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A Todo Vapor! e o Audiovisual Brasileiro: Entrevista com Felipe Reis

Para o ator, diretor e roteirista Felipe Reis, “o que fica no caminho torna-se o caminho”. Nessa série de quatro entrevistas exclusivas, o escritor e cosmonauta do insólito Enéias Tavares conversa com Reis sobre A Todo Vapor!, uma série 100% nacional e independente que acaba de estrear no catálogo da Amazon Prime Video.

Enéias Tavares: Felipe, um grande prazer abrir essa série de entrevistas conversando contigo, um amigo e profissional que admiro pelo talento, pelo empenho e pelo profissionalismo, qualidades raras de se encontrar numa única pessoa. Nessa semana estava conversando com os amigos do Beer Holder Cego sobre o que é fazer arte no Brasil e chegamos à conclusão de que tu tens uma característica essencial para a tarefa: Jogo de cintura, como dizemos em bom português. Isso dito e antes de começarmos a dissecar os desafios da pré-produção, da produção e da pós-produção audiovisual, nos diga um pouco quem é Felipe Reis e como os teus caminhos te levava até a série transmídia A Todo Vapor!

Felipe Reis: Desde criança sabia que minha carreira seria na área artística, atuando, produzindo conteúdo e/ou dirigindo. Em 1999 fui escolhido para fazer o personagem Léo em Chiquititas, transmitida pelo SBT. A partir daí fui me especializar e em 2002 me formei ator profissional pela Escola de Teatro e Televisão INCENNA, onde também lecionei como professor de interpretação para TV e Cinema de 2008 a 2012. Em 2007, me formei em Rádio e Televisão pela Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo, pois sempre quis saber como funcionava o “por trás das câmeras”, e sabia que iria ser um ator mais completo sabendo disso, e que nunca me faltaria trabalho se eu fosse capaz de me dar trabalho, ou seja, criar filmes e séries onde eu pudesse atuar. No mesmo ano, debutei como diretor criando a primeira websérie do Brasil chamada “Conversas de Elevador”, que foi destaque em várias mídias como Folha de São Paulo, Estadão, Globo News, Hoje em Dia, Metrópoles da TV Cultura e outas. Em 2009 apresentei o programa “Nossa Língua” da TV Cultura até 2011, e lá retomei o gosto pela língua portuguesa e a nossa literatura. Fiz diversas participações em novelas, sendo as três últimas “As Aventuras de Poliana” (SBT) em 2018, “Totalmente Demais (GLOBO) em 2017 e “Amor Sem Igual” (RECORD) em 2020. Já dirigi mais de 30 curtas-metragens, criei 5 webséries, dirigi um piloto para série de TV e gravei 3 videoclipes. Fui indicado a 4 prêmios no Rio Web Fest de 2015, fui semi-finalista com 2 webséries no Los Angeles Film Fest de 2017 e venci o Festival do Minuto (2019).  Meu canal no YouTube, Serotonina, já tem mais de nove milhões de acessos. Essa experiência me preparou para em 2017 iniciar o projeto transmídia “A Todo Vapor!”, co-criado com o senhor Enéias Tavares, série audiovisual com distribuição da O2 Play e disponível na Amazon Prime Video que já resultou em quadrinhos, um romance e um jogo de cartas. Nela atuo como showrunner, diretor e ator, sendo responsável por dar vida a Juca Pirama. A Todo Vapor! foi vencedora de melhor série de Drama no Global Film Festival Awards Los Angeles 2018 e indicada à melhor série de Thriller no New York City Web Fest 2018 e à melhor filme no Cubo de Ouro 2019. Além dessas indicações, fui indicado à melhor ator de Sci-Fi New Jersey Web Festival também em 2019.

A formação de Felipe Reis como Ator
A formação de Felipe Reis como Ator

Um longo percurso, Felipe, que demonstra o quanto se trata de uma jornada longa e incansável. Aproveito para te parabenizar por tantos projetos e conquistas e que A Todo Vapor! traga ainda mais alegrias a ti e a toda a equipe maravilhosa que tornou esse nosso sonho uma realidade. Pensando que muitos dos leitores do CosmoNerd da série não conhecem em detalhes a produção audiovisual, gostaria de revisitar contigo os principais estágios desse processo. Para começarmos, poderias explicar para nós o que compreende a pré-produção de um projeto audiovisual e como foi essa fase na série?

A pré-produção consiste basicamente na organização de tudo. Com o roteiro em mãos, eu como diretor e produtor, analiso o que irei precisar. No caso de A Todo Vapo!, comecei decupando o roteiro. Listei tudo o que precisaríamos: quantas cenas em cada episódio, onde se passaria cada cena, que locações precisaríamos, quantidade de elenco, objetos de cena, quantas trocas de roupas por personagem, entre outros detalhes. Uma vez que todos os personagens com suas devidas características estavam organizados em um documento, fui em busca do elenco. Como sou ator há muitos anos, conheço muita gente (tanto de elenco quanto de equipe técnica). Importante lembrar que de saída (antes dos roteiros) já tínhamos os dois protagonistas. Quando conversamos na escrita e você apresentou a escaleta do roteiro eu já tinha a Capitu definida: uma amiga chamada Thais Barbeiro. Quanto ao Juca Pirama, esse seria vivido por mim. Com meus contatos, fechei 90% do elenco, usando por critério pessoas que amam o que fazem. Estavam em aberto Doutor Benignus, Bento Alves e algumas figurações. Pedi indicações no Facebook e fechamos o elenco. Acontece que no decorrer das leituras, perdemos dois atores por indisponibilidade de agenda, que viveriam Dr. Benignus e Nioko Takeda. No final, é como aquele ditado – “Tudo acontece por um motivo” – pois os atores escolhidos caíram como uma luva em seus personagens. Não consigo imaginar outras pessoas interpretando senão senão o grande Luiz Carlos Bahia e a Bruna Aiiso. Paralelamente à corrida com o elenco, também busquei uma equipe que topasse embarcar nessa aventura. Fechei com um amigão, excelente diretor de fotografia: Mateus Esper e através do Facebook fui peneirando outras pessoas, uma vez que as mais próximas a mim não estavam com agenda. Quando vi, tinha um time com sangue nos olhos como eu, prontos para tirar os sonhos do papel. A partir daí, eu e a equipe de produção – Amanda Vidotto, Felipe Pena e Thais Barbeiro, além da Daniela Campos, a assistente de direção – começamos a ir atrás das outras coisas: locações, figurantes, apoiadores, equipamentos, objetos de cena.

Roteiros de A Todo Vapor
O Início da Jornada: Os Roteiros de A Todo Vapor!

Entrando em Produção, sei que vários foram os desafios vividos por ti e pela equipe. Eu, mesmo longe, acompanhei alguns deles, como o nosso querido Claudio Bruno – que interpreta Bento Alves na série – ter quebrado o fêmur. Isso mudou muito os cronogramas de filmagem, gerando inclusive alterações no roteiro, em especial no episódio quatro, onde tivemos de retirar Bento de uma cena chave para depois fazê-lo encontrar ninguém menos que uma pequena Cecília Meireles, o que acabou sendo um ganho lúdico e lírico. Além desse, quais foram os principais desafios vividos por você e pela equipe em suas 36 diárias? 

Na nossa série, diferentemente do que normalmente acontece em grandes produções, boa parte da pré-produção também aconteceu paralelamente à produção. Importante lembrar que fizemos sem patrocinador, e com pouquíssima verba. Dependíamos assim, da disponibilidade de todos os envolvidos, e boa vontade de pessoas para nos ceder seus espaços para gravação. E muitas coisas aconteciam durante o processo, mudando tudo que havíamos planejado no cronograma inicial. O diretor de fotografia, por exemplo, pegou um trabalho e teve que nos abandonar um pouco antes da 1˚ diária. Tinha uma lista com outras opções. Liguei para o 1˚ da lista: Pedro Filizzola, mas ele não poderia na data já agendada para a 1˚ diária. Fechei com o 2˚ da lista, que chegou a fazer essa 1˚ diária, mas nossa química de trabalho era diferente, e por mais que ele fosse talentoso, sabia que não iria rolar. Acredito na intuição e no feeling como fundamentais a qualquer trabalho. Voltei a falar com o Pedro Filizzola, e para as próximas datas ele já poderia. Batemos um bom papo sobre o processo, paleta de cores, referências visuais e cinematográficas e ele topou entrar nessa de cabeça. E foi ótimo, essa relação entre diretor e diretor de fotografia é extremamente importante no set. E nos rendeu inclusive, outros trabalhos. Outro contratempo, para vocês entenderem um pouco da loucura, foi que havíamos fechado com uma locação que resolveria 70% de tudo o que precisaríamos. Uma semana antes da gravação, cancelaram dizendo que não nos cederiam mais. E lá fomos nós correr atrás de outra solução, que no caso foi montar nossa cidade com partes de várias cidades do interior de São Paulo. Mas como disse o imperador e filósofo romano Marco Aurélio: “O que impede a ação favorece a ação. O que fica no caminho torna-se o caminho.” Em nossa série, a Vila Antiga dos Astrônomos que construímos ficou perfeita, apesar de ser um quebra-cabeça: ela é um amontoado de 10 cidades do estado de São Paulo. Outro exemplo de como a pré-produção se mistura à produção esteve em fechar a agenda de todos os envolvidos. Você tem que conciliar a disponibilidade de todos os que estarão naquela diária. Para exemplificar, imagine que a locação liberou a data, o elenco pode, quase toda equipe pode, mas o diretor de fotografia não pode. Então, não tem diária. Ou ainda, imagine que todos podem, menos o ator que estará em cena. Também não tem diária. Fora isso o fator clima também interfere diretamente. Suponha que todo mundo pode, mas no dia chove. Não tem diária. O plano de filmagem também é crucial, principalmente quando se tem muitas cenas no dia. É através dele que decidimos quais os planos que usaremos, permitindo assim que o assistente de direção consiga conduzir junto ao diretor a gravação.

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Bastidores das Filmagens de A Todo Vapor!

A Todo Vapor! é uma série fantástica, com um figurino de época e uma série de utensílios, armas e objetos de cenas retrofuturistas. Como foi produzir esse material? Você tem números de quantos props foram usados? Ou peças de figurino? Ou de quantos profissionais e entusiastas participou da produção?

Te confesso que isso – figurino e props – seria uma das coisas mais complexas da série, mas acabou sendo uma das mais tranquilas. Isso porque muita gente que é adepta ao steampunk estava disposta a ajudar. Três dessas pessoas, inclusive, foram recrutadas para serem as figurinistas do projeto: Débora Puppet, Jesse Reeves e Thaís Viana. Uma noite as três vieram aqui em casa e ficamos discutindo como seria cada personagem, paleta de cores, estilo e tudo mais. Elas já possuíam muita coisa de acervo, e o que não tinham fomos atrás. Aqui também ajudaram muito Karl Felippe, que fez os conceptos dos personagens, e a Petra Leão, que emprestou peças essenciais aos figurinos. Quanto aos objetos de cena e props dos personagens, também tivemos ajuda de vários Steamers, como Marcos Barolli, Ricardo Cavalcanti, André Kalixto, Isa Alves, José Carlos Cecílio, Rodrigo Pessoa dos Santos e Clelia Lopes, além dos mestres Alexandre Bader e Hermes Barreto. Essa dupla, Alexander em São Paulo e Hermes em Brasília, além de cederem alguns props, produziram diversos objetos, entre eles as espadas da Nioko, o dispositivo de projeção tecnostática e outras traquitanas do Doutor Benignus, os comunicadores dos heróis, o projetor pictográfico do episódio quatro, os goggles e monóculos especiais, as facas do Juca…  Não fiz a conta ainda, mas calculo que utilizamos na série por volta de 60 utensílios steampunk, produzidos exclusivamente.

Figurinos da série do Amazon Prime Video
Foragidos & Aventureiros: Os Figurinos de A Todo Vapor!

Felipe, como vê o apoio público ou privado a produções culturais? Por anos vimos grandes oportunidades sendo desperdiçadas pela falta de visão comercial ou por descrença no potencial mercadológico de produtos fantásticos ou brasileiros. Achas que isso está mudando ou ainda temos muito a aprimorar nesse percurso? 

Eu sempre tive muita dificuldade para conseguir lucrar com meus projetos. Meu dom está em criar e realizar, não em transformar isso em dinheiro. Já tentei em outros projetos conseguir verba através de leis de incentivo, mas nunca consegui. Já tive dois projetos aprovados na Lei Rouanet, por exemplo, mas nunca consegui captar 1 real. Com o “Conversas de Elevador” eu consegui, com muita luta, vender 2 temporadas, uma em cada ano (para o portal Terra e para o Yahoo), por uma miséria, mas que para mim já ajudava, uma vez que não tinha muitos custos para produzi-la, além de conseguir uma ajuda com a Anhembi Morumbi, universidade na qual me formei. Com o “A Todo Vapor!”, ganhamos um edital privado – entre dezenas de editais públicos que tentamos, mas sem sucesso – de desenvolvimento de projeto, enquanto engatinhávamos com as gravações da série. Então, creio que há dinheiro disponível para produções nacionais sim. O que precisa é ter alguém na equipe que esteja antenado a tudo o que acontece e a todas as normas para facilitar a chance de ser contemplado. Quanto a empresas privadas, creio que se você já tem um contato quente, seja um bom caminho. Até o momento, já tivemos dois produtores comerciais, pessoas que batalharam conosco em busca de investimentos. Mas também entendemos que é nosso papel, como produtores e criadores, correr atrás e aprender a fazer, como acabamos aprendendo no dia a dia, no sufoco. Mesmo com Brasiliana Steampunk tendo seis anos de estrada e várias marcas e apoiadores, a busca por novos patrocínios segue.  Em resumo, é uma batalha contínua, sempre.

Vila Antiga dos Astrônomos, cidade de A Todo Vapor
O Mapa de Vila Antiga dos Astrônomos

Depois dessas duas grandes etapas concluídas – pré-produção e produção – vocês começaram a pós-produção ainda no final de 2018. E lá se foram quase dois anos até a série estrear. Vamos começara falando dos efeitos especiais. Como você avalia o trabalho da Anim All na série e a parceria com Javier Começana e Martha Silveira?  E o trabalho de cor feito pelo Ricardo Herling?

Na verdade, aqui também tivemos uma interferência entre fases do projeto, pois a pós-produção começou quase que simultaneamente à produção. Como eu mesmo iria editar, a cada diária de gravação eu já pegava os arquivos de áudio e vídeo da diária e ia jogando no meu programa de edição. Aliás, nosso workflow não foi dos melhores. Explico: eu edito no Final Cut 7.0 (Mac) que não suporta 4k, a qualidade que usamos nas gravações. Então o Pedro Filizzola convertia de 4K para Full HD, me passava, eu editava, e depois que o episódio estivesse todo editado, eu repassava pra ele, para relinkar as mídias para 4K e aí enviarmos ao Javier e a Martha para os efeitos especiais.

As gravações aconteciam de forma não-linear, o que é bem comum no audiovisual. Cenas do primeiro e do último episódio, por exemplo, foram gravadas no mesmo final de semana, pois dependiam da mesma locação. Outro exemplo era a hospedaria, locação que conseguimos para uma única diária: então tinha cena do episódio 1, 2, 7 e 8, por exemplo, com os atores precisando estar afiados para os diferentes estados emocionais de cada episódio. Isso também exigia uma atenção enorme por parte dos figurinistas e continuístas. Então, demorou para termos o primeiro episódio completo. Em suma, é um quebra-cabeça literal, gigante e complexo, com mil desafios. Mas por outro lado, era lindo ver isso sendo montado, cada episódio sendo preenchido. Conforme as cenas que necessitavam efeitos especiais iam ficando prontas, mandávamos para o Javier e a Martha tacarem pau. Vira e mexe, eu mesmo ia na casa deles, tomava um cafezinho gostoso e discutíamos os efeitos e as cenas. Saudades, inclusive. O que posso dizer é que eles foram FUNDAMENTAIS nessa empreitada. O trabalho deles agregou muito valor à série. Quanto ao Ricardo, foi praticamente a última coisa da série. Somente com tudo editado, pronto, já com os efeitos, é que ele pôs as mãos nos episódios para a colorização final. Conversamos muito sobre a paleta de cores, fizemos alguns testes e chegamos onde queríamos. A cada episódio que ele mexia eu ia na casa dele e víamos juntos os detalhes, sempre acompanhados de um bom café também. É impressionante como a cor muda seu projeto. Você pode ir para diversos lugares com o mesmo material, e o Ricardo é um professor nesse assunto. Literalmente. Depois da cor feita, vem a finalização, esta sim feita pelo Pedro. Agradecimentos a toda essa galera.

pós produção do seriado
Um exemplo da produção e da pós-produção do Pôster de A Todo Vapor!

E a trilha sonora do estúdio Tesis? Quais referências musicais e também cinematográficas foram usadas? Para um cinéfilo como eu, encontro pitadas de Hans Zimmer no seu Sherlock Holmes de Guy Ricthie e Abel Korzeniowski em Penny Dreadful. Estou certo? 

Certíssimo. Boas referências estão aí para serem usadas e exploradas, ainda mais no Steampunk que aproveita muita coisa de outras obras, num verdadeiro exercício de reciclagem. Quando estávamos discutindo qual seria a pegada da trilha sonora com o pessoal da Tesis, passei essas referências que você citou e também sugeri referências de elementos que poderíamos usar: barulho de engrenagens, ferros, correntes, vapor. Falei um pouco sobre cada personagem, suas características. Disse que queria uma coisa com pegada brazuca e cinematográfica. E o pessoal lá captou a essência do trabalho e mergulhou fundo nele. O tema de abertura tem muito de Penny Dreadful, passando uma atmosfera de mistério e suspense. O tema do Juca Pirama, já transmite uma emoção diferente, mesclando humor com aventura.  Conforme eles iam recebendo os episódios eles iam me enviando as trilhas, e eu ia dando meus pitacos. Foram poucas as vezes que pedi alterações mais radicais, como por exemplo: essa música não, vamos com outra. Uma curiosidade bacana a respeito da trilha é que eu já tinha uma canção específica que usaria em momentos chaves: a “Lambada do Cangaceiro”, do Rafa Moraes, o Retirante Cósmico. O conheci na Avenida Paulista. Ele tava lá com a sua guitarra fazendo um som absolutamente brasileiro, com um quê de Tarantino. Me apaixonei pela música, comprei o CD e entrei em contato com ele tempos depois, perguntando se poderia usar na série. Ele ficou lisonjeado e foi super receptivo, nos cedendo essa canção. Voltando à Tesis, além da trilha sonora, eles cuidaram de toda a parte de pós de áudio, toda a sonorização e ambientação, ou foley, como se diz na linguagem do cinema. Os responsáveis pela captação de áudio direto, nas gravações foram o Raphael Balbino Coelho e a Isabela Poianas, dois queridos. A Isa, inclusive, foi a que nos apresentou ao coreógrafo de luta Gutemberg Lins e sua equipe do Action Kung Fu, outra “contratação” de peso.

cena digital
Cena Digital Criada pelo Studio Anim All In

Chegando na reta final do projeto, quais esforços foram feitos para distribuir a série? Inicialmente, A Todo Vapor! seria uma websérie gratuita para o YouTube. Como esse projeto se tornou uma série – a diferença é substancial – disponível numa das maiores plataformas de streaming do mundo? Quais os planos a partir disso? 

Conforme as edições e efeitos iam avançando, eu consegui montar um teaser de apresentação, que junto a um e-book caprichado assinado pelo senhor, servia como prospect de vendas. Aí saímos atrás de players e possíveis patrocinadores. O problema é que ninguém na equipe tinha essa experiência de comercialização, então muitas vezes nem conseguíamos chegar no contato certo dos lugares, e quando chegamos, recebíamos uma série de nãos, pelas mais variadas razões. Essa parte, confesso, foi muito penosa. É horrível quando você tem que fazer algo que não sabe, e pior ainda quando nem gosta de fazer. Mas, se não tem quem faça, melhor tentar do que morrer sem fazer. E lá fomos nós. Ficamos quase um ano e meio tentando por todos os meios. Em determinado momento, boa parte da equipe já estavam querendo jogar no Youtube mesmo e praticamente tacar o fod*-#@, mas conseguimos, juntos e com calma, persistir numa estratégia mais comercial, até porque o que eu também achei que seria uma websérie cresceu em escopo e se tornou um produto absolutamente apresentável e de maior escopo. Seguimos assim, até que em um Festival de cinema que eu frequento, fiquei sabendo que iria ter uma palestra para poucas pessoas com alguns grandes distribuidores e players do Brasil. Me inscrevi e consegui um lugar. Fui lá com meu caderninho de anotações afim de anotar todas as dicas e recomendações desses profissionais. Além de aprender muita coisa sobre essa parte do audiovisual que eu não manjava, consegui o contato de um dos managers da O2 Play, uma das maiores distribuidoras de São Paulo. Mandei e-mail e… nada! Passou 1 mês, mandei outro: nada… mandei o terceiro e-mail 2 meses e meio depois e… nada. Desisti desse contato, como de tantos outros. Paralelamente, estávamos avançando com o romance “Juca Pirama Marcado para Morrer”, editado pela Jambô. Chegou a CCXP 2019 e fomos lançar o livro. Fui caracterizado de Juca para ajudar nas vendas e divulgação, e em determinado momento dei de cara com o cara da O2. Ele me reconheceu, conversamos, ficou feliz que lançamos o livro (ganhou um também) e me perguntou se sua equipe havia respondido meus contatos. Eu disse que não, ele me disse para enviar novamente o e-mail. Dito e feito, e a partir daí a coisa andou, e hoje estamos imensamente orgulhosos de todo esse trabalho. Lembrando que ainda não estamos satisfeitos. Lançamentos não são o fim de nada, apenas a passagem para o próximo estágio. Nossa missão agora é dar visibilidade à série para que ela não fique no limbo dos streamings, e dessa maneira a gente possa concretizar a segunda temporada do modo como sonhamos, com dinheiro entrando e todo mundo ganhando e fazendo o que ama. Vida longa para “A Todo Vapor!”.

Esse conteúdo faz parte da Semana Especial A Todo Vapor!, promovida por Brasiliana Steampunk para comemorar seus seis anos de existência. Em parceria com a Editora Jambô e o CosmoNerd, preparamos uma série de ações exclusivas para essa semana, que envolvem Entrevistas, Lives e Lançamentos. Para garantir conteúdos exclusivos e conferir a Programação Completa, acesse https://bit.ly/ATVSpecialWeek2020 !