One Piece One Piece

One Piece é político e tá tudo certo

Recentemente, surgiu na bolha do Twitter algumas pessoas que não têm gostado de conteúdos que abordam os aspectos políticos que o mangá de One Piece, escrito e ilustrado por Eiichiro Oda, possui. Mas assim, One Piece é uma obra política.

Lançado no final da década de 1990, o mangá ainda segue em publicação no Japão e no restante do mundo, e todos os arcos que a história desenvolveu possuem total entrelaçamento com os aspectos sociopolíticos de nossa sociedade. Não à toa que, após apresentar uma noção de companheirismo e busca pela liberdade nos primeiros arcos, Oda começa a tratar sobre assuntos que fazem parte de nossa história, como o genocídio, a censura, a escravidão e o racismo.

Ao pegar o bando dos Chapéus de Palha e os colocar como uma aversão ao que foram os piratas reais de nosso mundo, Oda inicia a construção do relacionamento do bando e a importância da jornada para começar a mostrar a verdadeira face do mundo de One Piece: o autoritarismo.

É claro que o autor dá início à sua história como um típico shonen, apresentando o mundo aos poucos, mostrando os poderes vindos das “Frutas do Diabo” e construindo o clímax com lutas entre os personagens principais e seus antagonistas em cada arco. Mas, ao chegar em determinadas partes da história, Oda começa a integrar mais conteúdos políticos em seus textos e subtextos.

O Governo Mundial, liderado pelo Gorosei – cinco velhos herdeiros de famílias antigas –, trabalha para ter o controle revisionista da história mundial, tendo um grupo de assassinos prontos para fazer parcerias com o submundo do crime ou mesmo eliminar aqueles que possam ser uma “pedra no caminho”, protegendo uma quantidade seleta de pessoas ao custo de milhões de vidas.

Ao mesmo tempo, Oda apresenta o conceito inicial dos Revolucionários, um grupo formado para libertar o povo das mãos autoritárias do governo. O desenvolvimento de mundo e de personagens faz com que o autor pincele, mesmo que aos poucos, sua maturidade ao trazer uma representatividade LGBTQIA+, com O-kiku ou mesmo Yamato.

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Dragon, líder dos Revolucionários.

Após o salto temporal de dois anos no universo, Oda retorna com tópicos extremamente sensíveis, como o subtexto por trás da história de Nico Robin: o genocídio. O racismo, o imperialismo, a violência familiar ou mesmo a mobilização social frente às questões impostas dentro do mundo de One Piece são pontos importantes para que o final da jornada de Monkey D. Luffy seja o que, provavelmente, é o tesouro tão buscado: a liberdade e o poder na mão do povo.

A vontade herdada, um dos principais temas que Luffy carrega, mostra que o ideal não alcançado por uma pessoa pode ser passado para outra mesmo que não haja nenhuma relação parental ou mesmo de amizade. O desejo de Joy Boy, que foi assumido por Gol D. Roger, acabou chegando ao personagem principal de Oda – numa filosofia em que o conhecimento é poder, e este deve ser libertador.

One Piece é um mangá consumido por milhares de diferentes pessoas, e de variadas faixas etárias, há anos. Jovens em formação social e política estão lendo o trabalho de Eiichiro Oda semanalmente, e falar ou não desses ideais que o autor coloca dentro da sua história vai de cada um – mas, em um país como o Brasil, que tem passado por uma crise humanitária, com a volta da fome, o aumento do desemprego e dos preços dos alimentos, liderado por um governo federal claramente incapaz, é quase impossível não associar à luta dos personagens dessa obra ficcional com a realidade.

Você pode aceitar ver dessa forma ou não. Pode consumir o mangá e gostar apenas dos combates entre os personagens, que nem são o foco da narrativa, mas ao dizer que One Piece não é uma obra política, aí você pode estar que nem o Zoro com relação ao senso de direção: totalmente perdido.