A tão aguardada adaptação de The Last of Us estreou na noite do último domingo (15), nas HBO e HBO Max. A série contou com um primeiro episódio muito bem fechado, estruturado e digno do orçamento de 15 milhões de dólares. Nesse sentido, o piloto apresenta o que é mais importante durante a trajetória do jogo: a ambientação do contexto pré, durante e pós-apocalíptico. Se um bom contador de história não gasta horas para te habituar em um outro universo, pode-se dizer que Neil Druckmann e sua equipe fizeram muito bem o seu papel.
Os primeiros 20 minutos de episódio te submergem em uma atmosfera ansiosa. A atuação de Pedro Pascal e de Nico Parker te levam a um caminho tortuoso para entender que não se trata apenas de um apocalipse. Assim, as cenas corriqueiras do dia a dia desaguam num grande caos que dá estopim ao local de ação da trama. Porém, de nada serviriam as cenas caso a atuação dos dois primeiros protagonistas não estivessem alinhadas por um afeto gradual.
É de se tirar o chapéu em como demonstraram os primeiros sinais da infecção. Não é preciso da receita mostrenga de zumbis para associar que o fungo já está tomando conta do organismo dos seres vivos. Dessa forma, a equipe usa pequenos sinais, pavor, desespero, aflição e cenas sobrepostas antes do verdadeiro momento de The Last of Us começar.
Para quem já jogou, a sensação de nostalgia foi companheira do início ao fim do episódio. Por mais que a série tenha se proposto a explorar o universo com outros caminhos, a fidelidade com o jogo mostra uma grande precisão entre as cenas. Dessa forma, é possível enxergar que não há ali apenas uma direção muito minuciosa, mas como também uma equipe que trabalhou em conjunto para pensar a dinâmica de semelhança.
Alerta de spoiler!
Os momentos seguintes ao estopim do apocalipse geram uma sequência de ação prazerosamente turbulenta. De antemão, Joel e Tommy (Gabriel Luna) tomam as rédeas da sucessão de momentos que irão contar com o desespero de Sarah para saírem vivos da destruição iminente da cidade. Assim, com poucas falas, o primeiro grande momento do jogo de The Last of Us é reproduzido com exatidão, até, por fim, arrancar velhas e novas lágrimas com a morte de Sarah.
O salto temporal de 20 anos para 2023 pode parecer abrupto no começo por te tirar da zona de conforto do luto. Simultaneamente, somos inseridos no protagonismo de Joel, numa zona de quarentena comandada pela F.E.D.R.A, onde o sistema rígido de leis e sobrevivência não é convencional. A partir daí, a série nos introduz Tess (Anna Torv), a parceira de Joel, que traz um pouco mais de identidade para o contexto habitacional. Além disso, também introduz Ellie, suas primeiras reações e a personalidade marcante que Bella Ramsay transpareceu muito bem.
Os Vagalumes começam suas ações desde o primeiro episódio, o que dá uma roupagem política e identitária. Assim, parece que, de primeiro momento, é preciso escolher um lado, concordar com alguém, ou até mesmo definir sua posição, quando na verdade os dois grupos já mostram seus podres e suas falhas. Dessa mesma forma, o cenário surge com Marlene (Merle Dandridge), a personagem que atribui a Joel e Tess a missão de sair dali com Ellie (Bella Ramsey).
Com Tommy desaparecido nesse contexto e sem dar notícias, a campanha dos protagonistas se torna sobrecarregada. Assim, levar Ellie até o destino final e de lá conseguir suprimentos para achar Tommy.
Síntese
O piloto de The Last of Us se propôs a tudo que se prometeu. A série demonstra uma boa fidelidade aos jogos, aprimorando os caminhos e a experiência de estar imerso no universo da franquia. Em suma, para um primeiro episódio, The Last of Us conseguiu construir um novo padrão. Dessa forma, a obra entendeu o que é ir além do jogo – é mostrar os detalhes, é ser fiel aos sentimentos dos personagens, é trazer um novo espectador e convidá-lo a ter a experiência completa de quem passou horas e noites fugindo de infectados.