Renfield - dando o sangue pelo chefe nicolas cage e nicholas hoult Renfield - dando o sangue pelo chefe nicolas cage e nicholas hoult

Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe

Amamos Nicolas Cage. Amamos vampiros. Logo, Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe não tem como dar errado, não é mesmo? Bom… não é bem assim, o que me surpreendeu muito. Mas vamos à crítica.

Temos uma história bem qualquer coisa, só que com cenas de ação boas e um Drácula interpretado por Nick Cage (o que por si só já é metade da nota do filme), na forma de comédia situacional que não funciona tão bem: pouco terror e uma trama que envolve gatilho pesado sobre relacionamento abusivo. Ah, e boas referências aos clássicos vampirescos, como Drácula de Bram Stocker, Nosferatu e tal.

Quem é Renfield?

Renfield (Nicholas Hoult) é um humano, ou melhor, um servo do Drácula (Cage), que recebe temporariamente uma fração do seu poder toda vez que come insetos. Isso. Qualquer um deles. A partir disso, o protagonista precisa resolver todos os perrengues do vampirão, como levar comida para ele (a.k.a. gente), sendo que, a pobre alma já está no fundo do poço e não aguenta mais após quase um século de escravidão. É quando Renfield decide ir em uma reunião tipo AAA, só que para pessoas codependentes*, atrás de vítimas e dessa ponto em diante, a vida do serviçal vai dar viradas inesperadas.

Renfield é um personagem que tinha tudo para ser muito interessante, principalmente porque o assunto principal do filme é a sua própria codependência do chefe narcisista e os abusos psicológicos e físicos que sofre, mas puxando para um tom de comédia, afinal, a proposta é ser um terrir (terror para rir). Mas o longa acaba ficando meio que no feijão com arroz, e a sua sorte é que Hoult atua muito bem no papel e consegue segurar firme ali o filme como protagonista.

Faltou mais Nicolas Cage como Drácula?

O assunto principal do filme, convertido para uma situação mais pesada pela pessoa que causa os abusos ser basicamente o vampiro mais poderoso do mundo, não é fácil de se trabalhar por uma perspectiva cômica, e, pessoalmente, achei que o filme bateu na trave. Em alguns pontos, acertou demais, como mostrar que não é somente dentro de um relacionamento amoroso que se pode sofrer nas mãos de um narcisista** – basicamente, com qualquer pessoa com quem você se relaciona, seja amizade, um chefe ou seus pais. Mas, no geral, o tom de coach basicão é que peca.

Gostaria de ter visto mais do Drácula, que é a melhor coisa do filme, e sinto que não teve tempo de tela o suficiente para ser muito mais ameaçador. Pra mim, o que o deixa pavoroso, além da excelente atuação de Nicolas Cage, é o fato dele abusar física e psicologicamente de Renfield. Todas as frases que ele diz para o protagonista, eu já ouvi, o que me deu uma certa sensação de cartilha, como se tivessem reunido tudo o que pessoas que passaram por esse trauma já ouviram – ou ouvem – e colocado no texto.

Os outros personagens são meio esquecíveis, principalmente Rebecca (Awkwafina), que deveria ser uma figura marcante, mas é apenas a atriz repetindo o mesmo papel de sempre (culpa do roteiro) e pior, servindo apenas em função do protagonista, sem ter um real papel dentro da trama.

As cenas de ação foram bem coreografadas e, embora em poucos momentos utilizem aquela técnica horrorosa da câmera tremida para dar uma sensação de muita ação acontecendo, são uma maravilha de assistir.  Elas envolvem muito uma ação-terror-trash que combinou demais.

No fim, o filme é uma mistureba que não tem muita certeza do que quer ser, mas que se tivesse focado ali na relação Renfield – Drácula, teria sido algo realmente bom. Não é uma história para ficar na memória, mas que, como não é ruim – só é muito qualquer coisa -, vale a pena assistir, pois é boa para passar o tempo e dar umas risadas.

GLOSSÁRIO 

*Codependência é um transtorno emocional de dependência de um indivíduo.

** A personalidade narcisista, em um resumo muito resumido, superestima suas habilidades e exagera suas realizações. São pessoas que acham que são superiores, originais ou especiais. Essa superestimação de seu próprio valor e realizações muitas vezes implica uma subestimação do valor e das realizações dos outros. Costumeiramente não sentem empatia, pois são muito autocentrados, e estão focados na própria grandiosidade.