Nope cast não! não olhe! Nope cast não! não olhe!

Sobre o que fala Não! Não olhe! ?

Não! Não olhe! é diferente de tudo que Jordan Peele apresentou até agora. A nova aposta do diretor para os cinemas sofre da conhecida perspectiva de um clássico: ou você ama ou odeia. Além da extensa carga teórica, Não! Não olhe! constrói uma história coerente e com uma memorável transição de cenas. Mas, afinal, do que se trata cada referência de Não! Não olhe!?

Ideia central

Inicialmente, tudo que é apresentado em Não! Não olhe! tem a ver com a sociedade do espetáculo. Desde o começo do filme até o final, é possível ver que cada um ali busca, de alguma forma, o sucesso, a fama e o reconhecimento por algo. Assim, essa incansável jornada faz com que as pessoas assumam acordos profissionais ou tomem decisões que parecem descabidas. Uma das notórias qualidades das cenas é a presença invisível, porém não ignorável, da vontade pelo sucesso.

Há sempre um gancho ali para ser famoso, independente do que é oferecido. TMZ, Oprah, Hollywood e até mesmo o showbusiness são alguns elementos que aparecem e exemplificam meios pelos quais os personagens querem obter o que tanto almejam. Assim, Não! Não olhe! exibe toda sua trama em algo que remete a um blockbuster muito bem trabalhado por Peele.

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O registro fotográfico do cavaleiro

O filme começa com uma menção ao espetáculo. Logo em seguida, a histórica captação de movimento de Eadweard Muybridge, que deu impulso ao cinema, é apresentada. Todos conhecem a obra, mas poucos sabem quem é aquele cavaleiro. Dentro dessa premissa, a narrativa inicia sua apresentação aos personagens principais que, descendentes do cavaleiro, são os que agora comandam o rancho Haywood.

É com esse posicionamento cultural que Emerald Haywood (Keke Palmer) e OJ Haywood (Daniel Kaluuya) apresentam seu serviço para Hollywood. Perceba que, na primeira cena do estúdio, a irmã não se contenta em só ser reconhecida como aquilo. Pelo contrário, ela apresenta seu cartão para produtores, diretores e outros atores ali.

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O chimpanzé de Gordy’s Home

Talvez aquela cena inicial do chimpanzé atacando o elenco de um seriado tenha te assustado. Além de ser pano de fundo para a história de um dos personagens, ela faz a metáfora ideal para entender a trama. Diante de um cenário de showbusiness, uma produção doma um predador fazendo com que ele seja adestrado para sair do seu comportamento natural e atuar em um programa de TV. O que poderia dar errado, não é mesmo?

O empresário Jupe (Steven Yeun), mesmo sendo o único sobrevivente desse ataque, tenta fazer a mesma coisa com o alienígena mais tarde. Ao usar o ser como atração em seu show, ele o desafia e faz com que uma revolta iminente não passe de uma reação natural do predador. O acontecimento em Gordy’s Home ilustra bem o desenrolar da história, tanto na questão da busca pela fama quanto na questão do encarar seu predador.

Aliens?

Alienígena, OVNI, animal, monstro, erro de laboratório, não importa. Um dos amadurecimentos mais fortes da trama de Jordan é o desligamento completo da catalogação daquele ser para o que ele representa naquele contexto. Após todo o desenrolar do filme, você entende que o foco não é saber o que é aquilo, apenas basta entender que ele é um prêmio para certas pessoas que vão fazer de tudo para conquistá-lo.

A princípio, a etiqueta de OVNI cai muito bem ao monstruoso ser que se camufla no ambiente. Porém, é essa perspectiva que se torna um catalisador para a cegueira dos personagens diante da oportunidade que tanto querem. A única pessoa que entende muito bem isso é OJ, tanto que, no começo do filme, ele mostra sua habilidade de lidar com outros animais.

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Nope

Para Peele, “nope” é o termo perfeito que veste essa produção. Além de ter o sentido negativo, que se complementa à negação do gesto visual, o significado dessa expressão é bem mais profundo e irônico.

Mesmo que o sentido se perca na tradução brasileira, o termo “nope” se refere a como os personagens costumam encarar coisas bizarras de terror. A expressão carrega um sentido cômico, de quase um “não é possível que isso está acontecendo”, além de ser uma clara interpretação de como o espectador também poder ver toda a situação.

Peele já declarou que andou os últimos anos estudando os blockbusters do anos passados, entre eles, Spielberg, por isso a grande semelhança e referência ao filme Contatos imediatos de terceiro grau e a ET. Ainda é possível constatar esse aspecto bizarro que Peele costuma trazer dentro de seus filmes, sempre envolvendo o impensável com o medonho.

Questão racial

Embora não seja o foco principal dentro dessa narrativa, a questão racial aparece inúmeras vezes. A priori, a sequência de imagens de um jogador de jockey negro, que sequer foi lembrado. Em segundo lugar, o nítido esforço que os irmãos Haywood precisavam fazer a todo momento. Mesmo sendo os herdeiros do legado do pai, era necessário provar para toda Hollywood que eles dariam conta.

Ainda nessa perspectiva, o contraponto de personalidade dos dois irmãos toma conta de quase todas as cenas. Enquanto OJ é apresentado como aquele personagens negro que quase não fala e tem atitudes mais brutas, Emerald é extrovertida e necessita provar a todos que ela tem seu lugar ao mundo, por isso uma voz tão teatral.

Além do ponto pessoal, caso decidamos olhar de forma geral, conseguimos estabelecer uma notória relação com a culpa e do vitimismo. Primeiro, lembre que o personagem OJ carrega consigo um fardo televisionado. Ao contrário de Jupe, que fez com que todo seu vitimismo fosse comercializado, os irmãos Haywood não possuem o trunfo dessa carta para salvar seu rancho. Assim, além de enfrentar o horror, eles buscam o sucesso para mostrar a superação do trauma.

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Não! Não olhe!

Uma das subtramas do filme é como lidamos com a natureza. OJ considera que grande parte das pessoas não sabe como agir perto de um predador ou de qualquer outro animal. Ele parece ser o único personagem a entender isso e a sacar como aplicar sua perspectiva durante a história.

A trama de Jupe também tem sua carga nesse ponto. Perceba que nas cenas finais da sua tragédia em Gordy’s Home, um pedaço transparente de toalha de mesa atrapalha a perspectiva do chimpanzé. No futuro, o xerife de mentirinha não tem tanta sorte assim.

Peele consegue ser genial ao trazer o campo visual como excelência de comportamento humano nesta obra. Somos tudo aquilo que vemos, pois assim conhecemos, julgamos, sentimos e estabelecemos uma conexão. A grande ironia talvez seja a única captação de imagem no final, que acontece de forma analógica e braçal.

Não! Não olhe! é um retrato de como extrapolamos os limites naturais e humanos para ir atrás de um objetivo. Não importa como, use o “nope” que for, aconteça o que acontecer tudo se torna uma oportunidade, mesmo que você não entenda de verdade nem 10% do que se passa ao seu redor.