Inspirado livremente no livro de mesmo nome, do autor Marcos Piangers, Papai é pop é uma narrativa que traz um assunto que precisa ser revisitado urgentemente pela sociedade: a solidão da mãe brasileira. Se você achou que seria sobre paternidade, bem, acertou também.
Tom (Lázaro Ramos) e Elisa (Paolla Oliveira) estão prestes a ter sua primeira filha, Laura, e não poderiam estar mais felizes, traçando mil sonhos e planos para o futuro. Finalmente terão a família perfeita. Acontece que o nascimento da menininha deles trouxe muito mais do que felicidade, trouxe responsabilidades que parecem estar além do que Tom quer ou mesmo está preparado para assumir.
O fato é que o relacionamento do casal do filme resume o de milhares de outros ao redor do país, principalmente no que concerne à ideia errada da paternidade. Tom, antes da filha nascer, é pura alegria, encara a vinda da sua menininha com otimismo, sabe, dentro de si que, mesmo sem ter tido um pai para criá-lo, vai ser o melhor pai do mundo. Vai superar todos os outros pais de tão incrível que vai ser. Mas já começa no dia do nascimento, quando ele, sabendo que a esposa poderia entrar em trabalho de parto a qualquer minuto, decide sair sem consultá-la se estaria tudo bem a deixar sozinha por algumas horas, além de ficar longe do celular. Quando a sua pelada com amigos acaba, ele percebe que tem trocentas ligações de Elisa, além de mil mensagens esculhambando ele por não estar atendendo e nem mesmo a caminho do hospital.
Só com isso já sabemos que a estrada de Tom na paternidade é a mesma de milhões de outros, o da ausência, algo que rapidamente se concretiza. Enquanto Elisa se desdobra desde o princípio para se adaptar à nova rotina com um bebê recém-nascido, além de ter que ser dona de casa, Tom passa o seu tempo jogando videogame. A primeira cena deles em casa é Laurinha chorando, Elisa desesperada tentando acalmá-la a horas e o marido perguntando o que tem para jantar. Ah, e se não tem algo de errado com a filha deles, porque ela não para de chorar.
Vemos, durante parte da narrativa de Papai é Pop, uma Elisa completamente sobrecarregada, exaurida de ter que lidar com tudo sozinha, em contraste com o esposo, que continua o mesmo, ou pior, se considerar que ele começa a mentir para passar mais tempo fora de casa com amigos sem ouvir “a esposa reclamando”. Há até mesmo uma frase que mães solo escutam o tempo todo, que é “não posso parar a minha vida por causa de filho”, pois espera-se que a mulher é quem viva em função de criança, largando seu emprego e sua vida. Em grande parte do filme, dá vontade de esmurrar a cara do pobre do Lázaro Ramos, que apenas faz um trabalho excelente atuando como um homem que acha que ser pai é como acender e apagar a luz.
É interessante sobre como o filme brinca com contrastes, pondo em holofote não somente a falta de paternidade de Tom e seus vacilos, mas como isso destaca a maternidade de Elisa, que nunca teve a opção de não ser mãe. E sabemos, na sociedade em que vivemos, que mulheres não podem escolher não serem mães, ou o tribunal social está aí para destruí-las. Não que Elisa não quisesse ser mãe, ao contrário, ela queria e muito, mas isso só torna ainda mais forte a mensagem, como mesmo quando queremos muito, mas muito mesmo, sermos mães, ainda assim é difícil, é doloroso, é algo que suga de nós física, psicológica e emocionalmente. Porém, se o seu parceiro está contigo nessa, ele realmente for pai e não o cara que só assinou um documento atestando ter o mesmo DNA que a criança, as coisas podem se tornar muito mais leves.
Tom e Elisa são carismáticos, nos afeiçoamos a sua história, e, por sorte, os outros personagens são tão incríveis quanto. Como Gladys (Elisa Lucinda), a mãe de Tom, que é uma lindeza só, que não somente vai apoiar a nora, como dar suporte ao filho para que ele aprenda a se tornar uma pessoa melhor, ou Júlio (Leandro Ramos), que você tem ódio no começo, ou a melhor amiga de Elisa, Joana (Dadá Coelho), que você ama desde sempre.
O que eu não gostei muito é que, no fim das contas, as pessoas podem acabar enxergando Papai é Pop como um filme apenas sobre paternidade, além da possibilidade de deixar mulheres suspirando, de forma positiva, sonhando com o tipo de família apresentado. Por outro lado, torço para que esse exemplo ajude a abrir os olhos para o que o marido está fazendo como pai e cobrar dele de forma mais assertiva as responsabilidades cabíveis a ele. Quanto aos homens, não tenho muita certeza se todos irão entender a mensagem.
No geral, é um filme fofo, que perpassa ali o drama e a comédia, que te ensina algo – se estiver disposto a aprender.