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Resistência: um visual lindo em um roteiro frouxo

Resistência foi uma das piores coisas que assisti esse ano – e olha que assisti muita produção horrorosa. Puxando uma proposta fajuta de pregar temas sobre libertação do oprimido, uma coisa meio anticapitalista e tal, assim como todos os outros que fazem o mesmo, parece ser mais uma desculpa esfarrapada para mostrarem – mais um vez – em tela branco atirando e matando povos não brancos. Em específico, os da Ásia, mas ignorando a Rússia, que eles sempre fingem que não faz parte do continente.

Nesse universo, as Inteligências Artificiais (IA) fazem parte do cotidiano até serem acusadas de terem papocado Los Angeles com uma bomba, matando milhares de seres humanos. Como retaliação, os EUA proíbem e banem essa tecnologia do Ocidente, mas falharam em obrigar a outra parte do globo, ou melhor, Nova Ásia. E, claro, eles não podem ser contrariados, então declaram guerra ao continente com a desculpa de terem a obrigação moral de extinguirem as IAs, que são uma ameaça enorme para a humanidade (de acordo com eles), além de criarem e construírem uma arma poderosa que o mundo inteiro e do qual ninguém consegue escapar.

O protagonista de Resistência é Joshua (John David Washington), um ex-agente dos Estados Unidos, que durante o seu tempo infiltrado na Nova Ásia acabou se apaixonando pelo seu contato em sua busca pelo Criador – pessoa que teria conseguido construir uma arma que acabaria com a guerra e, em teoria, a humanidade -, Maya (Gemma Chan), uma das líderes da resistência, que acaba morrendo pelas mãos do país que ele tanto jurou proteger, e ele passa os próximos cinco anos em luto quando é abordado novamente, sob a promessa de lhe entregarem a sua pseudofalecida esposa, que, de acordo com o exército estadunidense, sobreviveu.

Resistência é apenas mais um filme para engrandecer os EUA, desde o começo a trama aponta para como o país é poderoso e incrível, os salvadores do mundo, visto que eles banem do ocidente as IAs e vão guerrear com um continente que nada tem a ver com eles só porque decidiram que essa tecnologia é uma ameaça à humanidade. Ou seja, são a voz de Deus, com o poder de escolher por todo mundo o que é bom e o que é ruim. Assim como acontece na vida real. O que desperdiça toda a alegoria política que deveria haver na construção da narrativa, que parece mais ocupada com outras coisas. Em tese, poderíamos traçar um paralelo de Resistência com a Guerra do Vietnã – o que seria um dos poucos pontos interessantes. Outro seria o CGI, mas o que é uma boa tecnologia em uma história bosta?

Joshua segue a premissa do próprio país, só se importa com uma coisa: reencontrar Maya, pouco lhe importando quem ele mata ou quem morre no seu caminho até ela. Resistência tem, simplesmente, um dos protagonistas mais odiosos e intragáveis de todos, pois nem carisma o caba tem para suplantar o seu caráter duvidoso – que tentam pintar de cinzento. E olha que tentaram fazer tipo uma redenção para ele depois, que além de clichê, foi muito malfeita, com uma elaboração que parece ter sido criada por um adolescente de quinze anos que se acha genial. Também perderam a oportunidade perfeita para suscitar o tema do racismo por meio do protagonista – visto que é um ponto importante dentro da trama, pois, como antes dito, são brancos atacando povos não brancos -, mas, afinal, o que a produção aqui não deixou escapar pelos seus dedos gulosos e egocêntricos, não é mesmo?

A direção de arte faz um trabalho muito bonito aqui, e a trilha sonora envergonhada de Hans Zimmer daria um bom tempero, mas é desperdiçado completamente nas cenas, porque são fracas, os diálogos sofrem um pouco, há muita inconsistência. Aliás, você pode perceber claramente as milhares de fontes nas quais o roteiro mamou para chegar até ali, o que não seria um problema, porém, ao invés de parecerem inspirações, o que se percebe é que ele é só um recorte malfeito de todas essas obras, pintado para parecer original. A principal, claro, sendo as obras de Asimov, que é o clássico e o ponto de partida para a maior parte das produções de ficção científica.

Infelizmente, ao longo de duas horas e pouco somos obrigados a acompanhar o insosso e desagradável Joshua, cujo único traço de personalidade é ir atrás da esposa. A narrativa em si é mais furada do que queijo suíço, do que uma peneira ao sol, sendo xoxa, capenga, anêmica, frágil e inconsistente. Muito dela não faz sentido, se contradiz, dá voltas desnecessárias, é chatice atrás de chatice, e você fica o tempo todo questionando como tal coisa pode ser possível se lá trás do filme aconteceu coisa tal e tal… e coisas do gênero. Enfim, uma completa perda de tempo.

Inclusive, fica aqui a denúncia sobre o diretor, que foi o mesmo de Rogue One. E acho que por isso mesmo ele achou que poderia repetir muito da brutalidade desse filme em Resistência, mas acabou que não ficou muito bom, não. O longa pedir por uma amarração mais apertada sobre motivação para a utilização de tal força destrutiva, mas não houve, parecendo apenas que os EUA se satisfazem sendo genocidas gratuitamente mesmo. O que não deixa de ser verdade, convenhamos.

Resistência é o tipo de filme ao qual resistimos, que só serve como propaganda imperialista estadunidense pintada falsamente de revolucionária. E olhe lá.