Quando uma série possui muitas temporadas, é um pouco fácil para o espectador saber o que vai encontrar em cada novo ano. Em The Boys, por exemplo, sempre podemos esperar muito sangue, sexo, cenas escatológicas e comentários políticos escancarados que os fãs insistem em ignorar. Mas um frescor narrativo é sempre essencial para manter o interesse na narrativa além da violência pura e simples. Por isso, os três episódios da nova temporada mostram que a série do Prime Video ainda consegue encontrar caminhos interessantes para a eterna luta entre super-heróis degenerados e a equipe disfuncional de mocinhos. O quarto ano de “The Boys” mantém um olho no passado e outro no futuro ao mesmo tempo.
Continuando os eventos explosivos da última temporada, todos os personagens precisam lidar com seus próprios fantasmas. No lado da Vought, Capitão Pátria (Antony Starr) luta para conquistar o coração e a mente de Ryan (Cameron Crovetti) enquanto enfrenta sua noção de mortalidade. Determinado a manter sua posição de poder, ele busca novos métodos para enfim eliminar seus rivais. Do outro lado, Billy Bruto (Karl Urban) perdeu tudo que mais importava na vida. Ryan está ao lado de Pátria e Leitinho (Laz Alonso) agora é o líder da equipe. Com seu fim cada dia mais próximo, ele aposta as últimas fichas para resolver tudo. É interessante notar como Eric Kripke não se deixa levar pelo ímpeto de enfiar o pé no acelerador. O jeito “The Boys” de resolver as coisas pede ação e membros arrancados em cada cena, mas o showrunner usa boa parte dos episódios para mergulhar no íntimo de cada personagem. Confesso que prefiro essa abordagem que torna a série muito mais convidativa do que apenas gerar memes para as redes sociais.
Essa sessão de terapia forçada permite que os atores explorem novas nuances de seus personagens. Mas é importante frisar que nenhum deles teve a personalidade apagada. Apenas estamos conhecendo mais um pouco sobre cada um. Luz-Estrela (Erin Moriarty) é um bom exemplo dessa mudança. Enquanto luta como uma figura pública para frear o ímpeto do Capitão Pátria e seu gado, ela encara fantasmas de seu passado que podem pôr tudo a perder. Até mesmo Bruto ganha um contorno trágico que desperta certa empatia. Pena que algumas engrenagens continuam travadas como no caso do Francês (Tomer Capone) e Hughie (Jack Quaid) que ainda buscam um lugar na narrativa. Tudo isso ocorre enquanto a trama avança, e os desdobramentos dos episódios são mais sombrios do que o normal. O senso de urgência que havia sumido nas últimas temporadas está de volta.
Novos rostos como a irritante Espoleta (Valorie Curry) e especialmente Mana Sábia (Susan Heyward) surgem para bagunçar mais uma vez as peças no tabuleiro e colocar pitadas de imprevisibilidade nessa receita. Joe Kessler (Jeffrey Dean Morgan) não tem muito a dizer por enquanto, mas deve aprontar nos próximos episódios. Porém, mesmo com tantas novidades, “The Boys” não abre mão dos comentários políticos necessários. No melhor estilo a vida imita a arte e vice-versa, os novos episódios tocam em temas atuais como polarização política, o perigoso avanço da extrema direita nas grande nações, fake news e manipulação de informações, mensagens de ódio e tudo mais. Eric Kripke não liga se parte da audiência insiste em ignorar o que está em tela, ele continua ridicularizando as tendências retrógradas que tomam conta dos noticiários.
Quem chegar aos episódios esperando conexões diretas com “Gen V” pode acabar se decepcionando um pouco. Apesar de comentários sobre os acontecimentos do spin-off, ainda não ficou muito claro onde as duas séries vão se encaixar, por mais que os trailers tenham dado algumas pistas. Óbvio que nem tudo é apenas política e terapia e os momentos estranhos e hilários também estão presentes. Com direito a um momento de beijo grego com Centopeia Humana que você não deve assistir perto da família. “The Boys” parece evoluir sem abrir mão do seu passado, utilizando tudo que aprendemos como uma escada até o próximo nível. Fica a curiosidade para ver até aonde esse crescimento irá nos levar.