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The Politician – 2ª Temporada (Netflix) | Crítica

Série de Ryan Murphy encontra equilíbrio maior na 2ª temporada na Netflix, retratando a democracia representativa americana com boa dose de fidelidade

Uma série que repercutiu muito pouco desde a onda de atrações assinadas por Ryan Murphy para a Netflix é The Politician, que acaba de ganhar sua segunda temporada no serviço de streaming. Estrelado por Ben Platt, o programa consegue fazer uma junção interessante de elementos tradicionais da TV americana, ao passo que retrata as fragilidades da democracia representativa estadunidense (e por que não, dos outros países que a segue).

Na história, acompanhamos Payton Hobart (Platt), um ambicioso jovem que aspira nada menos que ser o presidente dos Estados Unidos da América num futuro próximo. No entanto, para atingir isso, Payton precisará passar por todas as etapas que um político de carreira tem que percorrer, começando pelas eleições escolares. Munido de boa comunicação, assessores destemidos e o privilégio de ser rico, o rapaz inicia sua corrida em busca do seu sonho.

Na segunda temporada, começamos a partir do ponto onde Payton está concorrendo ao senado num distrito de Nova York, no qual Dede Standish (Judith Light) reinava até então, ganhando eleições sem precisar de grandes esforços de campanha. A chegada de um jovem político, contrapondo sua avançada idade, passa a ser um enorme desafio, mas Dede possui ambições que vão além do senado.

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Payton e Infinity em campanha. Crédito: Netflix

The Politician e a democracia representativa desnuda

Essa eleição é o grande motor da segunda temporada de The Politician na Netflix, que consegue um melhor equilíbrio entre sátira política e comédia dramática com os novos episódios. Ryan Murphy criou, junto com Ian Brennan e Brad Falchuk, um programa verdadeiramente interessante em alguns níveis que podemos abordar aqui.

Na base da discussão está a democracia em que vivemos, onde precisamos eleger representantes que irão levar (ou não) nossas pautas e buscar um mundo melhor. Longe de mim querer impor qual seria o melhor modelo de sociedade (o que não seria nada democrático), mas o fato é que essas pessoas eleitas não estão resolvendo o problema – se é que há uma solução.

Digo isso com base na visão da própria série, que mostra como somos levados a tratar políticos como heróis, buscando pessoas com carisma, oratória, beleza e outros atributos que podem muito bem manter as coisas na superfície (campo ideal para a publicidade atuar). Atacar os problemas de modo profundo não é uma tarefa simples e vemos uma tentativa disso com as pautas ambientais encabeçadas por Infinity (Zoey Deutch) que rapidamente são incorporadas por Payton, ao ver que esse é o assunto que mais irá trazer engajamento para sua campanha.

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Dede Standish e Hadassah. Créditos: Netflix

Conflito de gerações

A preocupação de The Politician com o meio ambiente acaba sendo um tema recorrente que visa não apenas salvar o planeta frente à iminente destruição por emissão de CO², mas também por retratar o conflito geracional trazido com a eleição. Payton vs. Dede é o mesmo que o novo contra o velho ou a juventude perante aqueles que se negam a entregar o osso. É uma polarização um tanto burra, que o próprio roteiro consegue trabalhar com certa habilidade como vemos no quinto episódio, que acompanhamos o dia de votação a partir da perspectiva de duas eleitoras, uma mãe e sua filha, cada uma com seu posicionamento. Ambas acabam sentindo na pele o que é se engajar e consequentemente virar o que chamamos por aqui de gado, ou seja, aquele seguidor cego que não gosta muito de questionar seu político favorito, mas sim encontrar a desculpa que for pra continuar apoiando-o. Democracia representativa, lembra?

Isso escancara um outro problema que é a dificuldade em eleger prioridades. O meio ambiente precisa ser salvo, mas e a extrema desigualdade social causada pelo modelo econômico atual? Isso só pra ficar em um exemplo. Não fazemos isso por maldade, mas por deixarmos a ideia de classe média se enraizar de tal modo em nossa cabeça que acabamos dando mais atenção a questões que não envolvem o próximo.

Desse modo, é cruel constatar que pessoas sem comida, saúde e saneamento básico acabam ficando em segundo plano frente ao que entendemos como ideal para a natureza. Não significa que o meio ambiente seja menos importante, mas o que vemos na série (e isso se aplica em muitos momentos aqui fora) é na verdade uma ideologia que visa o eu interior. Infinity representa isso muito bem: ela busca gerar o mínimo de lixo possível para se sentir bem com ela mesma, e não por que é o correto. Isso vai lhe proporcionar paz de espírito e força política, com a mais pura autenticidade para angariar seguidores.  Mas isso também não a impede de se preocupar com o planeta, e a sua ignorância (ou intoxicação ideológica) a leva a passar o limite do que é legalmente aceito para ajudar Payton na campanha, apenas por acreditar que ele é melhor para o meio ambiente do que sua adversária. Aliás, o dilema moral habita em praticamente todos os personagens da série.

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Você votaria nessa mulher? Créditos: Netflix

A rainha de tudo: Gwyneth Paltrow

Talvez a única exceção a isso seja Gwyneth Paltrow, que dá vida a Georgina Hobart, mãe de Payton. É uma figura altamente favorecida pelo roteiro, e isso pode ser facilmente entendido quando vemos que a atriz também é a produtora executiva da série. Sua personagem integra a série como se ela transcendesse a essas questões de moral e ética, se colocando como alguém que entende seu lugar no mundo, aceitando cada um pelo que é. Em troca, ela ganha uma confiança inabalável, onde ela reage tranquilamente a qualquer crise, diferentemente do filho que perde o controle gradativamente.

Já Payton está numa jornada de redescobrimento junto com essa nova campanha em The Politician, e o personagem vivido por Ben Platt ganha um fechamento interessante, fugindo do pessimismo de senso comum que sempre habita debates sobre política. De quebra, temos novamente alguns momentos musicais que mostram todo o talento do ator que também é músico.

Encontramos uma narrativa que consegue se mostrar envolvente em boa parte do tempo, inserindo reviravoltas na trama. Nela, acompanhamos o verdadeiro caos que é uma campanha política com o tráfico de informações rolando solto a partir de agentes infiltrados na chapa do adversário político. É nessa parte que temos momentos cômicos dos mais variados tipos, como o escândalo que um trisal pode causar na vida de uma figura pública conservadora ou então uma indevida apropriação cultural contra povos indígenas.

Porém, o exagero nesses elementos também pode cansar o espectador, o que não faz da série o melhor exemplo de programa para ver em maratona. A fragilidade de algumas relações românticas inseridas como muleta da trama também não contribui para reter nossa atenção, como Payton com Alice (Julia Schlaepfer) e Hadassah (chefe da campanha de Dede, interpretada pela brilhante Bette Midler) com William (Teddy Sears). Para compensar essa fraqueza, vale lembrar que na segunda temporada na Netflix são apenas sete episódios com duração de apenas trinta a quarenta minutos cada.

Visualmente, a série é impecável e merece elogios por isso. Cheia de cores vibrantes, o programa usa a estética característica das produções de Ryan Murphy como símbolo do superficial que permeia nosso mundo – inclusive o político partidário. The Politician vale a pena ser conferida, mas pode ser algo frustrante se você criar expectativas pelas vias incorretas. O foco não são as relações entre os personagens, mas sim o que há por baixo disso tudo. Entender o contexto social em que vivemos ajuda muito a curtir o show de acordo com a sua proposta.