Tee Yai: Nascido Para o Mal, novo filme tailandês da Netflix dirigido por Nonzee Nimibutr, revive uma das figuras mais controversas do imaginário popular da Tailândia. Inspirado em um criminoso real que virou lenda, o longa se passa na Bangkok dos anos 1980 e acompanha a trajetória de Tee Yai (Apo Nattawin Wattanagitiphat), ladrão carismático e imprevisível cuja fama mistura superstição, violência e mitificação. Confira a crítica do filme:
Tee Yai: Nascido Para o Mal
Uma história entre o real e o lendário
O filme apresenta Tee Yai como um homem que desafia a polícia e a sociedade, transformando cada roubo em espetáculo. Acredita-se que ele possua poderes mágicos — como a capacidade de desaparecer ou fazer chover — e essa aura sobrenatural é usada pelo diretor para questionar a fronteira entre mito e realidade. Ao lado de seu parceiro Rerk (Witsarut Himmarat), Tee constrói um império de crimes e admiração popular, enquanto o detetive Jakarat (Joke Akarin Akaranithimetrad) tenta capturá-lo.
Embora o foco esteja na ação e nas fugas, o coração do longa é a relação entre Tee e Rerk. O elo entre os dois é testado quando o amor, o medo e a lealdade entram em conflito. Essa dinâmica dá ao filme uma camada emocional que equilibra o ritmo das sequências de tiroteio e perseguição. Ainda assim, alguns momentos parecem alongados demais, e o desenvolvimento dramático surge tardiamente, comprometendo o impacto da história.
A estética e o espírito da Bangkok dos anos 80
Nonzee Nimibutr recria a capital tailandesa dos anos 1980 com atenção aos detalhes: figurinos, carros, locações e trilha sonora transportam o público para uma época de transformações e tensão urbana. A produção tem um visual limpo e digital, o que, por vezes, reduz a sensação de autenticidade histórica, mas mantém a clareza das cenas de ação e o ritmo fluido.
Apo Nattawin, conhecido por KinnPorsche, assume o papel com carisma e controle. Sua interpretação evita transformar Tee Yai em herói ou vilão: ele é um homem preso entre a glória e o arrependimento. Witsarut Himmarat complementa essa energia com uma atuação contida e eficaz, sustentando o tom de irmandade que move o filme.

Crítica: vale à pena assistir Tee Yai: Nascido Para o Mal na Netflix?
Crime, fé e redenção
Tee Yai: Nascido Para o Mal não romantiza o crime. Cada ato tem consequências, e a violência nunca é gratuita. A direção de Nimibutr busca humanizar seus personagens, mostrando que o que move Tee não é apenas ambição, mas a busca por sobrevivência e pertencimento em um mundo que o transformou em lenda.
Mesmo com ritmo irregular e algumas transições bruscas, o longa encontra força em sua moralidade ambígua e na forma como usa o folclore para refletir sobre a sociedade moderna. No fim, não importa tanto se Tee Yai era de fato um homem com poderes ou apenas um criminoso engenhoso — o que permanece é a ideia de que as lendas nascem quando o medo e a admiração se confundem.
Tee Yai: Nascido Para o Mal é um thriller de ação e caráter que combina mito, lealdade e redenção, oferecendo um olhar singular sobre o crime como espelho cultural. Mesmo com falhas de ritmo, o filme reafirma o talento de Apo Nattawin e o estilo refinado de Nonzee Nimibutr na construção de uma narrativa moralmente complexa.