pôster de Sangue Frio (cold meat) filme de 2023 dirigido por Sébastien Drouin pôster de Sangue Frio (cold meat) filme de 2023 dirigido por Sébastien Drouin

Sangue Frio: do jeito que o Wendigo gosta

Longa de estreia de Sébastien Drouin passeia por diversos gêneros sem se fixar em nenhum

Filme de baixo orçamento e com ideias interessantes nos catálogos do streaming nem sempre é resultado de boas produções, como é o caso do recém-assistido Monster. Afinal, não dá pra toda vez esperar um Cães de Aluguel ou Pulp Fiction, de Quentin Tarantino. No entanto, uma boa pedida (atualmente na Netflix) seguindo a premissa do “menos é mais” é Sangue Frio (Cold Meat, 2023), estreia de Sébastien Drouin na direção que traz mais coisa boa do que ruim em seu debute.

A sinopse, no entanto, indica a pior porcaria possível: um homem salva uma garçonete de uma investida do agressivo ex-marido em um restaurante no Colorado, EUA. Agora, ele precisará lidar com as consequências dos seus atos e lutar pela sua vida.

A princípio, temos a impressão de estarmos lidando com um filme de suspense, como aqueles thrillers que possuem como vilão um homem maldoso e obstinado a perseguir e matar suas vítimas. Porém, Sangue Frio consegue mudar esse prisma de um modo inesperado, passando assim a redistribuir as cartas do jogo ao qual propõe.

Cold Meat vai te surpreender (spoilers a seguir)

A partir do momento em que entendemos que David (Allen Leech) é na verdade um sequestrador de mulheres, e que Ana (Nina Bergman) está em seu porta-malas, o filme acaba tomando um rumo diferente. Passamos então a pensar numa grandiosa cena de vingança por parte da vítima, que escapou do pior por muito pouco.

Mas não, o problema agora é Ana se entender com David de algum modo pois o local em que estão não há possibilidade de escapatória até que a nevasca cesse. Enquanto tentam ver um jeito de sair dali, a falta de confiança de um com o outro fará com que eles piorem significativamente a condição do carro que estão usando como refúgio, e o risco de morrerem congelados está cada vez maior.

Nina Bergman como Ana estrelando Sangue Frio (Cold Meat)
Créditos da imagem: divulgação

Então, falando sobre tudo o que Sangue Frio não é (pouco suspense, pouco drama) finalizamos afirmando que também não se trata de um road movie. A partir da metade, o filme acaba perdendo um pouco o seu interesse, pois as viradas na trama já ocorreram e a inexperiência na direção (claramente o cenário poderia ter sido mais explorado) e os diálogos pouco inspirados não contribuem para prender o telespectador. Mas vale elogiar também: todo o borógodó foi filmado em cerca de suas semanas pela a equipe de produção.

Lenda do Wendigo adaptada para a violência contra a mulher

A última sacada de Sébastien Drouin para nos surpreender é quando nos deparamos com o insólito reservado para esta narrativa, tendo como referência a lenda do Wendigo, uma criatura do norte dos EUA que come carne humana por conta de uma maldição. As liberdades na adaptação do mito tomadas por Drouin no roteiro coescrito com James KermackAndrew Desmond fazem sentido com a proposta, principalmente se levarmos em conta o título original da obra (Cold Meat), embora não se arrisquem muito para entregar algo além do habitual para um filme de terror que não quer mostrar explicitamente a sua criatura.

Wendigo desenhado por Iren Horrors no DeviantArt
A lenda do Wendigo assombra o norte dos EUA, está presente em Sangue Frio (Cold Meat). Créditos da imagem: Iren Horrors no DeviantArt

Sangue Frio: vale à pena assistir ao primeiro longa de Sébastien Drouin?

Não é como se você fosse perder o filme da sua vida caso não assista Sangue Frio, mas há sim um bom divertimento nesta primeira empreitada de Sébastien Drouin como diretor de longa-metragem, na qual ele utiliza de boas inspirações desde a concepção da história, passando pela condução do roteiro e chegando até a sua satisfatória conclusão.