A 4ª Temporada de The Last Kingdom, baseada na série de livros As Crônicas Saxônicas do britânico Bernard Cornwell, está disponível na Netflix desde 26 de abril, trazendo a adaptação de mais dois livros e modificando alguns caminhos
A chegada de uma nova temporada de The Last Kingdom para mim é sempre muito esperada, afinal, sou um grande fã da serie de livros As Crônicas Saxônicas do autor britânico Bernard Cornwell e pelo fato das mudanças que a serie faz, criando novos caminhos para um mesmo destino. Isso me fascina. A Netflix tornou-se produtora integral da série desde a sua 3ª temporada e mostra que não tem medo de mexer na narrativa apresentada por Cornwell, e tem feito escolhas bem interessantes.
Em minha critica da 3° temporada (leia aqui) falo de como os caminhos para Uhtred (Alexander Dreymon) estão bem abertos, trazendo diversas possibilidades. Mas seu foco é apenas 1, Bebbanburg,e com o Rei Alfredo (David Dawson) morto, Eduardo (Timothy Innes) precisando abrir mão do amor, e até de filhos, para ser construindo como o Rei de Wessex, em uma paz falsa, Untred acredita ser o momento de reconquistar o que é seu. E ele parte para Bebbanburg.
Mesmo sabendo que precisará abrir mão de um amor que nunca poderia viver ao lado de Aethelflaed (Millie Brady), Uhtred nutre esperanças, de que reconquistando suas terras, poderia de alguma forma levar a filha de Alfredo para viver ao seu lado em sua fortaleza há tanto tempo perdida. Já Aethelflaed, precisa buscar seu lugar na Mércia, já que seu esposo e algoz Aethelred (Toby Regbo) tem outros planos para o reino da Mércia.
Nessa jornada de recuperar sua terra, Uhtred acaba por perder muito mais, deixando um pouco de sua alma em meio a confusão e perda do que seria uma retomada fácil. Mesmo tendo de volta seu filho, que acabou se tornando um cristão fervoroso por conta do convívio com o ideal de Alfredo e em meio a esse processo, ele começa a entender mais desse guerreiro pagão que é o seu pai. E sim, o nome do filho de Uhtred…é Uhtred (Finn Elliot).
Perdas em The Last Kingdom
Como falei anteriormente, existem perdas poderosas nesta temporada, e essa arrasadura em especial é muito mais complexa do que foi nos livros, assim como eles já fizeram na 3ª temporada mudando alguns acontecimentos. Mas desta vez, o querido Padre Beoca (Ian Hart), tutor desde pequeno do guerreiro Uhtred, nos deixa. E essa assolação quebra o coração de Uhtred a ponto dele não saber se ainda vale a pena lutar. É um inicio de temporada repleto de perdas para o guerreiro pagão, e seu espirito não resiste.
Apenas com a ajuda dos amigos e aliados Finan (Mark Rowley) e Sihtric (Arnas Fedaravicius) é que ele encontra forças para continuar. E esse é um momento muito bacana de ver em tela, pois eles são irmãos de guerra, mesmo Uhtred sendo o Senhor, essa relação tão viva nos livros ainda não tinha se apresentado na serie. E nesta temporada, vemos como as alianças forjadas em batalha e parede de escudos são poderosíssimas, fazendo o guerreiro caído voltar a lutar. E a batalha chama!
Mesmo quando não deveria ser integro e dar as costas a quem quebrou juramentos, o protagonista não o faz. Juramentos são importantes para o saxão criado pelos nórdicos. E os povos da “Anglaterra” precisam mais uma vez da espada juramentada, e ele responde. Temos então grandes cenas de batalha, parede de escudos e morte. A batalha de Teotanheale ou Tettenhall, que aconteceu no ano de 910 entre os saxões e os dinamarqueses, trouxe ferimentos gravíssimos ao Senhor da Mércia Aethelred, que o deixa no leito de morte (alguns historiadores acreditam que ele veio a falecer em 911 por conta dos ferimentos sofridos na batalha). A vitória está ao lado de Wessex, Mércia, Eduardo e Aethelflaed, mas o preço é terrível. E a cadeira de senhor da Mércia fica vaga, gerando assim uma batalha muito mais politica.
Os espólios de guerra surgem, e personagens que estiveram ligados à vida de Uhtred retornam, como é o caso de Brida (Emily Cox). A decisão de não cortar esses laços irá cobrar um grande preço do Guerreiro.
Personagens são introduzidos a trama de The Last Kingdom, como Eadith (Stefanie Martine) e Eardwulf (Jamie Blackley), irmãos tentando reconquistar seu espaço na corte da Mércia, já que sua família fora expurgada. Eardwulf não tem escrúpulos para atingir seus objetivos, chegando a usar sua irmã como moeda de troca.
Neste momento da trama, onde ela torna-se muito mais politica, percebo como a delicadeza dos roteiristas em adaptarem algumas narrativas e transformar personagens que no livro, acabam por perder a relevância.
Afinal, o autor das Cronicas Saxônicas tende a buscar relatos históricos para criar sua fantasia, e infelizmente, as mulheres são por diversas vezes renegadas na história. A própria Aethelflaed, que tem uma importância histórica absurda, é relegada ao esquecimento. Cabe às obras mudarem e trazerem a importância dessas mulheres, e neste momento é que vemos a importância da sensibilidade de uma adaptação, pegando algo e agregando. Caso visto no caso da mãe de Eduardo e Aethelflaed, Aelswith (Eliza Butterworth), que assim como Eadith, carrega grande importância para o desenvolvimento nesta segunda parte da trama.
Gosto de que, assim como nos livros, Uhtred seja esse espectador importante em momentos decisivos, afinal, ele é a Espada de Alfredo e agora de Aethelflaed, e existe um trono vazio, o da Mércia.
Nos livros, Uhtred tinha um parentesco de consanguinidade com Aethelred, sendo assim, o guerreiro seria uma boa escolha para Eduardo colocar no trono da Mércia, pois o Rei de Wessex acredita que conseguirá de alguma forma, manter o controle de mais um reino bretão e assim se aproximar do sonho de Alfredo. O caminho existe também na serie, mas as maquinações de Aethelhelm (Adrian Schiller), que como falei no inicio, fizeram com que Eduardo desistisse de tudo o que amava pelo bem dos povos saxões. Mas esse passado voltou, e será de grande importância para a historia da Inglaterra.
Uhtred, que se vê entre uma vida de paz, como senhor da Mércia, subordinado a Wessex, tem outros planos em mente. Planos que colocarão em uma situação que terá de abrir mão de muito mais que uma coroa.
Neste meio tempo surge mais uma ameça para a paz dos povos Saxões, Sigtryggr (Eysteinn Sigudarson) personagem que historicamente estaria ligado ao mítico lendário Ragnar, pois seria neto de Ivar Ragnasson. Gosto bastante da forma como Sigtryggr é apresentado nos livros, como alguém audaz e que encontra no velho experiente guerreiro Uhtred um desafio a ser vencido. Na série ele é mostrando como um guerreiro inteligente, que fora dado como morto e voltou para conquistar a terra dos saxões, e Brida está ao seu lado. Ele tomam Wintacaster (hoje conhecida como Winchester) fazendo reféns de grande importância para Eduardo e Uhtred. Os reféns são, Aelswith, Aethelhelm, a esposa e filhos de Eduardo (sendo que um deles é o bastardo Athelstan, que mesmo sendo uma criança, irá carregar uma grande importância para o futuro do sonho de Alfredo) e também Stiorra(Ruby Hartley), filha de Uhtred.
Sigtryggr acaba criando um elo forte com Stiorra, e essa ligação será fundamental para um fim sem perdas. Mas elas irão acontecer.
Como podem ter percebido, o texto foi gigante e tentei ao máximo não dar muitos spoilers de The Last Kingdom, e isso mostra também, como a produção, direção e roteiristas tiveram um trabalho incrível em adaptar os livros O Guerreiro Pagão e O Trono Vazio, em uma narrativa de 10 episódios, onde muitos desses momentos são de tramas politicas. Lógico que muitas coisas são bem melhores nos livros, e percebo que a produção está com uma certa dificuldade em envelhecer o ator Alexander Dreymon, afinal, os anos estão passando para o Guerreiro Pagão, e apesar de tentarem colocar na primeira parte da temporada a aura de cansaço, ainda não foi sentido. E fora que esqueceram do terceiro filho de Uhtred, que de alguma forma irá ser um grande companheiro de lutas ao lado do pai, mostrando apenas o filho monge, que apesar de ter saindo em batalhas, parece que irá sim seguir os caminhos ensinados por Alfredo e a fé cristã.
No fim da jornada dos 10 episódios dessa 4ª temporada de The Last Kingdom, sinto a necessidade urgente de voltar a este mundo e de ver quando Bebbanburg será recuperada e também saber como será o caminho seguido por Uhtred a partir de agora, afinal, com as mudanças, novas possibilidades se apresentam. Ele tem em suas mãos a espada e o futuro da Inglaterra, e teme se conseguirá ser alguém inspirador para esse futuro.
Mas Uhtred ainda será de grande necessidade para os povos saxões, seus juramentos ainda serão cobrados, afinal…Destino é tudo!! Wyrd bið ful ãræd