Resident Evil é uma franquia que passa por um fenômeno curioso. Os jogos de videogame são adorados por uma legião de fãs, causando uma enxurrada de expectativas antes de cada novo lançamento. Porém, o mesmo não pode ser dito das adaptações, sejam elas live action ou animadas. No cinema, os longas comandados por Paul W. S. Anderson e estrelados por Milla Jovovich nunca caíram nas graças da crítica, ainda que tenham estabelecido uma audiência fiel. Talvez esse seja o maior expoente da maldição da adaptação de games. Na tentativa de mudar essa imagem, a Netflix lançou Resident Evil: No Escuro Absoluto. Mas o problema está longe de ser resolvido.
Anos após os trágicos eventos em Raccon City, Leon (Nick Apostolides) e Claire (Stephanie Panisello) estão em caminhos opostos na vida. Porém, uma situação de emergência na Casa Branca coloca o destino dos dois novamente em rota de colisão. Para os desavisados, RE: No Escuro Absoluto é uma animação original e canônica dentro da franquia de jogos, carregando assim referências de Resident Evil 2, 4 e 5. Isso explica o excesso de informações jogadas na tela, que não se preocupam em situar o espectador comum que espera encontrar algo menos aprofundado na mitologia da saga. Por outro lado, deixa clara a intenção da série de agradar os fãs mais antigos.
Nesse sentido, os quatro episódios da temporada estão recheados de elementos característicos dos jogos: uma conspiração política, armas biológicas, um monstro gigante com um ponto fraco exposto, alguns momentos de tensão e cenas de ação protocolares. Dessa forma, não estranhe caso pareça que está acompanhando uma longa cutscene que entrega detalhes importantes da trama. A principal diferença é que No Escuro Absoluto investe mais em dialógos e relação entre os personagens do que no terror clássico de outrora. Infelizmente, não podemos pressionar um botão para chegar ao que realmete importa.
No meio desses problemas, No Escuro Absoluto entrega alguns momentos até inspirados. Destaque para a sequência de ataque na Casa Branca e para uma situação envolvendo ratos zumbis dentro de um submarino. A interação entre Leon e Claire desperta um sentimento de nostalgia, embora a moça tenha bem menos tempo de tela do que o agente do governo. Em todo caso, acompanhar Leon em seus momentos de ação totalmente desconexos com as leis da física ainda é algo divertido. Se lembrarmos que o personagem está afastado dos jogos recentes, isso serve como um agrado para quem ainda sonha com um remake de RE 4.
Não gosto de repetir exemplos, mas a animação da série emula com perfeição as cutscenes dos jogos. O que não chega perto de ser um elogio. Em alguns momentos, parece que estamos diante de cenas das gerações mais antigas de consoles, o que causa uma estranheza se analisarmos quem está por trás do projeto. Em linhas gerais, Resident Evil: No Escuro Absoluto não agrega muito para a franquia, no máximo abre espaço para outra temporada focada em mais personagens famosos. Fica a expectativa para que a Netflix se saia melhor com a vindoura série live action e que essa maldição finalmente possa ser quebrada.