaptação da HQ homônima criada por Joe Hill – filho de Stephen King – e Gabriel Rodriguez. E mesmo que as comparações com Stranger Things sejam inevitáveis, é seguro afirmar que Locke & Key possui identidade própria. Ainda que não esteja livre de falhas.

A trama é focada nos irmãos Locke: Tyler (Connor Jessup), o mais velho; Kinsey (Emilia Jones), a do meio; e Bode (Jackson Robert Scott), o mais novo, que precisam se mudar para a cidade de Matheson (batizada de Lovecraft na hq) junto com sua mãe Nina (Darby Stanchfield) após o terrível assassinato de seu pai Rendell (Bill Heck). Enfrentando o trauma e as questões de adaptação, os irmãos logo descobrem o principal segredo de sua nova casa: chaves mágicas que concedem poderes incríveis aos seus usuários. Assim como um demônio que fará de tudo para colocar as mãos nesses artefatos.

Esse tom de aventura permeia todos os 10 episódios de Locke & Key, concedendo assim uma estrutura mais dinâmica para a trama. E como o foco está no trio de protagonistas, é fácil para o público compreender a sensação de encanto a cada nova chave descoberta. Esses são pontos essenciais para o sucesso de uma “série de adolescentes”. Principalmente se levarmos em conta que a adaptação podou muito do teor mais adulto do material base. Então era necessário preencher tais lacunas com o um conteúdo atrativo. Ainda assim, um terror mais gráfico e uma ameaça mais intimidadora fazem falta dentro da narrativa.

O universo de Locke & Key acaba sendo seu principal ponto positivo. A inventividade das funções de cada uma das chaves é de saltar os olhos, assim como os ótimos efeitos especiais utilizados na hora de mostrar seus atributos mágicos. Além, é claro, das já características referências da cultura pop. Que vão desde a trilha sonora, passando por obras como As Crônicas de Nárnia, Harry Potter e tantos outros. Até mesmo o gênio dos efeitos especiais de terror Tom Savini é homenageado.

Divulgação: Netflix

No entanto, a primeira temporada de Locke & Key sofre com problemas que atrapalham seu enorme potencial. O maior de todos reside no desenvolvimento de seus personagens, tanto principais como secundários. Muito por conta do texto que não consegue lapidar melhor certos aspectos clichês, afetando assim o foco em questões realmente interessantes. Isso nos leva para o segundo ponto negativo, que é o peso dos acontecimentos. Determinadas situações chaves para a trama não possuem a carga emocional adequada. Isso dificulta a criação de um sentimento de perigo e urgência. Refletindo assim na vilã Dodge (Laysla De Oliveira), que apesar de ser extremamente astuta, não consegue intimidar durante boa parte dos episódios.

Mesmo com esses defeitos, o resultado final da primeira temporada de Locke & Key é bastante satisfatório. Oferecendo uma diversão mágica e genuína, consciente de suas limitações e disposta a explorar um universo que pode render bons frutos no futuro. Quem sabe não é esse o momento de Joe Hill brilhar, assim como seu pai está cansado de fazer.