Não há dúvidas de que Starfield era um dos jogos mais esperados dos últimos anos. Desde o enorme sucesso da Bethesda com Skyrim, a empresa costuma criar um grande hype para seus lançamentos. Entre muita expectativa e inseguranças, o jogo foi lançado com opiniões mistas. Como ele é enorme e cheio de elementos, neste texto vou tentar mostrar onde ele acerta e onde erra miseravelmente ao desperdiçar um grande potencial.
Os Acertos
Vamos começar falando bem para manter uma energia mais positiva. Starfield é mais um jogo da Bethesda, ou seja, se você já gosta do seu estilo de gameplay, misturando ação e RPG e sua estrutura de missões, provavelmente vai curtir a experiência. Felizmente, a obra não segue o caminho de Fallout 4 e acaba entregando algo que é bastante RPG em suas mecânicas. O jogador pode personalizar bastante seu personagem com diferentes habilidades, que vão adicionar ou aprimorar alguns aspectos da jogabilidade. A árvore de habilidades é uma das coisas mais legais do jogo, com uma extensa variedade que vai desde ciência, pilotagem, combate, até diálogos, entre outros.
Achei bastante corajoso que algumas coisas básicas, como usar furtividade e mochila propulsora, só são desbloqueadas após você comprar pelo menos um ponto de habilidade nelas. Temos também uma evolução do sistema de subir uma habilidade usando-a. Cada nível aqui possui um desafio para desbloquear o próximo, como se fossem pequenas conquistas que o jogador deve cumprir antes de gastar mais um ponto na habilidade. Embora os níveis mais altos exijam um pouco de grinding, achei uma decisão mecânica interessante e imersiva, impedindo que o jogador se concentre apenas em uma parte da árvore de habilidades.
Outro ponto fortíssimo em Starfield é sua ambientação, tanto na criação do mundo como na forma em que ele é apresentado a quem vai jogar. É altamente recomendável que o jogador comece fazendo a missão da Vanguarda logo de início, pois ela leva a um museu que explica a história geral desse universo e suas principais facções. Essa qualidade de worldbuilding, misturada com a excelente direção de arte chamada de “NASA-Punk”, traz uma imersão essencial para esse tipo de RPG. As missões das principais facções também são cheias de situações interessantes e ajudam no desenvolvimento do mundo, mas mesmo assim têm diálogos pouco inspirados e sem graça em seus momentos.
As outras missões menores já não são tão interessantes assim, e é uma questão de tentativa e erro encontrar aquelas que realmente valem a pena. Os modelos dos personagens da Bethesda estão melhores do que o habitual, mas ainda parecem desprovidos de vida e suas vozes soam como as de bonecos animatrônicos, o que quebra a imersão em diversos momentos. Muitos podem dizer que é o charme da Bethesda, mas acho esquisito um jogo AAA em pleno 2023 com esse tipo de diálogo.
Os Erros
Um dos pontos mais criticados de Starfield, com razão, é a forma como a exploração clássica da Bethesda meio que morreu neste jogo. Devido ao seu escopo gigantesco, com centenas de planetas, o jogador precisa estar constantemente usando fast travel de um ponto para outro da galáxia. Isso acaba matando uma das coisas mais legais dos jogos de mundo aberto desse tipo, que é sair andando até uma nova missão e se deparar com uma side quest no meio do caminho. Esses momentos ainda acontecem dentro das cidades e, em certos casos, quando você salta para a órbita de um planeta, mas o sentimento é diferente, parecendo mais uma situação aleatória que ocorrerá com alguns jogadores. Quando você desce em um planeta, existem pontos de interesse, mas geralmente são eventos e locais aleatórios e raramente interessantes.
O jogo até permite que você explore os planetas, mas da forma mais chata possível, em cenários bonitos, mas pouco inspirados, geralmente sem nenhum desafio ou algo interessante acontecendo no caminho. Para piorar, parece ridículo ter que caminhar quilômetros quando você tem uma nave estacionada ali ao lado.
Falando sobre as naves, é um ponto que tem seus erros e acertos. Passei algum tempo construindo naves e achei um sistema até divertido de mexer, apesar de ser muito mal explicado. E claro, dar uns tiros por aí é divertido também. É uma pena que em diversos momentos elas pareçam inúteis devido a essa estrutura de saltar de um lugar para outro o tempo todo. Você não pode usá-las dentro dos planetas, e eu entendo que isso quebraria muito o level design. Mas em vários momentos, sua nave parece mais uma tela de loading gourmetizada.
Você só pode voar com sua nave nas órbitas dos planetas, para eventualmente ter uma batalha que é divertida, mas com um gameplay muito raso. Na maior parte das vezes, ela só serve para acoplar, pousar ou decolar. Ou seja, prepare-se para ver várias telas de loading que ficam insuportáveis depois de algumas horas de jogo. Além disso, dentro das cidades, existem momentos em que você tem que passar por duas ou três telas de loading em portas diferentes em períodos curtos de tempo.
Veredito
Não vou dizer que odiei meu período com Starfield. Na maior parte do tempo, me diverti com o jogo e me perdi em seu mundo. Essa fórmula clássica da Bethesda está datada, e eu esperava mais ousadia com este lançamento. Parece que eles queriam trazer diversos elementos, mas tudo ficou muito raso. O jogador não tem muitas escolhas na história, você pode ignorar diversos sistemas, e tanto o combate a pé quanto o combate espacial são bastante básicos. Também não recomendo seguir o conselho da própria Bethesda e focar na história principal. Claro que é interessante, e eles fazem um bom trabalho em gamificar o new game plus juntamente com a história, mas achei meio frustrante.
Meu conselho é que, se você está curtindo o jogo, jogue no seu tempo e foque nas coisas que te divertem. Há muito o que fazer em Starfield, ele é – aparentemente – ousado na superfície, mas quando você olha de perto, não toma muitos riscos e acaba sendo mais do mesmo, só que maior e mais bonito. Terminei a história principal e pretendo voltar para ele no futuro, quando tiver menos bugs, mais patches e mods que vão, com certeza, deixá-lo melhor.
