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Foi com grande satisfação que recebi Sex Education em sua estreia na Netflix ano passado. Com uma trama bem colegial e estrelada por Asa Butterfield (que quase foi escolhido como Peter Parker no lugar de Tom Holland nos filmes da Marvel), a série abordou diversos temas tabus para os adolescentes e até adultos. Tudo isso recheada de personagens carismáticos – uma Malhação do bem. Seria difícil, desse modo, a segunda temporada superar a primeira.
A série acompanha Otis (Butterfield), um garoto que não está passando por bons momentos na adolescência. Muitos deles são por conta dele não conseguir lidar bem com a sua sexualidade, enquanto tem uma mãe que é terapeuta sexual para intimidá-lo. Dotado de algum conhecimento sobre o assunto, ele acaba se unindo a Maeve (Emma Mackey), uma garota rebelde que percebeu muitos colegas de colegial com dúvidas sobre sexo, para assim faturarem algum dinheiro em troca de consultas clandestinas.
A estratégia de abordar diversas temáticas tabu é repetida, mas ao invés de levar a série pro campo comum, acaba dando ainda mais profundidade aos diversos e interessantes personagens. Alguns recebem novas nuances, como é o caso de Jackson. Na sua subtrama temos, além de uma nova amiga, a temática do auto flagelo como meio de sair de uma situação de pressão. Ou seja: você não precisa expor jovens se matando para mostrar o risco disso acontecer. 13 Reasons Why que lute.
Nesse balaio, podemos incluir outros assuntos pertinentes como abuso sexual, aceitação e muito mais. É uma rotatividade de temas que, mesmo não se aprofundando tanto, serve para gerar algum debate a respeito e contar uma história digna para seus personagens.
Apesar de alguns exageros para fins cômicos, o roteiro faz um saudável exercício de trazer o discurso da terapia para o campo real. Assim, Otis passa a rivalizar com a própria mãe, que está trabalhando na escola e atendendo alunos gratuitamente. Mesmo tendo ajudado muitos colegas, essa atividade dele com Maeve não era algo muito responsável e o conflito entre mãe e filho também serve para desenvolver ainda mais a relação dos personagens de Asa e Gillian. De quebra, também temos o pai de Otis retornando para contribuir com essa dinâmica familiar.
Destaque especial então para Gillian Anderson, que consegue melhorar ainda mais a personagem, seja pela sua atuação ou mesmo por algumas decisões do roteiro que traz justiça para Jean. A atriz está numa fase muito interessante em sua carreira, após a bela passagem por The Fall e seu vindouro aparecimento como Margaret Thatcher em The Crown (ambas da Netflix).
Há três novos personagens que ganham grande destaque, são eles Viv (Chinenye Ezeudu), Rahim (Sami Outalbali) e Isaac (Connor Swindells). Mas cada um funciona muito mais como ferramenta de desenvolvimento dos dramas de núcleos já existentes: Maeve com Otis, Eric com Adam e Jackson com suas mães.
A clássica paixão do adolescente nerd e tímido por uma garota mais descolada foi tema anteriormente, mas nessa segunda temporada é abordada de modo mais pontual, dando mais espaço para questões mais atuais como emancipação feminina. Há algumas sementes boas de serem trabalhadas nessa relação entre Maeve e Otis, como a diferença de classe social. O triangulo entre Eric, Adam e Rahim serve para mostrar que, em muitos casos, mesmo você sendo uma pessoa incrível não é o suficiente para garantir um grande amor, seja adolescente ou não. Já a chegada de Viv tem muita relação com o que falei acima sobre Jackson.
O futuro reserva muitas coisas ainda para a trama da série como um todo, e manter esse modelo de narrativa garantirá o programa em evidência, mesmo que a qualidade caia um pouco. É uma vantagem quando você consegue estabelecer personagens carismáticos. Pode ser no calor do último episódio, mas a segunda vez com Sex Education foi ainda melhor.