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Record of Ragnarok e seu problema na animação

Humanos contra deuses. Uma premissa interessante, na qual a batalha corpo a corpo é o ápice, com habilidades especiais e o desenvolvimento da história se dando no meio de um torneio de porradaria. “Record of Ragnarok” (Shuumatsu no Valkyrie) é puro suco do shonen de luta, e isso não é ruim. Quando o anime, que é baseado em um mangá, chega, isso faz, ou deveria fazer, com que as vendas e o interesse do público na obra principal aumentem. E talvez esse efeito seja reverso aqui.

Com a produção do estúdio Graphinica (Juni Taisen: Zodiac War), o anime apresenta que, a cada 1000 anos, os deuses – Zeus, Odin, Shiva, Bishamonten, Beelzebub, entre outros – se reúnem para tratar sobre o destino da humanidade. Só que, após 7 milhões de anos, eles decidem que os humanos precisam entrar em extinção. Nesse momento, surge Brunhild, a mais velha das Valquírias, e propõe que os humanos devem ter mais uma chance, colocando todos os deuses vaidosos no mito Ragnarok. Desta forma, treze humanos devem enfrentar treze deuses, e caso haja sete vitórias para o lado da humanidade, o equilíbrio da vida será restaurado. Mas a questão é: como derrotar seres incríveis na pura pancadaria?

Com uma trama que envolve misticidade e, a princípio, a exploração dos mitos, das grandes personalidades da humanidade e dos deuses, o que haveria de ruim em acompanhar uma saga em que criaturas vaidosas acabam sendo socadas por meros seres humanos? Mas o que pegou muita gente de surpresa ao conferir “Record of Ragnarok” foi justamente a animação. Perceba, o estúdio não possui grandes produções, e o tempo para reunir e produzir tudo com uma equipe experiente é quase inexistente. O projeto acabou sendo divulgado no final de 2020, correndo para entregar toda a primeira temporada, com 12 episódios, em um semestre.

Record of Ragnarok e seu problema na animação
Divulgação: Netflix

Em um artigo do YGP, membro do grupo Sakuga Brasil, que costumeiramente analisa as produções animadas orientais pelo viés técnico, um dos grandes pontos que levam o anime a ser “crucificado” é a dificuldade de ter mais animadores trabalhando no projeto, além do design e da composição visual dos personagens, que é bastante complexa, e o tempo de entrega. Um dos pontos centrais da animação de Masao Ookubo (Onegai My Melody Yu & Ai), que dirige esta primeira temporada, foi focar nos efeitos em 2D, uma de suas especialidades, e é o que se encontra em diversos episódios.

Ora, mas temos diversos projetos atuais bem detalhados. Sim, mas, possivelmente, ter diversos animadores freelancers deve ter dificultado ainda mais a produção, que acabou por pegar um design bastante detalhado, atrapalhando e “truncando” toda a animação. A Netflix, com os seus últimos projetos de anime, tem dado alguns tiros no escuro, buscando não somente preencher seu catálogo com diversas animações originais, mas se tornar um dos grandes produtores de animações orientais. Basta ver suas parcerias concretizadas com ótimos estúdios, como o MAPPA (Jujutsu Kaisen) e Science Saru (2020: Japão Submerso), por exemplo.

Um ótimo exemplo sobre animação versus mangá da plataforma é o lançamento do anime “The Way of the Househusband”, baseado no mangá de Kousuke Oono. A obra, desde seu lançamento, ganhou várias premiações, como o Eisner em 2020, e possui uma boa base de fãs pelo mundo. Produzida pelo estúdio JC Staff, de “Hi Score Girl”, entregou uma animação muito diferente do que todos estão acostumados. A diretora do projeto, Chiaki Kon, acabou por utilizar diversas páginas do mangá original como referência para animação, o que desagradou muitos que esperavam algo mais fluido.

Não se deixe levar por essas questões. “Record of Ragnarok” pode não ter uma animação incrível, ou mesmo uma ótima história nessa primeira temporada, mas isso deve mudar em breve. A recepção é algo que influencia no andamento das produções, e a adaptação acaba por deixar de fora alguns pontos que estão no mangá. Se você gosta de pancadaria pela pancadaria, eu recomendaria também assistir, na própria Netflix, outros dois animes: “Baki” e “Kengan Ashura”. Duas produções com bons momentos e que trazem aquilo que é um dos cernes de “Record”, a luta.

Por mais que o anime não tenha feito jus ao mangá escrito por Shinya Umemura, Takumi Fukui e Ajichika, uma segunda chance é sempre bem-vinda. Os personagens, seus poderes e toda a história dos deuses e humanos são ampliadas nos combates e têm ganhado muitos fãs nos últimos anos de sua publicação. Se gostou da trama básica, mas não curtiu a animação, vá ler o mangá. A decisão é sua.