Atari: Game Over – Parem de reclamar do E.T. A culpa é toda nossa!

Faça um exercício de consciência agora: quantas vocês você já reclamou ou bateu boca com alguém hoje? Aposto que algumas vezes já. Ainda dentro do exercício: nessas discussões, em quantas você tinha a razão? Pois é.

Reclamamos de tudo mesmo. Trânsito, trabalho, coisas de casa, coisas do relacionamento, cachorros do vizinho, nossos cachorros e etc. Falamos mal até mesmo de coisas que nunca tivemos um contato, tipo um jogo ou um filme.

O uniforme dele não está fiel aos quadrinhos. Essa atriz é muito magra para ser a Mulher-Maravilha. Homem-Formiga não merece um filme solo. E.T é o pior jogo do Atari e por aí vai. Vivemos na era do mimimi digital, onde as pessoas acreditam que mandar indireta e usar hashtag no Facebook serve de alguma coisa. Mas houve uma época em que reclamar apenas pelo prazer do ato acabou dando em algo. Algo grandioso, como dar o chute que colocou a Atari no fundo do poço. E de quebra ainda destruiu uma promissora carreira.

Atari: Game Over deveria ser um documentário voltado para o mito dos cartuchos de E.T que haviam sido enterrados no lixão de Alamogordo, no Novo México. Deveria mostrar para o mundo que a Atari meteu os pés pelas mãos quando pensou com o bolso e não com o cérebro. Deveria mostrar também que Steven Spielberg não manja nada de video games e que quanto maior a empresa, maior será sua queda.

Deveria, mas não é isso que ele faz. Na verdade recebemos uma belo tapa na cara durante os 60 minutos da produção. Zack Penn, o diretor, poderia ter escolhido mostrar apenas pessoas falando mal do jogo baseado em E.T. Afinal é o que não falta por aí. Mas graças ao bom deus da nerdice, ele resolve ir mais além. Ele escolhe mostrar que não sabemos valorizar as coisas boas que temos. E não aprendemos desde a década de 80 até hoje.

Game Over passeia pelo início da Atari. Mostra o lugar que claramente serviu de inspiração para o Google montar seu templo de lazer e trabalho. Podemos conhecer mais da empresa que revolucionou o Vale do Silício e que foi responsável por garantir que você tenha um Xbox ou Playstation em casa (WiiU também se você for mais hardcore).

É uma homenagem singela a empresa que moldou o caráter dos nerds neófitos da época. Muito parecido com o que a Nintendo fez para mim e o que Marvel/DC fazem para os jovens de hoje. Mas em meio esse amor todo, existe uma face cruel. Lembra de como comecei esse texto? Pois é. Nerds sabem ser “pau nas beira”.

O vídeo explica todo o processo por trás da criação do jogo baseado em E.T, um dos melhores filmes de todos os tempos. E que para a parcela chata da humanidade foi um grande jogo de merda. E sabe quem mais pagou o pato por isso? Howard Scott Warshaw. O homem que basicamente criou a maioria dos efeitos que hoje acabam passando despercebidos em meio a inúmeras reclamações sobre os gráficos dos jogos. Viu? Reclamações…

Howard teve inúmeros acertos no tempo em que trabalhou na Atari. Mas foi julgado por um único erro. Julgado por todos aqueles que pareciam apreciar seu trabalho, mesmo sem entender seu real valor. Isso pode ser transferido para o que rolou com a empresa também. Parece que desde os anos 80 as pessoas já não gostavam de sair de sua zona de conforto, traduzindo isso para “jogar um jogo difícil”. Certas coisas não mudam com o tempo.

O documentário mostra que, independente do que foi falado de ruim na época, os nerds amavam aquele bendito cartucho do E.T. De alguma forma marcou a infância deles. Não é a toa que saíram de vários cantos dos EUA para presenciar um momento histórico.

A Atari cometeu erros administrativos? Sim. Howard estava de ego inflado quando aceitou o projeto do jogo? Certamente. Mas qual é, as pessoas da época jogaram coisas muito piores antes e depois. Até hoje, depois de todo esse tempo, ainda insistem em colocar E.T como o pior jogo da história da Via Láctea. Será que ninguém aqui jogou aquele maldito game do Superman??

O que a Atari enterrou em Alamogordo não foi o símbolo de sua vergonha e fracasso, muito pelo contrário. Aqueles não eram simples cartuchos devolvidos. Eram como palavras de ódio, vomitadas por quem sempre jurou amor. E o que se podia fazer com elas? Enterrar na cova mais profunda possível.

E aí, ainda vai sair reclamando de tudo e de todos?