True Detective volta às origens e conta uma história em diferentes linhas temporais
Depois de uma 1ª temporada obra-prima e uma 2ª temporada que dividiu opiniões, True Detective volta a contar uma história de detetive mais simples, referenciando sua origem.
A trama segue o detetive Wayne Hays (Mahershala Ali) trabalhando em um caso de desaparecimento de duas crianças em três épocas diferentes: 1980 (início), 1990 (reaberto) e em 2015 (idoso).
O detetive tem a ajuda de seu parceiro Roland West (Stephen Dorff) e sua mulher Amelia Reardon (Carmem Ejogo) que acabou escrevendo um livro sobre o caso.
Desde o início é difícil não conectar com a estreia da série. Crianças desaparecidas, mistério e diferentes linhas temporais bebem diretamente dessa fonte. Isso me incomodou um pouco, mas logo a temporada acaba assumindo sua própria personalidade.
Um Monstro chamado Mahershala Ali
O elemento de destaque aqui é a atuação monstruosa de Mahershala Ali interpretando o mesmo personagem em três linhas distintas. Em cada época ele está diferente, e mesmo com quilos de maquiagem, o ator entrega um protagonista complexo.
Hays atuou como rastreador no Vietnã e isso o define, um homem que entende do seu trabalho mas é péssimo em se relacionar. Não me agradou alguns diálogos sobre questões raciais sem contexto, soando mal executado apesar da boa intenção.
O problema de memória é um elemento narrativo agradável, e os flashbacks são tratados como a memória de Wayne, por isso em muitos momentos o passado se mistura com o presente.
Assim, duvidamos se aquilo está acontecendo mesmo. Outro sentimento passado é o de melancolia, pois ao reviver o passado, o personagem sente que poderia ter sido mais atencioso com seus pares.
Mistério bem construído
Outros auxiliam para um casting interessante. O parceiro Roland começa como um detetive genérico, mas acaba se tornando interessante pelo relacionamento com Tom Purcell, pai das crianças desaparecidas.
Destaque para Amelia, atuando como esposa e detetive em diversos momentos, ativando um lado mais machista de Wayne que não quer ver sua mulher fazendo seu trabalho.
O mistério é bem construído, onde alguns entram e saem e o caso vai se completando. Pena o final ser literalmente narrado por cada detalhe, mesmo coisas que a série já tinha entregado.
Existiam formas mais criativas de explicar tudo, ou até mesmo deixar algumas perguntas sem respostas. Mas a temporada termina bem e intimista, com um fechamento satisfatório para o caso.
A 3ª temporada de True Detective não vai revolucionar a televisão como a 1ª, mas é bem superior à 2ª. Mahershala Ali como Hays é o destaque, mas a série dá espaço para outros brilharem.
O modo como as memórias e flashbacks brincam com a montagem, no entanto, são interessantes e ajudam na história. A mensagem é que precisamos falar o que pensamos e tratar bem os próximos, antes que seja tarde.