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Resgate 2: o dobro de ação, o mínimo de roteiro

Não é difícil imaginar os motivos que fizeram de Resgate um estrondoso sucesso da Netflix. Auge da pandemia, a maior parte da população mundial confinada e um longa reunindo estrelas do calibre de Chris Hemsworth e os irmãos Russo. Eis a fórmula para um produto original de sucesso e uma possível entrada para uma franquia de ação que o serviço de streaming tanto buscava. Para a surpresa de absolutamente ninguém, uma sequência foi lançada trazendo consigo a principal missão de uma continuação: exagerar os pontos positivos do primeiro filme. Resgate 2 faz isso. E apenas isso.

Após sobreviver aos eventos do primeiro filme (leia a crítica), Tyler Rake (Hemsworth) encara uma aposentadoria forçada. No entanto, o descanso é interrompido quando Alcott (Idris Elba) surge com uma nova oferta de trabalho: resgatar uma mãe e seus filhos de uma prisão na Geórgia. Cobrar excelência dramática de um filme de ação é algo injusto, mas é dever do roteiro entregar algo minimamente atrativo para que o espectador possa investir sua emoção. Resgate 2 abre mão de qualquer tipo de desenvolvimento de personagem para focar em tomadas de tirar o fôlego. Funciona? Até certo ponto. De fato, o escopo da ação é bem maior aqui. Na medida em que a profundidade do protagonista é a mesma de uma tampa de garrafa.

O fiapo narrativo tenta explorar mais do passado de Tyler e sua relação com a ex-esposa Mia (Olga Kurylenko). Coincidentemente a missão do longa envolve o resgate da irmã de Mia. Mas essa carga emocional não convence e serve apenas como justificativa para que o protagonista se mova pela trama. O roteiro de Joe Russo – baseado na graphic novel ‘Ciudad’ de Ande Parks – não investe muito na dinâmica entre personagens. O que é uma pena, já que coadjuvantes como os irmãos Nik (Golshifteh Farahani) e Yaz (Adam Bessa) muitas vezes impedem que Resgate 2 seja um mero amontoado de cenas de ação.

Foquei em tudo que não funciona em Resgate 2 para encerrar esse texto abordando o principal trunfo do longa. As cenas de ação são excelentes. Quer dizer, existe uma excelente e duas padrões, que ainda assim agradam muito. O diretor Sam Hargrave parece mais confortável em sua função e extrai o melhor de cada tomada de luta e tiroteio. Como um ex-dublê, ele entende o que deve ser feito para convencer o público de que toda a pancadaria e as explosões são plausíveis. Cada soco, tiro e facada precisa ser sentido do outro lado da tela. E disso não posso reclamar. O ápice do conceito está na longa tomada de 21 minutos que começa numa prisão, passa por uma perseguição de carros e termina em um trem descarrilhando. Editada para emular um plano sequência, essa é de longe a melhor cena de ação do ano. Infelizmente, depois disso precisamos acompanhar algo parecido com um filme.

Resgate 2 habita a mesma era de John Wick e ambos possuem muitas semelhanças. Os protagonistas correm, pulam, lutam, atiram, são monossilábicos e ignoram as leis da física e os ferimentos para cumprirem suas missões. A diferença é que apenas um deles existe num universo minimamente interessante. Com o gancho da cena final, quem sabe Resgate 3 não entenda como montar uma verdadeira franquia de ação.