True Detective – 2ª Temporada | Review

Possíveis Spoilers do Season Finale da 2ª Temporada de True Detective

Uma grande tristeza bate ao final de temporada das melhores séries. True Detective deixa a mesma sensação após “Omega Station”, episódio que colocou fim ao ano dois da criação de Nic Pizzolatto. Como já falamos a respeito na análise do episódio 1 (leia aqui), é compreensível que essa nova fase não tenha todas as qualidades que a sensacional primeira temporada teve, com Matthew McConaughey e Woody Harrelson protagonizando de forma marcante uma das histórias mais bem elaboradas da TV (ambos continuaram no projeto como produtores executivos).

A trama do segundo ano acompanhará três policiais enquanto eles tentam desvendar um caso de assassinato que gerou uma teia de conspiração. Ray Velcoro (Colin Farrell) é um detetive comprometido que está dividido entre seus chefes, que comandam uma delegacia corrompida, e um mafioso que o tem nas mãos. Frank Semyon (Vince Vaughn) é um homem que periga perder seu império do crime quando a legitimação de seu negócio é afetada pelo assassinato de um sócio. Também envolvidos nessa teia estão a detetive Ani Bezzerides (Rachel McAdams) e o oficial Paul Woodrugh (Taylor Kitsch).

Não foi das tarefas mais fáceis acompanhar a trama desta segunda temporada. O assassinato de Ben Casper é jogado para o espectador engolir de uma vez, e as pistas para a solução do quebra-cabeças são fornecidas de forma muito técnica, demandando muita atenção para não perder os detalhes. Uma segunda olhada nos episódios podem ajudar, mas não são todos os seres humanos que possuem tempo disponível para isso.

Mas o grande lance de True Detective são os personagens. A profundidade de Ray Velcoro e Frank Semyon (além do forte envolvimento entre eles) já começa a ser trabalhada desde o início, um por ter feito uma escolha que mudou sua vida após um o estupro da sua esposa, e o outro pelo medo de voltar a ser um gangster de baixo escalão, após conseguir um prestigiado nível no seu “ramo” de atuação. Dois atores medianos que geralmente trabalham em projetos fracos, Farrell e Vaughn foram beneficiados pelo grande tempo dedicado para desenvolver seus personagens, mas também trabalharam com competência merecem elogios. Seus papéis são sujos, orgulhosos e malvados enquanto podem ser bons. São humanos.

Não muito menos atrás está Bezzerides. McAdams, que está habituada a filmes românticos, vive uma mulher totalmente oposta desse esteriótipo, causado principalmente pelo trauma de sua infância, quando ficou nas mãos de um sequestrador por alguns dias. Isso não impede que seu perfil vá se invertendo de certa forma, e no final das contas faz sentido que ela seja dos poucos sobreviventes no cruel realismo de True Detective. Woodrugh até ganha sua profundidade, mas no final das contas é mais um cara atormentado tentando fazer a coisa certa enquanto esconde seus fantasmas (tragédia anunciada).

A decisão de mudar os rumos deu certo, e as semelhanças dessa temporada com a primeira são poucas. Nada de trama atemporal (no máximo algum flashback), misticismo e rituais sombrios nos pântanos da Lousiana. A pegada agora é em Vince, cidade industrial que tem como principal característica a mão-de-obra dos imigrantes. Essa ambientação deixa grande margem para negócios ilícitos e transgressões em geral, e em praticamente nenhum momento você se sente confortável nos cenários da cidade, e o tiroteio de “Dawn Will Come” representa isso da forma mais tensa possível.

O slogan “nós temos o mundo que merecemos” não é à toa, True Detective nos dá pouco em relação à expectativas, mas nesse mundo parece sempre existir algo que dê sentido a tudo. Pelo menos é a impressão que fica quando a viúva da Frank, Jordan Semyon (Kelly Reilly), que tanto queria adotar um bebê por questões de infertilidade, segura nos braços o filho (biológico) de Velcoro com Bezzerides.